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Sem manutenção, Terminal Triângulo expõe problemas do transporte público de Porto Alegre

Pensando para ser um modelo de integração do transporte público na capital gaúcha, o Terminal Triângulo sofre com a falta de manutenção; um vendaval destruiu parte do telhado do terminal, os elevadores não funcionam, há assaltos na região e não há acessibilidade para deficientes físicos, reclamam os usuários do terminal

Pensando para ser um modelo de integração do transporte público na capital gaúcha, o Terminal Triângulo sofre com a falta de manutenção; um vendaval destruiu parte do telhado do terminal, os elevadores não funcionam, há assaltos na região e não há acessibilidade para deficientes físicos, reclamam os usuários do terminal (Foto: Charles Nisz)
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Sul 21 - O desenho do Terminal Triângulo, construído na Avenida Assis Brasil, no bairro Sarandi, lembra a arquitetura de uma estação moderna da Europa. Quando o projeto foi pensado em 1995, nove antes de ser inaugurado, era para ser um modelo do transporte público do futuro que Porto Alegre buscava. A ideia incluía integração tarifária, atendimento de linhas diretas em direção ao Centro e projetos de qualificação dos ônibus que circulavam na Avenida Sertório e na Assis. Porém, com a falta de manutenção e consertos, o local hoje mais parece uma ruína.

O telhado, descoberto em boa parte, está assim desde que um forte vendaval atingiu a região em dezembro de 2014. Quando há chuva, os usuários não tem para onde correr. Três anos depois, sem conserto por parte do poder público, as telhas que sobraram ainda viraram risco. “Outro dia, uma quase atingiu a cabeça de uma senhora idosa, que estava parada aí na fila”, conta uma funcionária da Carris que pediu para não ser identificada.

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Os elevadores não funcionam há mais de um ano. Não há rampas ou qualquer outra forma de acessibilidade para cadeirantes ou pessoas idosas com dificuldade de locomoção. “Cadeirante aqui tem que pedir ajuda, contar com quem quiser ajudar na hora”, diz um funcionário de outra empresa de transporte.

O nome de “triângulo” vem dos três pontos de ônibus que compõe o Terminal. Todos os dias, cerca de 38 mil pessoas circulam pelo local, que tem mais de 100 linhas de integração que circulam na Capital e região metropolitana, de Alvorada, Cachoeirinha e Gravataí. Os números foram apontados em um estudo de demanda de passageiros da EPTC (Empresa Pública de Transporte e Circulação).

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Há outros problemas, além da infraestrutura, no local. O túnel que liga os pontos de ônibus, por exemplo, se tornou ponto frequente de assaltos. Um segurança, que trabalha no local, conta que há poucos meses, uma jovem que trabalha no shopping do outro lado da rua, foi estuprada, quando ia pegar o ônibus, por volta das 22h. Há mais relatos do tipo, segundo outras pessoas ouvidas pela reportagem. Quando o Sul21 esteve no local, a única segurança presente eram funcionários contratados pela ATP (Associação dos Transportadores de Passageiros).

"A gente não vê nada de segurança. A maioria das pessoas que estão aqui são pessoas pobres, domésticas, idosos, pessoas que precisam trabalhar. Mas chegam aqui e, não adianta, é assalto”, diz Caren Rejane da Silva.

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Há 4 anos, ela paga o aluguel e sustenta dois filhos vendendo café e lanches no Terminal. Todos os dias, Caren chega ao local por volta das 4h40, quando começa o movimento. No ano passado, ela conta que deu entrevista a uma equipe de televisão e convidou o prefeito Nelson Marchezan Jr. (PSDB), para que viesse tomar um café e ver a situação do Triângulo. Na época das campanhas eleitorais, segundo ela, vários candidatos passaram por ali “para tirar fotos”.

“Vem tudo que é político para cá, dizendo que vai arrumar isso e aquilo, pedindo voto, mas nunca arrumam. Vou dizer bem sinceramente, eu não voto mais em ninguém. Quando chove aqui a gente se molha, no inverno é muito frio, tudo aberto”.

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Sem estrutura, com aumento

A situação do Triângulo é uma das mais críticas, mas não é exceção em Porto Alegre. Percorrendo a Avenida Sertório, a poucos quilômetros de distância, em terminais de ônibus menores, também é possível perceber problemas de limpeza, segurança, falta de acessibilidade e destelhamento. Enquanto o mobiliário urbano apresenta problemas de infra-estrutura, na semana passada, a ATP divulgou o pedido de reajuste que colocaria a passagem de ônibus em Porto Alegre para R$ 4,54.

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Como a manutenção do mobiliário é responsabilidade da prefeitura, o aumento não ajudaria com questões de infraestrutura. “O custo de terminais e paradas não está na tarifa, ele é dá infraestrutura. Hoje, 3% do valor da passagem vai para a EPTC, que ela usa para gestão do sistema. A gente alerta onde tem deficiências do sistema, para criar movimento maior e no que pode auxiliar, auxilia”, explica Gustavo Simionovschi, diretor executivo da ATP.

Segundo ele, o aumento sugerido pela ATP é para compensar a diminuição no número de passageiros pagantes e gratuidades. No cálculo da Associação, a cada três passageiros de ônibus em Porto Alegre, dois pagam a passagem do terceiro. Simionovschi afirma que, sem as isenções, a tarifa de ônibus seria de R$ 2,90.

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Antes mesmo do início do governo Marchezan, a Associação visitou o Triângulo junto com o atual secretário da EPTC Marcelo Soletti, para fazer um levantamento da situação. Mas o tema não voltou a ser tratado, segundo o diretor.

O Consórcio Mob, um dos que opera linhas no Triângulo e que realiza reuniões periódicas no local, diz que a situação “preocupa, porque se trata de um grande terminal”. A segurança é o objetivo maior. Em reuniões realizadas com a prefeitura, o governo fala apenas de dificuldade financeira e de uma licitação que deve ser feita.

Em nota, a EPTC explica que a última licitação para reforma e manutenção da cobertura e estruturas do Terminal Triângulo foi cancelada em janeiro do ano passado, porque a empresa vencedora desistiu. Não houve nova licitação ainda porque “dificuldade de obtenção de recursos para investimentos e custeios do orçamento municipal, não está sendo possível a publicação de nova licitação até o momento”.

A empresa cita ainda o projeto de parcerias público-privadas (PPPs), anunciadas no início do ano passado pelo governo, que incluíriam estudos sobre o terminal e afirma que a prefeitura cadastrou pedido de recursos junto ao Ministério das Cidades para reforma “de vários equipamentos e mobiliários de transporte”. “Sobre os assaltos, a EPTC já contatou com a área da segurança para reforço no local”, segue o texto.

Para quem depende do transporte público todos os dias, o valor proposto para a nova tarifa não corresponde a qualidade do serviço que vem sendo oferecido.

“Não vale [esse valor]. Os ônibus não têm condições, principalmente na época de verão. É uma carroça, a pessoa que já está doente fica mais doente ainda pelo calor”, diz o aposentado Nilson Santos da Silva. Ele conta que já viu outras pessoas idosas passando mal dentro do transporte. Há pouco tempo, ele mesmo quase sofreu uma lesão. Numa freada, quando se preparava para descer na próxima parada, acabou caindo e machucando a costela.

“Se chegar a esse valor, vai ser bem complicado. Pego dois ônibus para ir e para voltar, além de todos os deslocamentos da faculdade, curso de inglês, o valor já está acima do esperado, não tem ônibus bom sempre, várias vezes estraga no meio do caminho. Vai ficar muito injusto”, avalia a estudante de Direito, Natália Rolim.

Embora o subsídio dos rodoviários seja incluído no cálculo da tarifa da ATP para o aumento, o cobrador João Batista, que trabalha em uma das empresas privadas do Triângulo, afirma que, para eles, o valor nunca é compensado.

“Nosso aumento foi ilusório. O ticket alimentação aumentou R$ 0,75, o salário aumentou 1,5%, juntando tudo dá R$ 20. No cartão médico, que aumentou R$ 10, já foi mais que o próprio salário. Tinha que ser justo, se vai aumentar o valor da passagem, aumenta para quem trabalha também”.

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