Dois anos depois, Congresso conclui plano: terminou a sangria, diz Greenwald
"O aspecto mais marcante dos últimos dois dramáticos anos na política é que o áudio de Jucá – outro dos aliados mais próximos de Temer – no qual ele descreve claramente os reais motivos e objetivos do afastamento de Dilma, foi revelado em meio à crise do impeachment. Remover Dilma, disse Jucá pensando que falava em segredo, permitiria um 'pacto nacional' – endossado pelo STF, a mídia corporativa e os militares – através do qual a investigação seria liquidada, e o país poderia seguir em frente", escreve o jornalista Glen Greenwald, editor do The Intercept Brasil
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247 - O jornalista Glen Greenwald, editor do The Intercept Brasi, diz que a salvação de Temer no Congresso foi a última manobra dos corruptos para "estancar a sangria", como proposto pelo senador Romero Jucá.
Confira abaixo trechos do texto:
Em Brasília, tudo é possível. Ontem, a mesma Câmara dos Deputados que no ano passado votou pelo impeachment de Dilma, teve que decidir se suspendia Temer e o levava a julgamento por corrupção. Por um placar de 263 a 227 votos, os deputados se recusaram a fazê-lo, assegurando que Temer permaneça no poder. A votação de ontem foi presidida pelo sucessor de Cunha, o deputado Rodrigo Maia, do DEM (Democratas); Maia, é claro, está fortemente envolvido nas investigações sobre a corrupção no país.
Os mesmos pomposos deputados de direita e de centro que doze meses atrás se disfarçaram, sem nenhum pudor, com os trajes da ética, da religião e da moralidade se juntaram para garantir que seu criminoso de estimação, que governa o país, não sofra qualquer consequência. Agora ele não poderá sofrer as acusações até que deixe o cargo.
O ASPECTO MAIS MARCANTE dos últimos dois dramáticos anos na política é que o áudio de Jucá – outro dos aliados mais próximos de Temer – no qual ele descreve claramente os reais motivos e objetivos do afastamento de Dilma, foi revelado em meio à crise do impeachment. Remover Dilma, disse Jucá pensando que falava em segredo, permitiria um “pacto nacional” – endossado pelo STF, a mídia corporativa e os militares – através do qual a investigação seria liquidada, e o país poderia seguir em frente.
Depois da revelação desta gravação comprometedora, Jucá teve que renunciar ao Ministério do Planejamento, que havia recebido de Temer; mas sua renúncia tece curta duração, porque todos – juízes, generais, e apresentadores dos telejornais – sabiam que o enredo que ele descreveu realmente era aquele que todos haviam assinado quando removeram Dilma. Logo depois, Jucá se tornou o líder do governo de Temer no Senado. E o enredo que ele descreveu tão perfeitamente – para liquidar as investigações e proteger e dar poder aos criminosos – tinha sido seguido à risca, culminando na votação de ontem para proteger o Criminoso Supremo.
Alguns meses atrás, o mesmo congresso que fingiu indignação com a manobra orçamentária de Dilma aprovou leis para enfraquecer as investigações sobre a corrupção, e agora há rumores de que políticos corruptos poderão processar o Procurador que os indiciou. Exatamente como nos Estados Unidos – onde as únicas pessoas que vão para a prisão por crimes de guerra são aquelas que os expõem – com raras exceções, as únicas pessoas que pagarão um preço pela corrupção sistêmica do Brasil são aqueles que a expuseram. Esse era o esquema em todo o percurso da remoção de Dilma, e ninguém sequer se incomoda em negar. Como podem?
Mas em um sentido muito mais profundo, o que eles fizeram é uma tragédia difícil de engolir: milhões de seres humanos, nascidos em uma sociedade terrivelmente estratificada, que não tiveram qualquer perspectiva por gerações, finalmente tiveram, durante a última década, um lampejo de esperança, para agora vê-la sendo engolida e extinta pela mesma classe dominante de ladrões e mentirosos, os únicos responsáveis pela eterna situação de desigualdade e miséria para a maioria.
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