As ruas sangrentas do Egito
Não foi por falta de análises ou avisos. A tragédia pela qual o Egito está passando era esperada
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Não foi por falta de análises ou avisos. A tragédia pela qual o Egito está passando era esperada.
Até fechamento desse texto, ao menos 280 pessoas morreram – sendo 235 civis (dois jornalistas). Foi o dia mais violento do país desde a queda do faraó Mubarak, em 2011.
O depósito de pólvora explodiu quando forças de segurança foram desmontar acampamentos de membros da Irmandade Muçulmana (IM), grupo político do ex-presidente Mohamed Morsi, democraticamente eleito e que sofreu um golpe dos militares em 3 de julho.
Desde essa data, militantes da IM disseram que não deixariam as ruas até seu presidente voltar para a cadeira poderosa. As Forças Armadas não acreditaram. Deu no que deu.
Após a escalada de violência, o vice-presidente, o Nobel da Paz Mohamed El Baradei, renunciou. Baradei foi um dos grandes incentivadores da botinada militar que Morsi recebeu em julho. Ironia do destino.
O governo interino decretou estado de emergência, "a princípio", por um mês. Assim, estão proibidos protestos, assembleias populares e as comunicações sofrem interferência estatal. O Egito "viveu" assim de 1967 até 2012. Em janeiro de 2013, Morsi retomou brevemente esse status.
O toque de recolher também foi imposto. As ruas precisam ficar desertas das 7 da noite às 6 da manhã. Quem não cumprir será preso imediatamente.
Logo no início desta quarta, tratores e veículos blindados foram desmantelar os acampamentos do pessoal pró-Morsi. Em uma das empreitadas, perto da mesquita Kabaa al-Adawiya, no Cairo, a resistência dos manifestantes surpreendeu a polícia, que pediu ajuda aos militares. O circo de horror estava pronto para entrar em ação.
Dias atrás, o ministro da Informação do Egito falou que as tendas dos membros da IM eram uma "ameaça à segurança nacional e atrapalhavam o trânsito". Analistas apontaram que o quadro da terra dos faraós era diferente da Síria de Assad, o sanguinário. Isso já não pode ser dito depois desta trágica quarta.
Enquanto a IM não for chamada novamente à mesa de negociações, como adiantou este Planeta Política, a crise vai continuar. E pelo que vimos, ficará mais violenta.
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