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Bolsonaro tem sorte em ter por perto tal vizinho como Venezuela, diz economista

Quem avalia é o economista russo Aleksandr Chichin ao comentar o fato de Jair Bolsonaro (PSL) ter usado a imagem da Venezuela como a de miséria; "Foi possível construir uma política falando que caso deixássemos no poder tais pessoas como Lula e Dilma, ou seja, o PT, degradaríamos até à situação da Venezuela. Foi precisamente um 'espantalho' para o eleitorado brasileiro", frisou

Bolsonaro tem sorte em ter por perto tal vizinho como Venezuela, diz economista (Foto: Ag. Câmara)
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Ekaterina Nenakhova, Agência Sputnik - Fim da "ideologização" do Itamaraty, novo fôlego para a economia, investimentos e prosperidade – eis as perspectivas radiantes que promete ao Brasil o novo presidente, Jair Bolsonaro. Será que essas propostas terão o mesmo perfil na prática e não apenas em declarações hipotéticas?

Encaixado no sistema

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Na imprensa internacional já virou tradição comparar a figura do ex-capitão com o atual líder dos EUA, Donald Trump. Um dos motivos para comparação é o fato dos dois políticos "ficarem fora do sistema", ou seja, não representarem o habitual establishment político. Entretanto, na opinião do economista Aleksandr Chichin, diretor da Faculdade de Ciências Econômicas e Sociais da Academia da Economia Nacional e Serviço Público junto à Presidência da Rússia, estas avaliações têm pouco a ver com a realidade.

"Ele é um candidato bem do sistema, foi nomeado pelo PSL. Mas o mais importante é o fato dele ser um candidato do exército, sem dúvida, precisamente do exército. Porque o exército é uma espécie de instituição que cria maior confiança na sociedade. Acredita-se que o exército disfruta da confiança de 80% dos brasileiros", manifestou o interlocutor da Sputnik Brasil.

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Na opinião do especialista, a ditadura militar, que acabou há mais de 30 anos, não faz parte do imaginário da geração mais nova dos brasileiros, o que permitiu a Bolsonaro usufruir da respectiva confiança em seu favor nas condições de "caos e crime desenfreados". Chichin relembrou ainda que não se trata apenas da Presidência, pois a presença dos militares em diferentes instituições do Legislativo aumentou quatro vezes em comparação com a composição anterior.

"Infelizmente, elas [as forças de esquerda] perderam estas eleições, e pela primeira vez a ditadura chegou não através de golpe militar, mas sim do pleito democrático", opinou o economista, adiantando que agora ao poder chegaram "os oligarcas e os políticos vinculados com oligarcas" que rechaçarão os programas sociais e redistribuirão os serviços para o bem das camadas mais ricas.

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Revitalização da economia

Na noite de ontem (28), logo após a notícia da vitória de Bolsonaro, o dólar começou a cair e atingiu o valor menor a R$ 3,60 pela primeira vez desde maio. Embora logo tenha começado a crescer de novo, o ocorrido provocou numerosos elogios por parte dos simpatizantes do presidente eleito, que afirmam que este "nem começou a governar", mas já começou a "resgatar" o país da crise.

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O economista entrevistado pela Sputnik, porém, não compartilha uma visão tão otimista.

"Este é um assunto muito complexo, ele tem a ver com os interesses estadunidenses e chineses, até porque há grande presença precisamente da China e do capital chinês no Brasil. Enquanto por seu perfil Bolsonaro é Trump, e ele terá que ir se desviando para o lado dos EUA com cautela, mas ao mesmo tempo sem se separar da China ou reduzir a presença chinesa na economia brasileira. Contudo, será bem difícil", disse, sublinhando que Washington evidentemente tentará "puxar" Brasília para sua zona de influência.

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Falando da figura do economista neoliberal da Escola de Chicago, Paulo Guedes, o especialista prognostica um crescimento nítido, de um ou dois por cento do PIB, mas não está confiante em um "milagre econômico" como o da década de 70 do século passado.

Ao longo da sua campanha, Bolsonaro tem usado muito a imagem da Venezuela como a de miséria e muitas vezes deixou clara sua intenção de cortar laços com o país, em tentativa de "desideologizar" o Itamaraty. Enquanto isso, Nicolás Maduro acabou sendo um dos primeiros líderes a parabenizar o presidente recém-eleito na noite de ontem.

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"Claro que aqui Bolsonaro tem sorte em ter por perto tal vizinho como a Venezuela. Foi possível construir uma política falando que caso deixássemos no poder tais pessoas como Lula e Dilma, ou seja, o PT, degradaríamos até à situação da Venezuela. Foi precisamente um 'espantalho' para o eleitorado brasileiro", frisou, acrescentando que o próprio Brasil na verdade se encontra em uma situação econômica deplorável, com um déficit público de quase 90% do PIB, ficando na América Latina apenas atrás de Caracas.

Alianças e cessações

Caracterizando a política exterior chinesa de "pouco confortável" para outros países, por essa ser vantajosa em primeiro lugar para a própria Pequim, Chichin assegurou que Bolsonaro "não tem escolha" e "terá que se aliar ao mais forte", querendo dizer os EUA.

"Nessa situação, ele vê os EUA como mais os fortes, e fará aposta neles [...] Sim, o governo anterior se orientou mais para a China, para os investimentos chineses, isso lhe permitiu realizar alguns projetos sociais, mas agora se tratará de redistribuição da renda a favor dos mais ricos, e a variante americana de governança será preferível para Bolsonaro. Está claro que ele terá que cortar os apetites dos chineses a favor dos maiores apetites dos norte-americanos", prognosticou.

Quanto ao próprio caráter desse relacionamento, se ele será mais parecido com um "patrocínio" ou um diálogo em pé de igualdade, o economista expressou uma possibilidade que isso pudesse depender inclusive do exemplo mexicano e, provavelmente, se inclinaria mais para a "pró-americanização" do Brasil.

"Isso também vai depender em algum sentido do México, de López Obrador, que começará um pouco antes de Bolsonaro, em 1º de dezembro [...] Mas o México já está se adaptando aos EUA, dá para ver. Se adapta do ponto de vista econômico, na atitude para com os migrantes. Bolsonaro fará a mesma coisa — ele vai reorientar os interesses econômicos para o lado americano e procurar investidores nos EUA", avaliou, dizendo que na América Latina aparecem cada vez mais países que voltam para a zona de "influência extrema" americana.

"Falta ainda terminar de sufocar a Venezuela economicamente. É claro que Bolsonaro não se considera como antagonista dos EUA, mas como um possível aliado que negociará condições mais vantajosas de cooperação econômica", ressaltou.

Fazendo uma ressalva sobre o futuro das relações sino-brasileiras, Chichin observou que o bloco BRICS poderá ser algo que as salvará do desmantelamento, por já existirem inúmeros compromissos e programas conjuntos entre os países no âmbito do bloco. Enquanto isso, todos os projetos novos se redistribuirão a favor dos investidores norte-americanos, concluiu.

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