Comunidade internacional desbloqueia US$ 15 bilhões líbios

Roberta Namour – correspondente do 247 em Paris – Após pouco mais de quatro horas de discussão a portas fechadas, o presidente Nicolas Sarkozy e o primeiro-ministro do Reino Unido, David Cameron, vieram a público na noite de ontem para pontuar as principais questões da conferência sobre a atual situação da Líbia. Ao lado do líder do Conselho Nacional de Transição (CNT), Moustapha Abdeljalil, e do secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, os europeus anunciaram algo óbvio e já declarado pelos rebeldes anteriormente. A revolução na Líbia foi organizada pelo próprio povo. Cabe a ele agora decidir o futuro do país e o destino de Muammar Kadafi. « Não haverá caos com a queda do regime, como dizem. Os líbios já deram provas de coragem e de determinação », disse Cameron. Os países participantes do encontro confirmaram o desbloqueio de 15 bilhões de dólares de fundos líbios para financiar o desenvolvimento da Líbia. « Esse dinheiro foi desviado por Kadafi e deve ser devolvido ao povo », disse o presidente da França. E mais uma vez, os dirigentes europeus disseram que o modo com que essa verda será usada cabe exclusivamente ao CNT.

Quanto à comunidade internacional, os países se comprometeram a dar todo a ajuda humanitária possível. « Todos concordamos que o momento é crítico e que devemos nos juntar em um programa de ação coordenado para não haver desperdício de esforços e dinheiro », disse o secretário-geral da ONU. Reforços médicos e equipes de suporte educacional devem chegar ao país nos próximos dias. A Grécia ofereceu sua experiência para solucionar o problema de racionamento de água. Além disso, a ONU já pensa na organização das eleições e na criação de uma constituição.

A ofensiva comandada pela Otan irá continuar, até que Kadafi não represente mais uma ameaça, como disse Sarkozy.« O mundo acreditou nos líbios e os líbios deram prova de sua seriedade. Agora, peço ao nosso povo que cumpra o que foi prometido, com tolerância e sem atos de vingança », disse Abdeljalil. Segundo ele, ninguém quer rever as atrocidades cometidas pelo regime de Kadafi, como estupros, pessoas queimadas vivas e o sofrimento das crianças.

Questionado sobre a falta de acordo da comunidade internacional sobre a transição do poder na Líbia, o presidente Nicolas Sarkozy garantiu que os países estão mais integrados do que nunca. « Até um representante da Argélia compareceu para transmitir uma mensagem de apoio do presidente. Isso me deixou muito satisfeito », disse Sarkozy. Segundo ele, no início da cruzada contra Kadafi, o grupo contava com o apoio de pouco mais de 20 países. A conferência de hoje teve a participação de 63 nações, incluindo a China, a Rússia, a Índia e o Brasil, como ressaltou o presidente da França. Porém, muitos desses países ainda não se pronunciaram a respeito, como é o caso do Brasil. Resta a saber qual será o preço do excesso de confiança dado aos líbios.