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O Islã, civilização do entusiasmo

Aparentemente entusiasmado, levantando o dedo para cima (ou para o Nada), o folião talvez seja o mais vazio dos seres humanos

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David Cronemberg, cineasta canadense e diretor de A Mosca (1986), Calafrios (1975), Videodrome (1983) e tantos outros, tarado por próteses, corpos estranhos e organismos bizarros, fez um filme – Um Método perigoso (2011) – sobre um triângulo amoroso envolvendo Sigmund Freud (criador da psicanálise e autor de Interpretação dos Sonhos, Totem e Tabu e outros milhões de livros e ensaios) e Carl Gustav Jung (mago, psiquiatra, mitólogo e pesquisador de idéias e conceitos como sincronicidade e inconsciente coletivo). Parece excitante, mas não recomendo. Falta pegada.

Fred e Jung tinham lá suas diferenças, mas sabiam da importância da sexualidade bem resolvida pro desenvolvimento saudável de qualquer indivíduo. Freud era ainda mais tarado que Jung e considerava que tudo era sexo – do bebê segurando a mamadeira ao velho tirando a dentadura. Pra Jung, também não era tanto. Ironicamente, Jung era mais mulherengo.

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Freud, Jung e os psicanalistas chamam essa energia vital, essa mágica, esse algo mais, de libido. Pra Nietzche, é “vontade de potência.” Ou simplesmente tesão. Tesão pela vida, vontade de ser criativo, de, literalmente botar pra foder. Fazer samba e amor até mais tarde. Estar inspirado. Criar, criar profusamente, sem rédeas, sem amarras. Ter idéias mirabolantes. Como dizem os crentes, profetizar. Os teólogos chamam esse amor à vida simplesmente de entusiasmo, que vem do grego e significa “ter um deus dentro.”

Bonito isso, ter um deus dentro. Mas já que estamos falando dessa cambada de pirados, pense numa interpretação psicanalítica dos nossos símbolos mais íntimos, que são os profetas. Imagine o entusiasmo de Zaratustra, Moisés, Jesus, Maomé. E pense agora de onde veio tudo isso, o princípio. Vamos falar daquela gota de esperma, lá no começo. A história é contada pelo escritor Reza Aslam em No god but God, publicado pela Random House Trade Paperbacks:

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Como no caso de muitos profetas, o nascimento de Muhammad foi acompanhado por uma série de sinais e portentos. Al-Tabari escreve que enquanto o pai de Muhammad, Abdallah, estava indo encontrar a noiva, foi parado por uma mulher estranha que, vendo uma luz brilhante nos seus olhos, ordenou que dormisse com ela. Abdallah polidamente recusou e continuou até a casa de Amina, onde consumou o casamento que resultou no nascimento do profeta. No dia seguinte, quando Abdallah viu a mesma mulher de novo, perguntou: “Por que não me faz hoje a mesma proposta que fez ontem?” A mulher responde: “A luz que havia em seus olhos ontem foi embora.”

Eis aí a versão literal do entusiasmo, esse momento glorioso vivido por Abdallah. Naquela noite sentiu-se tão poderoso que pôde exercer o velho axioma político: “Poder e não fazer é poder duas vezes.” Aquele brilho nos olhos, quanta coisa ali dentro. Mas o que quero dizer é que Maomé teve um pai biológico. Jesus, não. Fora certas teorias como as aventadas em A Última Tentação de Cristo (1988), de Scorcese, e o escalafobético O Código da Vinci (2006), não se costuma especular demais sobre a veracidade da lenda contada no Novo Testamento.

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Pombas não engravidam virgens. Tudo muito simbólico e metafórico, ótimo, mas se Jesus existiu mesmo, de algum lugar deve ter saído. O que abre uma nova possibilidade de escrutínio pros fofoqueiros e estudiosos das escrituras. Senão José, nem a pomba, quem? Seria a origem de Cristo uma fraude, uma mentira que ganhou proporções incontroláveis?

José, o mais abnegado dos seres humanos, não duvida de nada. Acredita até o fim na versão “foi uma pomba que me visitou outro dia.” É jogado pra escanteio nas escrituras e Jesus faz questão de sempre deixar claro que o seu Pai é outro. A certa altura do campeonato, quando fica muito popular, nem dá pelota pra família. Talvez, se tivesse vivido mais tempo e ido ao psicanalista, pudesse falar sobre isso. Nem tudo que fazemos na juventude é assim tão perfeito, a despeito do que fica escrito.

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José foi privado de sua cota de entusiasmo, e talvez o mesmo venha ocorrendo a toda a civilização ocidental, no sentido freudiano. Crise nos Estados Unidos. Crise na Europa. Desemprego. Um terço dos espanhóis sem trabalho, as praias lotadas durante a semana. Governos com dívidas imensas contraídas em gestões irresponsáveis. Quem está faltando pra botar ordem nesse pardieiro? Um pai! O ocidente está órfão!

Porém, nem tudo são flores quando que se está entusiasmado. Geralmente associado à juventude, enquanto na maturidade se desfruta um saudável relativismo e um imobilismo calculado, o entusiasmo da cultura islâmica pode infelizmente, e por conta de uma minúscula minoria, cair no fanatismo. Só alguém com muito deus dentro pra se explodir em nome Dele, pra jogar aviões em cima de arranha céus em Sua homenagem.

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Por essas e outras os conservadores no ocidente alegam que os iranianos não podem ter a bomba atômica. Qual o discurso de Israel, o Estado que fala em nome de Davi, outro profeta bíblico? “Eu posso ter a bomba atômica porque sei que nenhum judeu vai se atrever a asneira de soltar primeiro. Mas vocês não podem, porque são muito entusiasmados!” Quer dizer, vai saber se todo muçulmano tem a retidão moral do pai do profeta!

Slavoj Zizeck já sugeriu que o Islã em muitos casos se comporta como uma civilização hiper sexualizada. Submeter a mulher a tanta roupa, tanto pano, só pode significar que os homens ficariam loucos e cometeriam barbaridades se vissem uma lapa de pescoço ou um osso de canela. Há de se resguardar a fêmea desses lunáticos que andam por aí com um deus dentro, como Abdallah há catorze séculos.

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Por outro lado, a permissiva cultura ocidental banalizou a tal ponto a sexualidade que no carnaval, por exemplo, somos assolados por centenas de milhares de tetas e bundas balançando. Aparentemente entusiasmado, levantando o dedo para cima (ou para o Nada), o folião talvez seja o mais vazio dos seres humanos.

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