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'Reviravolta incomum': o que está por trás do tratado de paz firmado entre Israel e EAU?

Mediado pela administração Trump, o chamado Tratado Abraão abre novo mercado para venda de armamentos dos EUA no golfo Pérsico

(Foto: REUTERS/Ammar Awad)
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Sputnik

A Sputnik Brasil explica por que Israel e os países do golfo Pérsico se consideram do mesmo lado da trincheira dos conflitos geopolíticos do Oriente Médio e conversou com especialista de peso para entender essa "reviravolta incomum" nas relações internacionais.

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No próximo dia 15 de setembro, delegações de Israel e dos Emirados Árabes Unidos (EAU) vão se reunir em Washington, para celebrar um evento histórico: a assinatura do acordo de normalização de relações diplomáticas entre os países.

Após 18 meses de negociações e 49 anos de inimizade e bloqueios econômicos, os EAU são o primeiro país do golfo Pérsico a estabelecer relações diplomáticas com Israel.

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Mediado pela administração Trump, o chamado Tratado Abraão abre novo mercado para venda de armamentos dos EUA no golfo Pérsico.

"Não é por acaso que esse acordo está sendo classificado como um verdadeiro marco", disse à Sputnik Brasil Irina Zvyagelskaya, diretora do Centro de Pesquisa sobre Oriente Médio do Instituto de Economia Mundial e Relações Internacionais Primakov da Academia de Ciências da Rússia (IMEMO-RAN, na sigla em russo).

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Inimigo do meu inimigo é meu amigo

Para Zvyagelskaya, a aproximação entre os rivais históricos pode estar associada à emergência de um inimigo regional comum.

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"Tanto as monarquias do golfo Pérsico quanto Israel encaram o Irã como uma ameaça existencial", explicou Zvyagelskaya.

Desde 2014, a Arábia é palco de conflito travado no Iêmen, no qual coalisão liderada pela Arábia Saudita luta contra milícias locais apoiadas pelo Irã.

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Soldados iranianos durante cerimônia em homenagem ao Aiatolá Khomeini (foto de arquivo)

"As monarquias do golfo Pérsico [...] acusam o Irã de apoiar as comunidades xiitas locais, de forma a desestabilizar a região."

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Outro país que "encara o Irã de maneira muito negativa" é o suposto inimigo histórico das monarquias árabes: Israel.

"Israel encara o programa nuclear iraniano [...] e o apoio de Teerã a milícias como o Hezbollah como ameaças muito sérias", explicou a especialista.

Portanto, a região se encontra em "uma situação muito interessante, na qual as monarquias árabes [...] e Israel têm interesses coincidentes".

Saída dos EUA da região

Além da ascensão do Irã, a intenção norte-americana de reduzir sua presença militar na região agrava percepção de insegurança das monarquias do golfo Pérsico.

"O mundo árabe se acostumou com a presença de parceiros externos que fornecem apoio" na área de defesa, explicou Zvyagelskaya.

"Atualmente, a península Árabe está orientada para os EUA: existe uma significativa presença militar norte-americana na região", lembrou.

No entanto, as monarquias árabes "temem que os EUA não estejam mais comprometidos com a sua segurança" e possam deixá-las "sozinhas, face a face com o Irã". Por isso, as elites árabes estariam interessadas em "buscar outros parceiros".

"Um defensor externo possível, por mais paradoxal que possa parecer, é Israel", declarou Zvyagelskaya. "Estamos diante de uma reviravolta incomum."

Para ela, os países do golfo Pérsico podem "encarar Israel não como um substituto" aos norte-americanos, mas como uma "força externa complementar, capaz de fornecer auxílio no setor de defesa".

Armas para Emirados Árabes Unidos

O Tratado Abraão abre as portas para o apoio técnico-militar norte-americano aos EAU, cooperação até então dificultada pela rivalidade entre os Emirados Árabes Unidos e Israel, tradicional aliado dos EUA. 

"O fato de os EUA terem prometido auxílio [militar] com certeza foi um dos fatores que motivaram os EAU a aceitarem a normalização" das relações diplomáticas com Israel, ressaltou Zvyagelskaya.

Menos de uma semana após o anúncio do acordo, em 18 de agosto, a mídia israelense reportou que os EUA se preparavam para fornecer caças F-35 aos Emirados Árabes.

Para Zvyagelskaya, dificilmente Netanyahu não teria concordado com o fornecimento dos caças F-35 aos EAU. Mesmo assim, "essa questão escancarou algumas contradições do acordo".

"Mas quando o assunto veio a público, o tratado passou a ser alvo de críticas" pela opinião pública de Israel, que questionou a conveniência de "fechar os olhos para o fato de que [os EAU] vão adquirir sistemas e aviões militares modernos".

Apesar da polêmica, "muitos israelenses apoiam a normalização, considerando-a um passo positivo, que finalmente [...] suspenderá o estado de guerra".

Além disso, os "Emirados Árabes Unidos aceitaram Israel [...], apesar da questão palestina estar pendente".

Questão palestina

Antes do anúncio do acordo, o governo israelense considerava a possibilidade de anexar porções significativas da Cisjordânia, território que, de acordo com a Resolução 181 da Organização das Nações Unidas (ONU), pertence à Palestina.

Enquanto autoridades dos Emirados Árabes Unidos dizem que o Tratado Abraão "interrompe imediatamente" os planos de anexação israelenses, líderes em Tel Aviv preferem dizer que o acordo "suspende" a anexação da Cisjordânia. 

"Os Emirados Árabes Unidos argumentam que, ao fecharem o acordo, atuaram como verdadeiros defensores da Palestina, evitando que Israel anexasse mais uma parte da Cisjordânia", esclareceu Zvyagelskaya.

No entanto, a retórica não convenceu, pois "os palestinos receberam [a decisão dos EAU] muito mal e fizeram críticas contundentes, chamando-os de colaboracionistas e traidores", disse a especialista.

Portanto, "do ponto de vista da questão palestina, o acordo entre Israel e Emirados Árabes Unidos é uma verdadeira ruptura", acredita Zvyagelskaya.

"É um marco não só para os israelenses, mas também para os países do golfo Pérsico, que ultrapassaram uma barreira psicológica muito importante", ponderou.

Próximos países

A administração Trump declarou estar confiante de que outros países da região vão seguir o exemplo dos Emirados Árabes Unidos e normalizar relações diplomáticas com Israel.

Para Zvyagelskaya, candidatos prováveis são o Omã, "que tem uma relação aceitável com Israel", e Bahrein.

"Mas com certeza nada será feito sem a aquiescência da Arábia Saudita", notou.

Os sauditas teriam sinalizado a Israel que uma "normalização das relações pode ser feita", mas de forma menos oficiosa e pública.

"Para os sauditas, [...] a normalização teria que ser feita de forma a não macular [a sua imagem]. Mas é inegável que haja uma aproximação entre as partes", disse Zvyagelskaya.

Apesar da tendência de aproximação, a questão da anexação da Cisjordânia ainda é o calcanhar de Aquiles da normalização das relações diplomáticas entre o golfo Pérsico e Israel.

"Não é possível anexar e normalizar as relações diplomáticas [com árabes] ao mesmo tempo", ponderou a especialista.

Portanto, "se o governo de Israel tomar alguma medida radical" referente à anexação, "isso pode interromper a tendência de normalização. Eu não excluo essa possibilidade", concluiu Zvyagelskaya.

Em 13 de agosto, Israel e EAU anunciaram a conclusão de negociações sobre acordo de normalização das relações diplomáticas, mediado pelos EUA. No dia 31 do mesmo mês, o primeiro voo comercial da história foi realizado entre os países, passando pelo espaço aéreo da Arábia Saudita. A assinatura do acordo está prevista para o dia 15 de setembro, na sede do governo norte-americano.

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