Esquenta a fritura: Nassif prevê queda de Guido
Jornalista prximo ao Palcio do Planalto, Luis Nassif condena salto alto do ministro da Fazenda, atingido hoje por escndalo sobre a filha Marina, e diz que excesso de vaidade compromete decises de poltica econmica; a senha para sair?
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247 - O ministro da Fazenda, Guido Mantega, não tem tido vida fácil. Desta vez, reportagem da revista Veja revela que lobistas, em Brasília, estariam usando o nome de sua filha, Marina Mantega, para fechar negócios bilionários no Banco do Brasil e na Caixa Econômica Federal, duas instituições subordinadas ao Ministério da Fazenda. A reportagem menciona até uma operação específica: um empréstimo de R$ 1,6 bilhão para o grupo Bertin, um dos principais do País na área de carnes e leite.
A denúncia chega na esteira do desgaste provocado pela demissão do presidente da Casa da Moeda, Luiz Felipe Denucci, da guerra interna no Banco do Brasil, e da descoberta do câncer da esposa do ministro. Não bastasse tudo isso, o jornalista Luis Nassif, próximo ao palácio do Planalto, publica artigo neste sábado criticando a vaidade de Mantega. Seria a senha para o ministro enfim deixar o cargo?
Leia, abaixo, o artigo de Nassif na íntegra:
Mantega: a personalidade individual por trás da pública
Algumas decisões de homens públicos podem ser explicadas por boas ou mas razões; outras, por injunções políticas; um terceiro grupo, um pouco mais difícil de ser identificado, pela personalidade individual por trás do homem público.
As notícias de hoje, dando conta de conflitos no Banco do Brasil como extensão de conflitos internos da Fazenda, permitiram encaixar a última pedra no quebra-cabeça Guido Mantega, Ministro da Fazenda.
Primeiro, as positivas. A idoneidade de Guido está acima de qualquer suspeita; tem mantido razoável coerência de ideias ao longo de sua vida acadêmica e pública.
Segundo, as características, digamos, neutras. Guido não é gestor, não tem o sentido de decisão que caracteriza as chefias eficazes. É um soldado do desenvolvimentismo - ocasionalmente assumindo as funções de general.
Tudo isso poderia ser facilmente contornado, se Mantega soubesse montar uma equipe e conviver com a competência alheia.
Mas aí entram suas características negativas: um coquetel mortal de vaidade temperada com uma insegurança atroz, fatal especialmente para quem ocupa cargos de comando.
Vestindo o salto alto
Essa vaidade manteve-se um tanto submersa em momentos em que não havia motivos para celebração – como no início do governo Lula, quando Mantega tornou-se Ministro do Planejamento. Mas já comprometia a eficiência.
Na época, Mantega abriu mão de quadros preciosos de gestão pública, técnicos dos mais gabaritados, pela incapacidade de conviver com o brilho dos subalternos.
Naquele início, havia dúvidas de monta sobre a capacidade gerencial do novo governo. Participei de um seminário na Fundação Getúlio Vargas, no qual um dos técnicos qualificados do Planejamento, Humberto Falcão Martins, fez uma apresentação excepcional sobre o modelo de gestão que se pensava implementar.
Um ou dois meses depois foi demitido, por incompatibilidade com o Ministro do Planejamento, Guido Mantega, um desperdício de quem tem mais compromissos com o ego do que com resultados.
O PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) poderia ter encontrado um ambiente muito mais organizado no Planejamento, com indicadores de qualidade e gestão, não fosse essa fraqueza de Mantega, de conviver com o brilho de subordinados.
O quiproquó da indecisão
Agora – pelo que se depreende do noticiário dos jornais – repete-se o mesmo processo na Fazenda, crises na Casa da Moeda, pela indecisão crônica de Mantega, ciumeiras internas extravasando para conflitos no Banco do Brasil e Previ, por desdobramento de suscetibilidades provindas da crise de 2008.
O país saiu-se bem na crise – mas o mérito maior não foi de Mantega. Houve reconhecimento explícito – inclusive da própria então Ministra Dilma Rousseff – de que o mérito foi da equipe mas, dentro da equipe, de personagens específicos. Bastou para despertar o monstro adormecido da vaidade.
Agora, depois de um ano de gestão Rousseff, afastou-se o fantasma inflacionário e Mantega não quer dividir méritos. Vestiu salto alto e passou a dar demonstrações explícitas de vaidade, como a superexposição na entrevista à revista Época. Ou então esse ridículo de se transformar em pregador global contra as guerras cambiais e ser incapaz de montar uma defesa eficaz para defender sua própria cidadela. Ou então recusando entrevistas a quem ousou enxergar o rei nu na crise de 2008.
Sua atuação na crise da Casa da Moeda foi acachapante. Sua atuação no caso BB, irresponsável. Tem-se uma organização secular, com vida própria, estrutura permanente de funcionários. Como toda organização complexa, há que se ter visão para impedir guerras intestinas, sensibilidade para as relações política. Em vez de atuar responsavelmente na pacificação, Mantega permitiu que as idiossincrasias internas do Ministério extrapolassem para a organização Banco do Brasil.
As perdas para a política econômica
Não sei o que se pensa atualmente no interior da Fazenda. Uma máquina que tinha interlocução, que soube por conta própria explicar a lógica da estratégia de 2008 - e, com isso, superar o derrotismo inculcado pela mídia - hoje se fechou intramuros.
É impossível que esse estilo egocêntrico de Mantega não esteja prejudicando a própria geração de ideias e a dinâmica interna da Fazenda e da política econômica.
Aliás, é inconcebível que uma pessoa a quem o destino conferiu missão tão relevante - de gerir a política econômica de um país prestes a se tornar potência - pense de forma tão pequena, como se fosse um mero diretor de departamento acadêmico.
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