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Brasília

Seca de Brasília queima terreiro socialmente ativo

Conheça a história da casa do caboclo Ventania, que agora tenta se reerguer por meio de financiamento coletivo na internet

Casa do caboclo Ventania, destruída pela seca de Brasília (Foto: Laís Vitória)
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Por Laís Vitória, especial para o 247 - “As religiões de matriz africana são intrinsecamente ligadas ao meio ambiente: eu preciso das plantas para curar, delas vivas e viçosas para banho de cura, para benzer crianças, folha para limpar a casa das pessoas”, explicou Mãe Dora de Oyá, que no dia 30 de setembro teve seu terreiro queimado naturalmente pela seca.

O quilombo Mesquita, que é próximo de seu terreiro, é onde ela encontra as ervas que precisa, assim como a água, já que lá há muitas nascentes. Por causa da ação imobiliária, dos fazendeiros, eles estão sempre unidos nas ações. “É uma cadeia”, disse a entrevistada, ao se referir ao fato que eles se fortalecem na luta para manter seus terrenos. 

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“Com Alphaville, eles criaram o terror aqui. O quilombo tem 180 anos, mas a ação imobiliária é cruel. É muito difícil ser quilombola, ribeirinho. Todos sofremos muito. Brasília está cada vez mais difícil. Nos últimos anos tem acontecido incêndios cada vez maiores, está tudo mais destruído, tem menos água, muito seco. É a primeira vez que a casa do nosso caboclo foi atingida”.

Originária de Riachão das Neves, no oeste baiano, veio a Brasília em um caminhão de carregamento de sal em 1960, e o que já era uma viagem exaustante transformou-se em uma mais complicada ainda, o caminhão quebrou e por isso levaram oito dias para chegar. 

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Mulher negra, nos relatou que descobriu o racismo desde pequena em Brasília, na cidade satélite de Taguatinga, onde os pais não queriam que brincasse com os filhos deles, pois diziam: “essas negrinha iria virar puta e meu filho marginal”.

Assim, ela jurou para si mesma que não deixaria isso acontecer, nem a si mesma e nem aos irmãos. Como o pai trabalhava o dia inteiro na construção de Brasília, a mãe havia morrido quando tinha apenas 6 anos, e a madrasta também, ela se sentia responsável por eles. 

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Apesar de o pai participar de um centro espírita em Taguatinga desde que eles chegaram em Brasília, até a adolescência ela nunca quis frequentar.

No entanto, ela tinha uma dor de cabeça intensa que nunca passava, entre outras dores, mas nenhum médico conseguiu curá-la, até que um dia viu uma loja de artigos religiosos e decidiu entrar porque um senhor a chamou, e ele colocou à mão em sua cabeça, curando a dor de cabeça. Depois de agradecer e sair, tentou voltar ali, mas a loja religiosa não existia: conversou com o dono do local, que consertava sofás, que disse ter o estabelecimento há anos. 

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Depois disso foi à missa na igreja São José, mas o mesmo caboclo apareceu ao seu lado e começou a rezar em latim. Saiu da igreja e pediu ao pai para ir ao centro. 

Ela disse que se lembra muito bem da primeira vez dela no centro: “estava lotado de gente, o caboclo me pegou, começou a atender pessoas e nunca mais parou”. 

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Em 2014, começou a usar o espaço para musicalização de crianças em situação de vulnerabilidade, projeto que intitulou ABC Musical. "Rui Leandro do Santos me explicou que havia um edital aberto e a gente poderia tentar...Eu não tive dúvida: queria musicalização. Sempre foi um sonho meu fazer algo pelas crianças da região".

Eles conseguiram o subsídio, mas faltando uma semana para começar o projeto, ela foi diagnosticada com câncer de mama. Mesmo assim não quis desistir do projeto, conta que “em meio a toda essa loucura de quimioterapia, os filhos, as crianças, a comunidade me dava olhar de amor, carinho e respeito. Tinha dias que era muito difícil fazer os lanches pras crianças, mas uma força me dizia que isso era a cura”.

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Os anos foram passando, o subsídio acabou, mas os professores e alunos ficaram. As crianças cresceram, ela queria que os jovens pudessem continuar estudando, por isso criou o Afoxé, com músicas afro-brasileiras à respeito dos Orixás. 

"Fui para Olinda aprender Afoxé, e em 2016 fomos pra rua no carnaval como Afoxé, com percussão, vocal e dança." 

Todavia, enquanto fazia radioterapia o médico esqueceu de colocar o colete na tireoide, e assim o câncer se esparramou para a tireoide. 

Ela continuou com os trabalhos, fazendo as roupas para os músicos e lanches para as crianças. Começaram a ensaiar na Torre de TV, em 2018 receberam uma carta-convite para representar o Brasil em Santiago de Cuba. 

Em 2019, no carnaval, tocaram para uma quantidade imensa de pessoas na rua (ela aproximou para um milhão, já que tocaram em locais centrais todos os dias). 

Ano passado receberam um convite para se apresentar no SESC Pompeia, porém com a pandemia o evento foi cancelado.

Após a casa do caboclo Ventania pegar fogo, ela viu um dos jovens atendido pelo programa se ajoelhar em frente à casa e rezar, chorando. Nesse momento ela decidiu que deveria reconstruir o mais rápido possível, e por isso começou uma campanha a partir de seu Instagram e um financiamento coletivo online.

Até agora não arrecadou o dinheiro para a construção total, apesar de ter conseguido reconstruir uma parte da casa. O financiamento continua aberto para quem quiser doar, é só enviar a quantia desejada para o seguinte pix: 35167203104.

Caso queiram conferir o instagram de Mãe Dora de Oyá, ela posta bastante conteúdo a respeito dos trabalhos sociais e da reconstrução da casa de caboclo Ventania. Clique aqui.

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