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Nordeste

Ossadas à mostra assustam turistas na Ilha de Itamaracá

Pelo menos uma dúzia de ossos aparecem ao lado da Igreja N. S. da Concceição, na Vila Velha, fundada nos primeiros anos 1500

Igreja N. S. da Conceição, em Vila Velha; ossada (Foto: Renato Ferraz)
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Renato Ferraz, especial para o 247, em Itamaracá (PE) - Na muvuca em que se torna boa parte das praias nordestinas no verão, sempre ao som do irritante batidão e da pisadinha dos zé-vaqueiros da moda, a Vila Velha, uma das primeiras aglomerações ‘urbanas’ de Pernambuco, no lugar mais privilegiado da Ilha de Itamaracá, em Pernambuco, é uma boa surpresa. Lá tem tapioqueiras, cafés e barracas com deliciosos caldos de siri, sururu, peixe e camarão -- e cerveja gelada. 

Mas surpresa mesmo, para o turista, é pôr as surradas cadeiras de plástico de fabricantes de bebidas sob ossos humanos. Pois é: segundo os moradores, desde 2013 aparecem ossadas ao lado da capela dedicada à Nossa Senhora da Conceição -- que existe desde 1526 e é apontada como a segunda mais antiga do país. 

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Os atenciosos barraqueiros contam que, após algumas chuvas, começaram a surgir esqueletos -- um parece ser de criança, outro visivelmente se trata de pernas e pés de um adulto. 

Os comerciantes avisaram à prefeitura da Ilha, que, por sua vez, teria avisado à Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe). “Aí, parece, que avisaram também ao Iphan”, diz um dos comerciantes. Sim, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional -- aquele mesmo que o presidente Jair Bolsonaro disse ter mandado afastar diretores que interditaram as obras de uma loja da Havan, rede do Luciano Hang, bolsonarista de raiz. 

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Como que para ‘comprovar’ a relevância histórica do achado, a Prefeitura de Itamaracá vetou o acesso de veículos ao espaço. Mas não o de pedestres -- que não têm nenhuma sinalização (a não ser dos próprios ossos) da área afetada.

Em entrevista ao portal 247, o professor Marcos Albuquerque, coordenador do Laboratório de Arqueologia do Departamento de História da Universidade Federal de Pernambuco, é direto: “Esse episódio específico precisa ser estudado desde ontem”, ressalta ele. Albuquerque dedica-se à pesquisa arqueológica ininterruptamente desde 1965, quando criou o laboratório de Arqueologia da UFPE. 

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Primeiro, diz ele, para descobrir detalhes sobre a origem continental do morto (por meio de estudos da carapaça dentária, e sobre o tempo do enterro. Depois, ressalta, até mesmo para se ‘recuperar’ históricos de doenças e patologias, por exemplo. 

O doutor em História com área de concentração em Arqueologia lembra que era comum, até o século XIX, se enterrar pessoas dentro e no entorno das igrejas (desde então, foram proibidas). “Os mais abastados, dentro; os menos, fora”. Neste caso, seriam ossadas de escravos negros? “Não necessariamente”, diz. “São, provavelmente, de moradores mais pobres, por estarem na lateral”.

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Albuquerque também lembra que essa exposição de ossos vem de anos. “O corpo era, e ainda isso persiste, enterrado a sete palmos. Levando-se em conta 20 cm o palmo, foram sepultados a 1,5 metro”, conta ele. “Isso significa que a erosão já chegou a um patamar de quase 2 metros”, diz. 

A reportagem tentou contato com a Fundarpe, mas não obteve retorno até a publicação deste texto. O espaço continua aberto à manifestação das autoridades da área cultural de Pernambuco. 

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A pequena (até hoje) Vila Velha, foi o primeiro arruado da ilha de Itamaracá: no site da prefeitura, por exemplo, há a informação de que os primeiros habitantes teriam sido náufragos e que também há registros sobre a passagem dos portugueses João Coelho da Porta da Cruz e Duarte Pacheco Pereira, em 1493 e 1498, respectivamente -- portanto, antes do ‘descobrimento’ oficial do Brasil, em 1500.

A Ilha de Itamaracá -- uma das 15 capitanias do período colonial -- foi invadida pelos holandeses em 1631, quando ergueram o Forte Orange, cujo nome homenageia o príncipe holandês Frederico Henrique de Orange, tio de Maurício de Nassau. Em 1763, o rei dom João V comprou a Ilha para a Coroa Portuguesa por 4.000 cruzados.

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O nome Itamaracá deriva da língua tupi e significa “pedra que canta”, numa junção de ita (“pedra”) e mbara’ká (“chocalho”).

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