Chico Bicudo a Bolsonaro: devolva a camisa que não te pertence

Chico Bicudo (Chuteira F.C.) - Meu final de semana de futebol foi amargo. Azedo. Áspero. Mau humor insuportável. Sei nem se consigo traduzir. Na segunda da ressaca, as tripas ainda fervem de raiva, o peito continua apertado, sem deixar explodir o vulcão de impropérios que circulam entre o coração e o cérebro, sem parar. Se eu gritasse, alguém ouviria? É como se minha alma boleira tivesse sido violentamente sugada por dementadores e comensais da morte que agora vagam sem escrúpulos por aí, fazendo arminha com as mãos e chamando de mito vocês sabem quem.

O chão do meu castelo de Hogwarts tremeu, e a força cruel do terremoto me atirou num buraco sem fim, sem que nem mesmo Edwiges ou Dumbledore conseguissem me resgatar da escuridão dos escombros, quando recebi a foto delenão com a camisa do Santos, camarote da Vila Belmiro, ovacionado de forma eufórica por parcela significativa das arquibancadas. Sim, vaias e protestos também foram ouvidos, torcidas organizadas divulgaram manifestos de repúdio durante a semana. Mas a imagem que fica é a da presença bestial. Talvez algum aprendiz entusiasmado das artes das trevas resolva colocar uma foto delenão com o manto sagrado ao lado das taças das Libertadores e dos Mundiais, no Memorial das Conquistas. Daqui a alguns anos, quando entrar no Urbano Caldeira com minhas netas e netos e el@s me perguntarem “vô, é verdade mesmo que elenão já esteve aqui?”, vou ter que responder, cabisbaixo e troncho de vergonha, ‘sim, é verdade’. É a História. Não há varinha das varinhas capaz de desfazer esse feitiço tenebroso.

Há poucas semanas, quando jogadores do Ceará foram covardemente atacados por insultos racistas na Vila, o clube se apressou a soltar nas redes sociais informe que dizia: “Se você é racista, preconceituoso ou xenófobo, por favor, não compareça aos jogos do Santos FC, não seja sócio rei e não use nossos produtos oficiais. Melhor ainda: deixe de torcer para o Santos. Você não merece esse clube e não é bem-vindo em nossa casa”.

Lindeza. Preciso e precioso.

Leia na íntegra no Chuteira F.C.