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Sudeste

Crise do petróleo agravou situação do Rio

A queda do preço do petróleo e a a redução dos royalties, agravaram a crise do Rio de Janeiro; segundo especialistas, o estado governado por Francisco Dornelles criou uma dependência do dinheiro dos royalties, deixando de investir em outros setores da economia, e utilizou mal os recursos que abasteceram por anos os cofres estaduais

A queda do preço do petróleo e a a redução dos royalties, agravaram a crise do Rio de Janeiro; segundo especialistas, o estado governado por Francisco Dornelles criou uma dependência do dinheiro dos royalties, deixando de investir em outros setores da economia, e utilizou mal os recursos que abasteceram por anos os cofres estaduais (Foto: Leonardo Attuch)
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Cristina Indio do Brasil - Repórter da Agência Brasil 

A queda do preço do petróleo, e consequentemente a redução dos royalties, agravaram a crise do Rio de Janeiro. Para especialistas ouvidos pela Agência Brasil, o estado criou uma dependência do dinheiro dos royalties, deixando de investir em outros setores da economia, e utilizou mal os recursos que abasteceram por anos os cofres estaduais. E agora, sem dinheiro para arcar com compromissos, o governo do Estado busca novas fontes de receita e conta com o socorro da União.

Para o professor de Planejamento Energético do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe/UFRJ), Alexandre Szklo, o Rio de Janeiro já passava por uma crise financeira, que foi aliviada com o boom da produção e exploração de petróleo no estado, incentivada com a descoberta do pré-sal em 2007. No entanto, com a baixa do preço do barril, os problemas voltaram e com força maior.

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“O Rio de Janeiro passava por uma crise, teve uma ressurgência econômica atrelada ao petróleo. Agora, revive a crise e com uma característica de maior complexidade, porque a população do Rio de Janeiro cresceu, a economia cresceu. A complexidade dos serviços demandados pela população e requeridos pelo estado do Rio de Janeiro são muito maiores hoje do que anteriormente ao boom da indústria do petróleo fluminense”, disse Szklo, em entrevista à Agência Brasil.

Em 2016, o estado do Rio de Janeiro prevê arrecadar R$ 58,8 bilhões e as despesas devem ficar em R$ 78,8 bilhões, o que significa um déficit perto de R$ 20 bilhões. A queda de arrecadação e os reflexos da crise econômica do Brasil são apontados pelo governo estadual como alguns dos fatores que levaram à difícil situação financeira.

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No caso do petróleo, a queda nos preços do produto e a redução de projetos da Petrobras afetaram a cadeia de fornecedores e, com isso, a arrecadação com ICMS caiu. Nos primeiros quatro meses de 2016, a receita com o tributo atingiu R$ 10,7 bilhões. Já com os royalties, a queda na arrecadação ficou em 38% de 2014 a 2015, e para 2016 a previsão de recuo é de 60%, se comparado com o recolhimento há dois anos.

O professor Alexandre Szklo afirma que o estado ficou extremamente dependente da indústria de petróleo e não se preparou para as baixas desse mercado. “O que se fala na engenharia do petróleo é que essa indústria é como se fosse um elefante. Como os investimentos são extremamente de capital intensivo e de elevado risco, e é uma indústria global, demora muito para começar a correr e depois para parar, por isso é como se fosse um elefante. Na verdade, se vive o ciclo de euforia e depois o ciclo de tragédia”.

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O professor reconhece que é quase incontrolável saber como o preço do petróleo irá se comportar, dentro de um mercado extremamente volátil, mas que países como o Canadá, os Estados Unidos, a Noruega e o Reino Unido, com economias atreladas ao petróleo, souberam como agir diante das oscilações. “O estado do Rio de Janeiro deveria ter se preparado para isso”.

Norte fluminense

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Uma das regiões mais dependentes do petróleo é o nortefluminense do estado. Para o professor Alexandre Szklo, a região vive agora a chamada “doença holandesa”, quando países e cidades concentram a economia em apenas uma atividade. O termo surgiu quando, nos anos 60, Países Baixos tiveram receitas com exportação elevadas, com os preços do gás, e depois sofreram com a consequente valorização cambial, que resultou na queda das exportações de outros produtos.

Cidades, como Macaé e Campos, segundo o professor, conseguiram rendas “extraordinárias” com o petróleo, porém os custos de produção na cidade subiram por causa dessa indústria, inibindo o desenvolvimento de outras atividades econômicas. “Um exemplo emblemático disso foram os valores dos alugueis em Macaé, que era o maior percentual de valor de aluguel sobre o preço do imóvel”, destacou.

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Itaboraí vive a mesma situação. Vislumbrando os lucros que poderiam vir do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), da Petrobras, a cidade apostou na construção de pousadas, shoppings e serviços a serem ofertados para os funcionários do complexo. Abalada pelas denúncias de corrupção, a Petrobras acabou parando o projeto, que prevê a construção de duas refinarias. Com isso, Itaboraí passou a lidar com pousadas, hotéis e imóveis fechados e ociosos.

“O município não sabe mais qual é a vocação dele quando se depara, com o empreendimento que seria âncora do município. Ele destrói as vocações anteriores e não reconstrói outras vocações”, completou.

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“O que a gente olha no norte fluminense é uma crônica da morte anunciada presente sempre no mundo extrativista do petróleo. Ali, vai caber de fato, de alguma forma uma visão de longo prazo de planejamento tentando criar incentivos e não subsídios, para desenvolvimento de atividades econômicas de ponta em regiões onde hoje estão muito baseadas em petróleo”, acrescentou.

O ex-diretor da Agência Nacional do Petróleo (ANP), John Forman, contesta o argumento de que a queda de receita advinda dos royaltiestenha provocado o maior impacto negativo nos cofres do governo. Para ele, mesmo que o preço do barril tenha reduzido no mercado internacional, a alta do dólar no Brasil, que chegou a ser cotado a R$ 4, possibilita uma compensação. “Houve um aumento considerável no valor do dólar, que em parte compensou a diminuição do volume advindo do preço”, disse à Agência Brasil.

Para John Formam, o dinheiro dos royalties foi mal aplicado. “Os royalties vêm sendo usados desde lá de trás para despesas correntes. Quando se bota em uma fonte, que não é permanente, nas despesas correntes, se esta fonte falha, fica com um problema grande. Se tivesse usado este dinheiro para melhorar a saúde, para hospitais, para a segurança, isto estaria aí, mas se usa para pagar folha de pagamento, que por si só não gera nada”, disse.

Medidas extraordinárias

“A saída para o déficit é o aumento de receita, mas isso é muito difícil na atual depressão da economia brasileira. Por isso, a ajuda federal será central para que o Estado do Rio consiga sair dessa crise”,  afirmou o secretário de Fazenda do Rio de Janeiro, Júlio Bueno, à Agência Brasil.

Para socorrer o estado, o governo federal liberou R$ 2,9 bilhões.

Na busca para equilibrar arrecadação e gastos, um dos caminhos tem sido identificar receitas extraordinárias, como a securitização da dívida ativa do Estado, que significa a venda de papeis da dívida, estimada em R$ 66 bilhões, e com isso agilizar a entrada de dinheiro no caixa.

Outras medidas são venda de imóveis e a licitação da folha de pagamento, que hoje é feita pelo Bradesco, além da renegociação da dívida com a União. Outro reforço esperado é o aumento da arrecadação com impostos, que tiveram as alíquotas reajustadas no final de 2015 e que passaram a vigorar a partir do final de março de 2016.

O governo estadual também está de olho na Previdência. Com déficit de R$ 8 bilhões em 2015, a Fazenda afirma que o cenário foi agravado com a redução dos royalties, usados para cobrir a maior parte dos gastos com o Rioprevidência- Fundo Único de Previdência do Estado do Rio.

“É importante observar que o déficit do estado é fundamentalmente causado pelo Rioprevidência. Precisamos gastar R$ 18 bilhões na Previdência este ano e a receita é de R$ 5 bilhões. A Previdência responde por mais de 70% do déficit do Estado”, disse o secretário Júlio Bueno.

Uma das principais consequências da crise tem sido o atraso no pagamento dos salários, aposentadorias e pensões. O governo acabou por parcelar o pagamento dos salários, inclusive do 13º salário, motivando protestos de servidores e aposentados. Com os atrasos, a Justiça determinou o arresto de dinheiro dos cofres estaduais para garantir a liberação dos vencimentos e das aposentadorias e o calendário de pagamentos teve de ser alterado duas vezes. Conforme a secretaria, a folha de pagamento mensal consome R$ 2,7 bilhões.

O pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV/Ibre), José Roberto Afonso, compara o cenário do Rio a uma pessoa que precisa de um atendimento de emergência. No caso do cidadão, ele deve buscar um hospital, no caso do Rio de Janeiro, não há outra alternativa a não ser o Tesouro Nacional.

“Mesmo com o gasto público no Rio crescendo menos que o federal, foi tão forte a queda da receita, puxada pelos royalties, que o estado está em situação pré-falimentar. Não resta outra alternativa, salvo a ajuda federal”, disse.

Para médio e longo prazos, o economista aponta que será preciso adotar medidas duras, como revisão de incentivos e dos benefícios da previdência. “A Constituição prevê que só se deveria reajustar benefício previdenciário se houvesse fonte de recurso, mas isso nunca foi observado. A mesma Constituição prevê que, quando um governo estoura o limite de gasto com pessoal, tem que extinguir cargos e até demitir servidores concursados”.

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