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Sudeste

Entidades questionam governo Tarcísio por desmonte da assistência a usuários de drogas

Deputado estadual Paulo Fiorilo (PT) e entidades cobram esclarecimentos do governador sobre denúncias de desmonte do serviço anterior para “beneficiar organização privada”

Tarcísio de Freitas (Foto: Rogério Cassimiro/Governo do Estado de SP)
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Rede Brasil Atual - O deputado estadual Paulo Fiorilo (PT-SP) vem cobrando esclarecimentos do governo de Tarcísio de Freitas, em São Paulo, sobre o novo Hub de Cuidados em Crack e Outras Drogas. Inaugurado no último dia 6 de abril pela gestão estadual, o serviço ficou no lugar do Centro de Referência de Atendimento a Tabaco, Álcool e Outras Drogas (Cratod) e é a principal aposta do governador para a região conhecida pejorativamente como cracolândia, no centro da capital paulista.

No entanto, de acordo com reportagem da Folha de S. Paulo, o novo centro está demorando 11 dias para disponibilizar vagas de internação a usuários que procuram por tratamento. O veículo flagrou casos como o do mecânico Valdenir, de 46 anos. Ele saiu da triagem no Bom Retiro, no centro, com a data em que deveria retornar, depois de 11 dias, anotada em um papel. “Vou tentar me manter sóbrio até lá e não desistir”, afirmou ele, que luta contra o vício em álcool. Usuários também denunciaram falta de vagas para as mulheres. E, mesmo nos casos de pacientes convocados para internação, havia uma espera de seis horas por uma ambulância.

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Em requerimento enviado na última quinta (20), o deputado e líder da Federação Brasil da Esperança (PT-PCdoB e PV) cobrou respostas do secretário estadual de Saúde, Eleuses Paiva, sobre o número de vagas, a quantidade por gênero e por instituições do Estado e em terceiras para o tratamento de usuários de drogas.

Fiorilo também questionou a pasta e o governador sobre o critério adotado para fechar o Cratod “em prol de alocação dos dependentes, para tratamento, em unidades conhecidas como Comunidades Terapêuticas”, pontuou.

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Comunidades terapêuticas e a lógica manicomial

Criado por decreto em 2002, o Cratod atuava multiprofissionalmente e também na lógica de redução de danos, reconhecida como uma abordagem de cuidado para minimizar os impactos e consequências decorrentes do uso de substâncias psicoativas, sejam elas lícitas ou ilícitas.

O novo Hub, porém, estabelece a internação em comunidades terapêuticas, contrárias à lógica de redução de danos. Além disso, o centro de tratamento será administrado por uma entidade privada. Nesse caso, a Organização Social de Saúde (SPDM).

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A mudança de gestão também é criticada pelo deputado paulista. “Esta organização já esteve envolvida em suspeitas de irregularidades apontadas pelo Tribunal de Contas do Município e Controladoria Geral do Município de São Paulo, no gerenciamento do SAMU e no Hospital de Campanha do Anhembi, contratado para atendimento à pacientes com Covid 19, disparidade nos valores negociados e falta de informações no detalhamento dos serviços prestados pela SPDM”, argumenta Fiorilo no requecimento.

A extinção do Cratod também é contestada por entidades, movimentos sociais e ativistas que conhecem de perto a realidade das ruas, sobretudo as da cracolândia. Em uma audiência pública realizada na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), a médica Maysa Ferreira, do Sindicato dos Médicos de São Paulo (Simesp), declarou ser um equívoco o modelo de tratamento previsto no chamado Hub por Tarcísio de Freitas. De acordo com ela, a medida de internação em comunidades terapêuticas “traz novamente a lógica manicomial”.

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Operação privada

A mudança gerencial ainda “significa um retrocesso trabalhista. Porque, na questão dos médicos, por exemplo, não há mais servidores e eles vão ser contratados por outras formas mais precárias como pejotização (contratação de pessoa jurídica)”, acrescentou ela.

Durante a audiência, o integrante do Movimento Nacional da População em Situação de Rua, Darcy Costa, lembrou que o Cratod “exerceu papel fundamental na superação das drogas junto a pessoas em situação de rua” e também criticou a adoção do confinamento. Ex-usuários de drogas, Costa descreveu que passou “por diversas violações dentro das comunidades terapêuticas e de forma nenhuma nada do sofrimento que eu passei por lá me fez mudar de ideia”, confidenciou.

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O processo de debate foi convocado pelo deputado estadual Carlos Giannazi (Psol) que completou, apontando que a sociedade civil “não pode permitir que um projeto importante como esse seja desmantelado para beneficiar uma organização social de caráter privado”.

O outro lado

À imprensa, no entanto, a secretaria estadual de Saúde negou as denúncias de demora para internação, mas não informou o tempo de espera para atendimento. Paiva também alegou, em comunicado no último dia 19, que o novo Hub – antigo Cratod – em menos de 15 dias, deixou “evidente e registrado a sua eficiência e importância no tratamento contra o crack, o álcool e outras drogas. Ao todo, se comparado com o ano passado, já aumentamos em quase 35% o número de atendimentos. Com o passar do tempo, com as estruturas de atendimento intersecretarial bem firmadas, ampliaremos ainda mais a ajuda a essa população”, disse o secretário.

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A RBA também questionou a pasta sobre o requerimento do deputado estadual. Mas até o fechamento desta nota, não houve resposta. O espaço continua aberto.

Ao longo de sexta (21) a domingo (23), diversos especialistas se reuniram para discutir os problemas, caminhos e soluções para a cracolândia. A política de moradia em primeiro lugar foi um consenso entre aqueles que conhecem e atuam na região. “A partir do momento em que a pessoa tem um lugar para estar, a assistência social e a saúde conseguem atender melhor. O cuidado tem que ser feito em liberdade. Não existe cuidado sem liberdade”, frisou o sociólogo Marquinho Maia, em entrevista à Agência Brasil.

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