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Wadih Damous vê no episódio da Abin a privatização do governo e a utilização do aparelho de estado

Nesta entrevista ao 247, Wadih faz um balanço do ambiente jurídico do ano de 2020, que teve, segundo ele, uma lista de erros intermináveis, mas destacou um acerto: a abertura do inquérito das fake news. Ele reputa o episódio da ABIN como gravíssimo: “significa a privatização do governo e a utilização do aparelho de estado como um órgão de assessoria para a defesa judicial de Bolsonaro e de sua famiglia”

Wadih Damous e Jair Bolsonaro (Foto: Ederson Casartelli/247 | REUTERS/Adriano Machado)
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Por Denise Assis, para o Jornalistas pela Democracia 

Wadih Damous é advogado trabalhista, ex-presidente da OAB-RJ, foi presidente do Sindicato dos Advogados do Rio de Janeiro em duas gestões, entre 2002-2006, é mestre em Direito Constitucional e do Estado, pela PUC-RJ. É autor do livro "Medidas Provisórias no Brasil: origem, evolução e novo regime constitucional", em parceria com o atual governador do Maranhão, Flávio Dino e um dos deputados federais petistas que esteve à frente das estratégias jurídicas de contestação ao pedido de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff, em 2015. 

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Foi contrário à reforma trabalhista de 2017 e à PEC que estabeleceu o teto para os gastos públicos por 20 anos. É um dos advogados de defesa do ex-presidente Lula e foi um dos subscritores do habeas corpus impetrado perante o Tribunal Regional Federal da 4ª Região que determinou a sua libertação. Damous defendeu em campanha a abertura dos arquivos da ditadura e presidiu a Comissão da Verdade do Rio.

Enquanto Jair Bolsonaro esteve na Câmara dos Deputados por 28 anos e dele não se conhece nenhum projeto, apenas sugestões em defesa de privilégios para os militares, o ex-deputado Wadih Damous, como parlamentar, é autor de 27 projetos de lei que tratam de temas como sistema de justiça, direitos trabalhistas, defesa da advocacia e contra o encarceramento em massa. É crítico aos abusos e ilegalidades praticadas por atores do sistema de justiça criminal, notadamente em sede de operações policiais que atentem contra a dignidade da pessoa humana e os direitos e garantias individuais. 

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Nesta entrevista ao 247, Wadih faz um balanço do ambiente jurídico do ano de 2020, que teve, segundo ele, uma lista de erros intermináveis, mas destacou um acerto: a abertura do inquérito das fake news. Ele reputa o episódio da ABIN como gravíssimo: “significa a privatização do governo e a utilização do aparelho de estado como um órgão de assessoria para a defesa judicial de Bolsonaro e de sua famiglia”.

247 - Em um balanço da atuação do Judiciário no ano de 2020, que fatos mereceriam destaque, para o bem e para o mal?

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WD - Para o bem, a instauração do inquérito das fake news, no Supremo Tribunal Federal e a decisão do Ministro Alexandre de Moraes, em sede Habeas Corpus, determinando a seu colega Luiz Fux que preste informações acerca do processo em que Fux suspendeu a vigência do juiz de garantias. Para o mal, haveria uma lista interminável, mas destaco a série de decisões do STF que acabaram por concluir a demolição do Direito do Trabalho iniciada pela reforma trabalhista.

247 - O ano de 2020 foi o ano em que que nos livramos de Sérgio Moro no cenário político. Como o senhor avalia sua passagem pelo ministério da Justiça? Qual foi a sua marca como ministro?WD - Seu fosse dar uma nota, eu daria -10 na sua atuação como juiz (ironizando). Como ministro, dou nota zero. Não fez nada de relevante, nem para mal nem para o bem. Na Lava Jato, ao menos, deixou um legado de devastação. No Ministério, nem isso.

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247 - A saída de Sergio Moro do ministério foi um tiroteio. O que se apurou, de fato, de suas denúncias e o que falta vir à tona sobre a troca de comando na PF?

WD - Moro perdeu muita credibilidade com a vaza-jato. No episódio de sua demissão, ficou claro que ele e Bolsonaro queriam um Diretor da PF para cada um chamar de seu. Tanto um quanto o outro queriam instrumentalizar a função. Venceu quem tinha a caneta. Falta vir à tona o que todos já estão vendo: Bolsonaro aparelhou a direção da Polícia Federal.

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247 - Em sua opinião, ainda há espaço para ele conciliar a carreira de “consultor” com a perspectiva de uma candidatura à presidência em 2022? Ou ele entendeu que não é do ramo?

WD - Na política tudo é possível. Mas acho difícil e improvável. Parece que ele preferiu ganhar dinheiro às custas da devastação que promoveu no país a ter que entrar numa "roubada" que ele não domina - a arena da política.

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247 - O que impediu o STF de julgar a parcialidade do ex-juiz Sergio Moro? Foi o clima acirrado da vida política? O que contribuiu para o adiamento?

WD - Tenho a impressão de que a possibilidade de o Presidente Lula voltar a ser candidato incomoda. Além disso, a aposentadoria iminente de Celso de Melo também contribui, acredito eu. Como também acho que ele votaria contra a concessão do HC (habeas corpus).

247 - Além da desculpa do ministro Gilmar Mendes de que só julgará o habeas corpus do ex-presidente Lula em sessão presencial, o que mais, em sua opinião, entrava esse julgamento?

WD - Não acho que seja desculpa num sentido negativo. Nós advogados de defesa preferimos sessões presenciais. Agora, com a 2ª Turma definida em sua composição, creio que o julgamento será marcado após o recesso.

247 - O hacker de Araraquara (Walter Delgatti Neto) fez denúncias graves sobre a relação do ministro Barroso, do STF, com o Deltan Dallagnol, dando a entender que ambos trocavam informações que influenciaram nos processos. Barroso negou as acusações. Ele será chamado a explicar de forma mais nítida, essas declarações do hacker? Que tipo de consequências podem vir daí?

WD - O hacker fez revelações da maior gravidade, que deveriam ser investigadas a fundo e a sério. Ele está documentado. A prova é ilícita, devo admitir, mas deveria, então, ser periciada. Tudo indica, ao menos em curto e médio prazo, que não serão. Não chegamos ao ponto, pelo menos ainda, de termos um Procurador Geral da República que "tenha peito" de investigar um ministro do Supremo.

247 - Neste ano tivemos também a saída de Deltan Dallagnol do cargo de procurador da Lava -Jato. Depois de ter tentado de forma infrutífera se candidatar a senador e a uma vaga para a PGR, o que fica de Dellagnol? Um powerpoint?

WD - A saída de Dallagnol foi um fato positivo a favor da democracia e das boas práticas investigativas. Mas ele não deixa só um powerpoint. Deixa um país devastado na política, no direito e na economia. Esse é o verdadeiro e único legado da Lava Jato.

247 - A Lava-Jato teve seus trabalhos prorrogados por mais um ano. Que tipo de atividade ainda terá?

WD - O correto era a sua extinção. Como não foi, provavelmente continuará atuando contra a democracia e contra a Constituição em desrespeito a direitos e garantias fundamentais a pretexto de "combater a corrupção".

247 - Este foi um ano em que a ex-presidente Dilma Rousseff foi oficialmente inocentada sobre as denúncias que a levaram ao impeachment. O que o senhor comentaria a respeito?

WD - O estado de exceção sempre fornece aparentes paradoxos. Temos hoje um presidente que pratica crimes todos os dias e da maior gravidade, que põem em risco a vida de milhões de pessoas e que segue impune. E tivemos uma presidente honesta contra quem inventaram crimes não cometidos. Digo paradoxos aparentes, porque num estado de exceção isso não é paradoxo.

247 - Neste ano o ex-presidente Lula teve arquivadas sete acusações que pesavam contra ele, o que equivale dizer, foi inocentado. Que desdobramentos isto deveria ter?

WD - Quando julgado fora de Curitiba, o Presidente Lula foi inocentado. É mais uma demonstração da parcialidade e da falta de isenção de Moro e dos procuradores que ele comandava na Lava Jato.

247 - O senhor acredita na devolução, pela Justiça, dos direitos políticos do ex-presidente Lula?

WD -Não só acredito como trabalho para isso. Não será nenhum favor. Trata-se de direitos arbitrariamente usurpados, por força de decisões judiciais viciadas. Mas a mobilização popular para isso será muito importante e imprescindível.

247 - Lula deveria ser o candidato do PT para 2022?

WD - Defendo que seja. O Brasil tem duas personalidades políticas com força eleitoral incontrastável: Lula e Bolsonaro. Se temos um Pelé ou um Maradona não podemos deixá-lo no banco de reservas. Com Lula a vitória é certa em 2022.

247 - Que atitude Aras deveria tomar sobre a instrumentalização da Abin?WD - Cumprir com a sua obrigação e abrir investigação. Mas parece que ele já abriu e a Ministra Carmen Lúcia determinou à Abin que prestasse informações. Esse é um crime monstruoso. Significa a privatização do governo e a utilização do aparelho de estado como um órgão de assessoria para a defesa judicial de Bolsonaro e de sua famiglia.

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