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Keiji Kanashiro

Fundador do PT, foi Secretário Executivo do Ministério dos Transportes no governo Lula, foi Secretário de Logística e Transportes do governo do Mato Grosso do Sul e assessor técnico da Liderança do PT na Câmara dos Deputados

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21 de Abril de 1980. Lula livre, Lula candidato e Lula presidente

Era uma segunda-feira, e estávamos todos empenhados nas nossas tarefas para manter os trabalhadores informados, tendo em vista que a greve já durava algumas semanas, o sindicato estava sob intervenção federal, Lula e vários outros diretores estavam presos e a repressão policial aumentando a cada dia

São Bernardo do Campo SP 07 04 2018 O ex presidente Luiz Inacio Lula da Silva depois da missa no braço do povojanela do sindicato dos Metalurgicos do ABC Foto Paulo Pinto Fotos Publicas (Foto: Keiji Kanashiro)
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Hoje, depois de ler a entrevista do FHC, falando um montão de asneiras, e dizendo que o Lula não era um preso político e sim um político preso, resolvi contar essa estória que aconteceu há 38 anos. Pra tentar mostrar que este canalha, canalha, canalha, principal articulador do golpe, pessoa de confiança do capita financeiro internacional, nunca esteve do lado dos trabalhadores, sempre que se aproximou foi com a intenção oportunista para tentar trazer pra si, um legado que nunca foi dele e sim de Lula o maior presidente que o Brasil teve o maior líder popular do mundo.

Como nasci num dia vinte e um de abril, feriado nacional, meu aniversário era sempre lembrado por parentes e amigos. Quase sempre tinha uma comemoração, bolo com velinhas, parabéns, lembrancinhas e estas coisas que fazem parte da nossa cultura. Eu nem sempre me sentia bem nestas ocasiões. Não saberia dizer exatamente as razões, mas penso que uma delas era fato que nestes dias, a gente ficava no centro das atenções e eu não sabia lidar com isso muito bem. Na verdade, até hoje eu tenho dificuldades nesta questão. Por outro lado, eram fatos, que inevitavelmente ficavam registrados. Se forçar a memória, poderia me lembrar da maioria deles com detalhes.

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Teve um em especial, aconteceu no dia 21 de abril de 1980, que paradoxalmente não teve festa, presentes, parabéns nem nada, mas ainda assim, eu lembro muito bem. Neste dia, as pessoas com quem eu passei o dia, com exceção do Heraldo ninguém sabia que era meu aniversário. Era uma segunda-feira, e estávamos todos empenhados nas nossas tarefas para manter os trabalhadores informados, tendo em vista que a greve já durava algumas semanas, o sindicato estava sob intervenção federal, Lula e vários outros diretores estavam presos e a repressão policial aumentando a cada dia.

Fazíamos parte de uma comissão, previamente constituída pela diretoria do sindicato, que assumiria algumas funções no comando da greve, a partir da intervenção no sindicato e da prisão de seus dirigentes, situação que já era prevista por todos nós e que fatalmente iria acontecer, como realmente aconteceu. Esta comissão tinha sido criada, com base na experiência de sucesso na greve dos bancários do Rio Grande do Sul em 1979, e ficou conhecida como "a comissão dos dezesseis".

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A comissão se reunia diariamente, discutia e redigia um boletim, que seria entregue aos trabalhadores no dia seguinte. Por questão de segurança, cada dia a reunião acontecia em locais diferentes. Sempre um da comissão ficava responsável pelo local da reunião do dia seguinte, também por segurança só informava o horário e o "ponto", que era sempre próximo do local. Na hora marcada, alguém estaria no "ponto" para informar o endereço, e um a um, o pessoal ia para o local da reunião.

Neste dia eu tinha ficado de arranjar o local, e o ponto que eu havia definido era na Estação Santa Cruz do metrô, na Av. Domingos de Moraes na Vila Mariana. A reunião seria no porão de uma escola de música lá perto, onde eu o Heraldo e mais alguns amigos estávamos montando um pequeno estúdio de gravação. Cheguei no "ponto" na hora marcada, passei o endereço para o primeiro que chegou, e fui para o local. Sucessivamente cada um que chegava, recebia o endereço e passaria para o seguinte. Estávamos quase terminando o boletim, quando chegou o Lima, dizendo que achava que havia sido seguido e que o melhor seria desmobilizar a reunião.

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Todos ficaram muito puto com ele, primeiro porque se ele desconfiasse que estivesse sendo seguido ele de forma alguma poderia ir ao local. Segundo, porque todos sabiam que ele estava ligado a Unidade Sindical, que defendia o fim da greve após a prisão do Lula e demais diretores do sindicato que tinha acontecido no sábado anterior dia 19 de abril. Fechamos rapidamente o boletim, desmobilizamos a reunião e ficamos de nos encontrar novamente no final da tarde e o novo "ponto" seria na Galeria Barão no centro da cidade. Uma das minhas responsabilidades na comissão era a de fazer a composição e a matriz do boletim para ser rodado nas máquinas de offset no Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo.

Seguindo a rotina, fui para a gráfica em Santo Amaro, que me havia sido indicada pelo Gushiken do Sindicato dos Bancários, e de posse da matriz, fui para o Sindicato dos Metalúrgicos para encaminhar a impressão dos boletins. Na madrugada do dia seguinte, o Oswaldo Bargas, deveria pegar os boletins e levar para os vários locais, na periferia de São Paulo e do ABC, onde estavam instalados os pontos de arrecadação de alimentos para o fundo de greve dos metalúrgicos de São Bernardo do Campo e Diadema, onde os boletins eram distribuídos aos trabalhadores em greve. Neste processo, durante vários dias, conseguíamos distribuir mais de 100 mil boletins em poucas horas, mantendo a categoria informada sobre os rumos do movimento. Neste dia, porém algo inusitado aconteceu.

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Como era feriado, o sindicato do Joaquinzão estava fechado. Fiquei um tempo pensando no que fazer, e decidi buscar uma alternativa no Comitê de Solidariedade que estava instalado na Assembleia Legislativa. Na Assembleia, a Regina uma das advogadas do PT, me informou que poderíamos rodar o boletim, mas no local não tinha offset e teríamos que datilografar o texto em um estêncil para imprimir em mimeógrafo. Estávamos em uma sala da Assembleia e eu ditando e a Regina datilografando, quando percebemos que ao lado estava o FHC conversando com alguns deputados sobre como parar a greve, uma vez que Lula tinha sido preso.

Um dos argumentos do FHC era que seria uma tragédia a continuidade da greve. Aí não aguentei e fui me aproximando deles e o FHC me reconheceu e perguntou se eu era do sindicato. Eu disse que sim, apontando o dedo no nariz dele disse gritando, que se eles quisessem ajudar, deveria tentar a reabertura das negociações com os empresários e que quem poderia acabar com a greve seria os metalúrgicos e que eles não tinham mandato para isso. Ficaram quietos, virei às costas e continuamos a compor o boletim.

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Mas a trama estava em andamento. Fiquei sabendo logo em seguida pela Tita do sindicato dos bancários, que o pessoal da Unidade Sindical, ligados ao Partidão, junto com FHC alguns deputados estavam armando um circo com televisão para uma entrevista coletiva, onde estavam algumas pessoas do comando de greve lideradas pelo Alemão, que falava nas assembleias iria comunicar o fim da greve.

Não queriam que eu entrasse no local, mas com a interferência do Luiz Eduardo Greenhald, consegui entrar, mas antes pedi para a Tita e o Heraldo que fossem até a Galeria Barão para trazer os outros companheiros da comissão. Fiquei um tempo só, tentando impedir a coletiva, mas só conseguimos quando o pessoal chegou, aí fizemos uma confusão e não teve a coletiva e a greve continuou

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