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Leonardo Boff

Ecoteólogo, filósofo e escritor. Escreveu Ecologia: grito da Terra, grito dos pobres, Vozes 1995/2015; em espanhol por Trotta, Madrid 1996, Dabar, México 1996

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A Amazônia: bem comum da terra e da humanidade

"A irresponsabilidade de Bolsonaro é de tal monta que juristas mundiais cogitam acusá-lo de ecocídio, crime reconhecido pela ONU em 2006 e levá-lo ao tribunal dos crimes contra a humanidade", denuncia Leonardo Boff

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Os recentes incêndios da Amazônia brasileira e boliviana,mais as
discussões dos G7  em Biaritz em setembro trouxeram à baila a
importância do  bioma amazônico para o equilíbrio e, eventualmente,
para o futuro da vida.Quem melhor viu aquestão em seu aspecto global
foi Emmanue Macron da França.

Os descaso com que o presidente do Brasiltratou a questão ambiental,
negando os dados científicos mais sérios e as ameaças às reservas
indígenas, acrescido ainda o desmonte feito pelo ministro do Meio
Ambiente dos principais organismos de proteção da floresta e das
terras indígenas e da vigilância do avanço descontrolado do
agronegócio sobre a mata virgem, mostraram a gravidade da situação.
Diante de madereirios o Presidente,de forma igorante das
consequeências ecológicas e numa restrita concepção de siberabia como
se estívessemos ainda a alguns séculos passados, dizia a madeireiros
que o que conta não são plantas em pé, mas em seu lugar a extrração de
misérias. E eles aplaudiam ávidos dos luvros e indiferentes às vidas
sacrificadas da biodiversidade e dos povos da floresta.

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Note-se no entanto, que seegundo notáveisespecialistas internacionais,
a Amazônia é a segunda área mais vulnerável do planeta em relação à
mudança climática provocada pelos seres humanos.

O próprio Papa Francisco advertiu “que o futuro da humanidade e da
Terra está vinculado ao futuro da Amazônia; pela primeira vez, se
manifesta com tanta claridade que desafios, conflitos e oportunidades
emergentes em um território, são a expressão dramática do momento que
atravessa a sobrevivência do planeta Terra e a convivência de toda a
humanidade”.

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São palavras graves, menosprezadas pelas grandes corporações
depredadoras, porque se dariam conta de que deveriam trocar de modo de
produção, de consumo e de descarte. Mas preferem o lucro que a
salvaguarda da vida humana e terrenal.

Não sem razão, o Papa Francisco convocou O Sínodo Panamazônico para
agora em outubro   do corrente ano cujo tema é:”Amazônia:novos
caminhos para a Igreja e para uma ecologia integral”. Trata-se de uma
aplicação de sua encíclica “sobre o cuidado da Casa Comum” para evitar
uma catástrofe socioecológicamundial. Não se trata de uma ecologia
ambiental e verde mas de uma ecologia integral, que envolve o
ambiente, a sociedade, a política, a economia, o cotidiano e a
dimensão espiritual.

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Além disso quer favorececer uma eclesiogênese, o nascimento de uma
Igreja nascida do encontro do evangelho com as cuturas originárias.
Que elas façam o que os cristãos nos inícios fizeram que foi dialogar
com as culturas gregas, latina e germânica e mais tarde com a moderna
e criar sua síntese que resultou no atual cristianismo. Os indégenas
são convidados a seguir o mesmo caminho, de onde nasce uma Igreja de
rosto indígenas, com suas liturgias próprias e, provavemente,  com
homes casados e ordenados sacerdotes.

Consideremos alguns dados gerais sobre o bioma amazônico: cobre uma
extensão de 8.129.057 Km2 com nove países: Brasil (67%), Peru (13%),
Bolívia (11%), Colômbia (6%), Equador (2%), Venezuela(1%),
Suriname,Guiana e Guiana francesa (0,15). Vivem aí 37.731.569
habitantes, sendo que 2,8 milhões são indígenas de 390 povos distintos
falando 240 idiomas, da rica matriz de 49 ramos linguísticos, um
fenômeno inigualável na história da linguística mundial.

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Existem três rios amazônicos: o visível, da superfície, o aéreo, os
chamados “rios volantes”(cada copa de árvore com 20 metros de extensão
produz 1000 litros de umidade que vão trazer chuvas para o cerrado,
para o sul, até o norte da Argentina); o terceiro invisível é o rio
“rez do chão”(não confundir com o lugarejo turístico Rez do Chão), um
rio subterrâneo que corre debaixo do atual Amazonas.

Todo o bioma amazônico constitui um Bem Comum da Terra e da
Humanidade.Na visão dos astronautas isso é evidente: da Lua ou de suas
naves espaciais, Terra e Humanidade formam uma única entidade. O ser
humano é aquela porção da Terra que começou a sentir, pensar, amar e
cuidar. Somos Terra, como enfatiza o Papa e a própria Bíblia. A
própria Terra é viva, Gaia, que origina todas as formas de vida.

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Agora, na fase planetária, todos nos encontramos numa mesma e única
Casa Comum. O tempo das nações está passando; agora é o tempo da
Terra, admiistrada por um corpo multipolar e orgânica para atender aos
problemas da única Casa Comum e de seus habitantes. Será, como já
previa Immanel Kant no seu último livro “A Paz Perpétua” de 1789 a
República Mundial (Welrepublick) sob a égide da hospitalidade
universal e da vigência dos direitos humanos, o mais sagrado que o
Criador nos concedeu. Temos que nos organizar para garantir os meios
que sustentarão a nossa vida e a da natureza. Ninguém é dono da Terra.
Ela é o nosso maior Bem Comum. Todos têm direito de estar nela. Como a
Amazônia é parte da Terra, ninguém pode  considerar só seu o que é um
Bem de todos e para todos.

O Brasil, no máximo, possui a administração da parte brasileira (67%)
e o faz de forma irresponsável.Daí a preocupação geral.

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Atualmente o bioma amazônico é objeto da cobiça mundial por causa de
suas riquezas. Usa-se muita violência. Há na Amazônia brasileira,a
partir dos meados dos anos 1980 mais de 12 mártires o último
areligiosa norte-americana Doroty Stang, indígenas, leigos e
religiosos; no Equador 6, no Peru 2 e na Colômbia inumeráveis.

Os G 7 reunidos em Biaritz, se deram conta da importância do bioma
amazônico para o equilíbrio dos climas e da própria Terra. Suponho que
a veem convencionalmente ainda como um baú de recursos para seus
projetos econômicos. Suspeito que não incorporaram a visão da nova
ecologia que entende a Terra como um super-orgnismo vivo e nós parte
dele e não seus senhores. Mas muitos conhecem estas discussões no
âmbito da eclogia, da cosmologia e das demais ciências da vida e da
Terra.

Caso a Amazônia fosse totalmente abatida,todo o sul do Brasil até o
norte da Argentina e do Uruguai se transformariam lentamente numa
savana e até em alguns lugares num deserto. Daí a vital importância
desse bioma multinacional.

A irresponsabilidade de Bolsonaro é de tal monta que juristas mundiais
cogitam acusá-lo de ecocídio, crime reconhecido pela ONU em 2006 e
levá-lo ao tribunal dos crimes contra a humanidade. Derrubar a
floresta  é afetar o regime das águas. A água é um bem natural, vital,
comum e insubstituível. Sem água não há vida. Bolsonara se faria com
suas  políticas atrasadas de mineração e de extrativismo de riquezas,
abundantes nesse bioma.

Termino com palavras de um indígena ianomâmi Miguel Xapuri Ianomâmi:

“Vocês têm Deus, nós temos Omama. Ela criou a vida, criou os
ianomâmis, permite tudo o que acontece. Nós nos comunicamos com ela
permanentemente”. Quem do mundo secularalizado falaria de coração
desta forma?

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