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Tereza Cruvinel

Colunista/comentarista do Brasil247, fundadora e ex-presidente da EBC/TV Brasil, ex-colunista de O Globo, JB, Correio Braziliense, RedeTV e outros veículos.

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A aposta imoral de Bolsonaro

"Agora, se acontecer a tempestade perfeita, milhares de mortes com depressão econômica e convulsão social, ele poderá se aproveitar para fazer o que sempre desejou: invocar uma 'desordem', uma situação disruptiva para quebrar a ordem constitucional e impor seu projeto autoritário", escreve a jornalista Tereza Cruvinel

Jair Bolsonaro e o Ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, durante Videoconferência com a Frente Nacional de Prefeitos - FNP. (Foto: Isac Nóbrega/PR)
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É indecente pensar em eleições e em permanência no poder quando a pandemia do coronavirus fustiga e ameaça a vida dos brasileiros, quando 25 já morreram e o número de casos oficiais passa dos 1.500, embora sejam muito mais, segundo os infectologistas, por conta dos não diagnosticados.  É indecente e impatriótico, para usar palavra cara a Bolsonaro, que hoje se valeu dela para ofender a jornalista que lhe perguntou sobre a pesquisa em que os governadores são mais aprovados do que ele no enfrentamento do coronavirus. Mas é nisso que ele pensa – em reeleger-se ou golpear a democracia para usurpar todo o poder – quando parte para o confronto com os governadores que tomam medidas drásticas para mitigar a perda de vidas, a um custo econômico inevitável que afetará seu projeto de poder. A salvar vidas, ele prefere a preservação da economia com medidas mais brandas.

No domingo, na entrevista à TV Record, Bolsonaro abriu fogo contra os governadores sem dissimular seu cálculo político: Chamou-os de “exterminadores de emprego” e ameaçou: “Brevemente o povo saberá que foi enganado por esses governadores e por grande parte da mídia nessa questão do coronavírus. Espero que não venham me culpar lá na frente pela quantidade de milhões e milhões de desempregados”. E mais adiante:  “ No momento, a minha grande preocupação é com a vida das pessoas, bem como com o desemprego,  que é proporcionado por esses governadores irresponsáveis".

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Mas se se preocupasse mesmo com o emprego das pessoas, não teria editado um MP permitindo a suspensão de contratos de trabalho sem qualquer garantia salarial. Recuou diante da retumbante reação negativa, que levaria à rejeição ou devolução da medida pelo Congresso.

Ele calcular que a “histeria” com a “gripezinha” atrapalha seus planos. Que quarentenas estaduais, como a imposta em São Paulo e em outros estados, terão um custo econômico que seria menor com medidas mais brandas, ainda que mais gente morra. “Alguns vão morrer mesmo”, disse ele, dando como exemplo a própria mãe, de 92 anos, se for contaminada. No início desta divergência imoral sobre o enfrentamento da crise sanitária ele foi claro: “se quebrar a economia, acabou o meu governo”. O que ele não sabe é que a realidade falou pela boca do haitiano da porta do Alvorada. Seu governo já acabou, embora ele continue no cargo e tendo caneta. Por ironia, graças ao coronavirus, que impedindo manifestações, admite  apenas panelaços nas varandas contra ele.

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Pensando apenas na cadeira e no poder, Bolsonaro não vai liderar qualquer plano nacional de combate ao coronavirus, como têm feito outros governantes mundo afora, nem medidas efetivas para reduzir a devastação social. Ele e Guedes não conseguiram, até agora, sequer dar forma legal ao pouco que anunciaram.  Há medidas para socorrer empresas, adiamento de impostos e linhas de crédito, como esta anunciada pelo BNDES, mas não para proteger desempregados e desvalidos.

Os governadores seguirão, sob seus ataques, tomando as medidas drásticas que puderem. Independentemente de cor partidária, todos estão assumindo suas responsabilidades. A indústria, por conta própria, vem se ajustando, tratando de produzir os bens e insumos mais necessários. O Ministério da Saúde seguirá fazendo o possível na frente sanitária, como se fosse um apêndice do governo, enfrentando críticas públicas de Bolsonaro com frequência. Mandeta aguentará até quando?

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O governo federal poderia estar tomando medidas enérgicas para reduzir a propagação do vírus, fechando de fato os aeroportos e  reduzindo a circulação entre os estados, mas não quer fazer nada que deprima mais a economia, embora nesta altura a recessão aguda seja inexorável.

A população sabe quem está trabalhando para protegê-la. Na pesquisa Datafolha, a aprovação aos governadores, de 54%, é 19 pontos superior à de Bolsonaro (35%).  Incompreensível  é que ainda existam 35% aprovando sua conduta desvairada e irresponsável.

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Se as medidas tomadas por governadores e demais agentes públicos responsáveis conseguirem evitar uma tragédia de grandes proporções, com um número não italiano de mortes e infecções, ele vai tentar faturar o trabalho alheio e os culpará pelas consequências econômicas.

Agora, se acontecer a tempestade perfeita, milhares de mortes com depressão econômica e convulsão social, ele poderá se aproveitar para fazer o que sempre desejou: invocar uma “desordem”, uma situação disruptiva para quebrar a ordem constitucional e impor seu projeto autoritário.

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Como advertiu hoje na Folha de S. Paulo o economista Eduardo Giannetti, o descontentamento com Bolsonaro na pandemia pode levar a uma conflagração. Mas como ela terminaria? Com seu afastamento, seja de que modo for, ou com um golpe dado por ele?

Por mais esta importante razão, Bolsonaro teria que ser removido o quanto antes, embora ninguém saiba dizer como isso será possível em plena pandemia.

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