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Tereza Cruvinel

Colunista/comentarista do Brasil247, fundadora e ex-presidente da EBC/TV Brasil, ex-colunista de O Globo, JB, Correio Braziliense, RedeTV e outros veículos.

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A batata de Bolsonaro está assando

"O único pacto que pode salvar o país é o pacto por sua remoção da Presidência. É para um pacto que desta ordem que apontam os movimentos em curso na superestrutura do país - dos governadores, do capital, do próprio Centrão", escreve a jornalista Tereza Cruvinel

Jair Bolsonaro sozinho no Palácio do Alvorada (Foto: Twitter/EmirSader)
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O pior tipo de ignorante é aquele que se acha sábio, diz o senso comum, ou autor que desconheço. O pior tipo de ignorante é aquele que fabrica outros ignorantes, emendo com Marcel Proust. Jair Bolsonaro se enquadra nas duas condições. Agarrado à sua ignorância e aos que fabrica e atrai, não percebe que pode estar em curso a convergência política para a salvação nacional, que exigirá sua remoção do cargo.

Não estou afirmando que isso vá acontecer, através do impeachment ou de um processo por crime comum, mas que há uma batata assando, isso há.  Pode ser que um milagre apague o fogo, mas amplia-se, a olhos vistos, seu isolamento. Cresceo entendimento de que, se ele não for parado, viveremos um desastre bíblico.

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Bolsonaro não compreendeu a crispação de sua relação com o Centrão a partir da molecagem que cometeu na escolha do novo ministro da Saúde. Nem o quanto pesou, para os congressistas, a morte do senador Major Olímpio, um aliado de primeira hora que dele não mereceu uma só palavra de pesar.

Não compreende a natureza essencial do Centrão, um bloco parlamentar conservador que, em primeiro lugar, é súdito do poder econômico. Que só servem a governantes de plantão enquanto  têm o aval dos verdadeiros donos do poder. Quando o capital disser "basta", o Centrão será o primeiro a obedecer.

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Bolsonaro não entendeu  importância da Carta do Capital, o documento que mais de 1500 empresários, executivos e economistas do campo liberal já assinaram, apontando o fracasso do governo no enfrentamento da pandemia, enumerando os erros crassos que vêm sendo cometidos, condenando o negacionacionismo e pedindo alinhamento com a ciência, mudança de rumo e adoção das medidas necessárias. Disseram tudo isso sem escrever o nome dele e sem mencionar a necessidade de seu impedimento, seja por que via for.

Bolsonaro respondeu com a arrogância dos ignorantes: não vai mudar porque ninguém o convenceu ainda de que as medidas de isolamento podem acabar com o virus. Então, ele não mudará, seguirá, como diz, defendendo a economia. Lorota, porque quanto mais dura a pandemia, com isolamentos parciais que nada resolvem,  e a vacinação caminha a passos de cágado, mais sofre a economia.

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Quanto a acabar com o vírus,  ninguém jamais afirmou que o isolamento, brando ou mais duro, na forma do lockdown, produzirá este resultado. Mas o isolamento contém a circulação do vírus, que como diz o doutor Miguel Nicolelis, hoje domina completamente o Brasil. E reduzindo o número de infectados, o isolamento evita o colpaso da rede hospitalar, a falta de oxigênio e de remédios para uso nas UTIS, mazelas que já estamos enfrentando.

Fato é que Bolsonaro não entendeu o recado do capital, acha que tem o Centrão na mão e há poucos minutos, enquanto escrevo, perdeu no STF, pelo voto do ministro relator, Marco Aurélio Mello,  a  ação que moveu contra os governadores que estão adotando medidas mais duras.

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Com o país à beira do abismo, ele só conta mesmo hoje com os bolsões radicais da extrema direita. Os militares? Seguem no governo, agraciados com 22% das verbas do Orçamento, ocupando cargos importantes. Um ministério até será criado para garantir ao general  Pazuello o foro especial do STF, por conta dos crimes cometidos na pandemia, especialmente os de Manaus. Mas há fricções. A citação reiterada das Forças Armadas, nas ameaças de golpe que  Bolsonaro faz e depois nega, para manter o país acuado, vêm irritando setores militares. Apoio para uma quartelada Bolsonaro não terá deles.

O que está em curso - ainda que possa não chegar ao desfecho desejado - é a formação de uma coalização para a salvação nacional. E com Bolsonaro, não haverá salvação. Se chegar a tomar forma, ela contará com a oposição de esquerda, com boa parte da direita liberal, com toda a ciência e com  os setores mais decisivos do capital (porque o agronegócio sofre mas segue calado).  Deste ensaio fazem parte as conversas para uma aproximação PT-PSDB.

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O Centrão? Quando vier a ordem para jogar Bolsonaro ao mar, não hesitará. Foi assim com Dilma.

Mas Bolsonaro segue impávido em suas convicções, fazendo cada vez mais por merecer o epíteto de genocida. Não vai renunciar a ser o que é. Não fará concessões, como se verá no teatrinho de amanhã, quando se reunirá com os chefes dos outros poderes para discutir um pacto contra a pandemia.

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O único pacto que pode salvar o país é o pacto por sua remoção da Presidência.  É para um pacto que desta ordem que apontam os movimentos em curso na superestrutura do país - dos governadores, do capital, do próprio Centrão. Enquanto isso, a economia sangra,  os brasileiros morrem, alguns asfixiados, cadávares se amontam, já acontecem enterros à noite, porque o dia é curto para tanta morte,  mais pessoas vão morar na rua, mais pessoas passam fome.

O povo está cansado, sofrido e sangrando. Mais uma vez, a crise talvez exija um pacto pelo alto, reunindo inclusive os que nos levaram a ter Bolsonaro na Presidência.

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