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Maria do Rosário

Deputada federal (PT-RS) e ex-ministra da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República

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A Carta, o Áudio e a Infâmia

Se havia dúvida quanto à natureza golpista do vice, em sintonia fina com o presidente que ajudou a eleger na Câmara, não há mais. Diante de tudo isso, é totalmente pertinente a declaração do Ministro Jaques Wagner de que a derrota do golpe no próximo domingo fará restar a Temer uma única alternativa, a renúncia ao cargo de Vice-Presidente da República

Se havia dúvida quanto à natureza golpista do vice, em sintonia fina com o presidente que ajudou a eleger na Câmara, não há mais. Diante de tudo isso, é totalmente pertinente a declaração do Ministro Jaques Wagner de que a derrota do golpe no próximo domingo fará restar a Temer uma única alternativa, a renúncia ao cargo de Vice-Presidente da República (Foto: Maria do Rosário)
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O áudio supostamente vazado do vice-presidente da república, Michel Temer, se pronunciando como se o impeachment tivesse sido aprovado pela Câmara dos Deputados, me remeteu a uma passagem que envergonhou a história do parlamento brasileiro. De vileza comparável a dos atores que protagonizaram o que foi alcunhado pelo escritor Fernando Morais como dia da infâmia.

Em outro abril, 52 anos atrás, este Congresso Nacional foi palco de uma cena que marcou o início de um período sombrio que persistiria por mais de duas décadas. Na ocasião o senador Auro de Moura Andrade declarou vaga a Presidência da República afirmando que o presidente João Goulart que, como sabemos estava em território nacional, havia deixado o país. Era dado o golpe diante de um indignado Tancredo Neves que do plenário gritava três vezes: “canalhas, canalhas, canalhas”.

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Os canalhas de hoje se multiplicam sem pudor, contrariados com a decisão soberana e popular que reconduziu Dilma à presidência, promovem hoje o golpismo à luz do dia. Há entre esses, porém, duas categorias: daqueles que abertamente se engajaram neste propósito desde o momento em que os votos terminaram de ser apurados em 2014, e outros que até pouco tempo se valiam de tática sorrateira. Tão golpistas quanto os demais, os da segunda categoria foram além, tornando-se verdadeiros traidores. O maior exemplo deste caso é sem dúvidas do vice-presidente.

Após integrar por duas vezes a chapa de Dilma, e assumir a articulação política do seu segundo governo, Temer opera sua deposição de forma sórdida. Em dezembro de 2015 criou uma peça de ficção em que afirmava ter escrito uma carta endereçada à presidenta que, segundo sua versão, teria sido interceptada. Agora quer nos fazer crer que mais uma vez teve uma declaração privada publicizada por engano, zombando da inteligência do povo brasileiro.

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Muito diferente de José Alencar e de Marco Maciel que cumpriram o papel institucional que cabe aos vice-presidentes, e apoiaram seus respectivos companheiros de chapa, diferente inclusive de Itamar Franco que só se pronunciou após o término do processo de impeachment de Collor, Temer usa de um subterfúgio para conquistar um mandato para o qual não foi eleito. Aliás, pesquisa divulgada por Datafolha recentemente indica que pelo voto Temer jamais seria presidente, dado que em um cenário alcança apenas 1% das intenções de voto e em outro se limita aos 2%.

Seu pronunciamento aprofundou a nitidez programática já presente no documento “Uma Ponte para o Futuro”. Conspirador por excelência, afirma ter enviado o áudio por engano, no entanto podemos intuir que buscou dar o seu recado aos especuladores, aos empresários e aos parlamentares. Diz com todas as letras que haverá sacrifício, mas não de todos, e sim do povo brasileiro; que o Estado será reduzido; que não mexerá em direitos adquiridos ao mesmo tempo em que cita a necessidade de reforma da previdência e da legislação trabalhista. Como confiar na palavra de alguém que por convicção prioriza o capital ao trabalho e durante anos agiu nas sombras para derrubar a pessoa que mais lhe depositou confiança?

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O poder econômico, que de forma tão nociva influencia o sistema político brasileiro mais uma vez entra em cena. Temer mostra que topa tudo para contar com auxílio luxuoso da FIESP e correlatos, bem como do capital financeiro internacional, para pressionar os deputados a concretizarem um golpe institucional.

Demonstra ainda completo desrespeito pela Câmara dos Deputados. Cabe aos parlamentares decidir pela autorização ou não da instauração de processo de impedimento, não a ele antecipar qualquer decisão que seja. Sua fala diminuiu os legisladores, tratando como massa de manobra pessoas que, diferente do que é sua pretensão, ocupam importante espaço institucional a partir da legitimidade conferida pelo voto. Pretende exclusivamente que os parlamentares atendam ao seu interesse de levar adiante um impedimento sem crime de responsabilidade, um golpe.

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Nitidamente disputa votos, como se numa eleição indireta estivesse. Em seu discurso antecipado apresenta-se como um ator que teria capacidade de unir o país. Pura vaidade, falta-lhe o amálgama capaz de unir uma nação que é a legitimidade da votação popular, e a certeza de que preza pelo cumprimento da Constituição.

Tal como Auro Moura Andrade mentiu aos seus colegas e ao povo brasileiro, Temer repete a infâmia ao consolidar em seu devaneio um golpe que não será consumado, ao vestir a faixa presidencial sem ser autorizado pelo voto a fazê-lo. Se havia dúvida quanto à natureza golpista do vice, em sintonia fina com o presidente que ajudou a eleger na Câmara, não há mais. Diante de tudo isso, é totalmente pertinente a declaração do Ministro Jaques Wagner de que a derrota do golpe no próximo domingo fará restar a Temer uma única alternativa, a renúncia ao cargo de Vice-Presidente da República.

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Suas declarações, carta, e áudio entrarão para a história como melancólicas expressões da sede pelo poder. Nossa luta, como resistência legítima de uma gente que não aceita que nossa democracia seja maculada.

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