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Denise Assis

Jornalista e mestra em Comunicação pela UFJF. Trabalhou nos principais veículos, tais como: O Globo; Jornal do Brasil; Veja; Isto É e o Dia. Ex-assessora da presidência do BNDES, pesquisadora da Comissão Nacional da Verdade e CEV-Rio, autora de "Propaganda e cinema a serviço do golpe - 1962/1964" , "Imaculada" e "Claudio Guerra: Matar e Queimar".

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A construção de uma frente exige cuidados

A colunista Denise Assis comenta as articulações da esquerda para as próximas eleições. Ela diz: "tem razão o governador do Maranhão. Depois da demonstração do “Goebbels tropical”, não dá para pensar que os ultradireitistas estão brincando. É hora mesmo de ampliar ao máximo o leque das negociações. Isto, sem perder de vista a História recente, que é sempre boa conselheira"

Defendamos a candidatura de Flávio Dino (Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil)
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Por Denise Assis, para o Jornalistas pela Democracia - Quando deixou a presidência, em 2010, e passou a faixa para a sua substituta, Dilma Rousseff, o ex-presidente Lula havia se comprometido com D. Marisa a desfrutar por um período o que nunca tinha conseguido fazer. Enroscar-se no sofá da sala com a esposa, vendo os netos brincando ao redor. Passar um período dedicado exclusivamente à família, que sempre esteve às voltas com as suas cambalhotas políticas. Doce ilusão. Arrastado para o centro do turbilhão do golpe e das mesuras da Lava-Jato, Lula foi, isto sim, tirado do convívio da família por 580 dias. 

Hoje, aos 74 anos, viúvo e novamente apaixonado, Lula, desde que deixou a prisão, reorganiza o Partido dos Trabalhadores, usando dos seus 50 anos de experiência em negociações e estratégias. Como um chefe de família que conserta o telhado, observa onde tem goteiras, furos que pedem reparos. O breve afastamento da cena política para realizar esse trabalho – embora não tenha saído de cena, basta observar o tanto de entrevistas que tem concedido – fez parecer que Luiz Inácio Lula da Silva havia tirado um período para si. E, finalmente, estivesse em casa namorando e lendo livros, (hábito que adquiriu na prisão), como sempre sonhou. 

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Não está. Suas “costuras”, porém, não têm tido destaque a não ser na blogosfera ou na mídia alternativa. Como em política não existe vácuo de poder, o espaço na grande mídia vem sendo ocupado pelos que correm para saltar sobre o calendário eleitoral de 2020 e chegar logo a 2022. Luciano Huck está se pavoneando em Davos, se vendendo como alguém interessado em desigualdades. No Brasil, Sergio Moro tenta se lançar como um nome viável, mas mal colocou a cabeça de fora ao aparecer como possibilidade no programa Roda Viva e já Bolsonaro, em seu melhor estilo, armou o porrete para desfechar um golpe nos seus planos. (Aqui, é necessário abrir um parêntese para dizer que, como presidenciável, Moro precisa parar de torturar as vogais, espremendo-as na garganta, fazendo-as sair esganiçadas e prolongadas).

Do lado progressista, o governador do Maranhão, Flávio Dino, passeia pelos vários segmentos políticos, numa tentativa de armar uma frente tão ampla que engloba até mesmo o ex-presidente Fernando Henrique, o padrinho do golpe e do Huck, o liberal com quem o governador também dialoga. "Quando me reúno com Fernando Henrique, Luciano, Rodrigo Maia, não estou reunido com o indivíduo, estou mostrando que o segmento social tem representatividade", afirmou. Antes assim.

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Tem razão o governador do Maranhão. Depois da demonstração do “Goebbels tropical”, não dá para pensar que os ultradireitistas estão brincando. É hora mesmo de ampliar ao máximo o leque das negociações. Isto, sem perder de vista a História recente, que é sempre boa conselheira. Mesmo fazendo a ressalva de que suas conversas são conceituais, e não pessoais, seria de bom tom, por exemplo, que Dino se inteirasse da enorme capacidade de Fernando Henrique trair os que estiveram ao seu lado. 

Consta que no início de 1997 foi firmado um acordo de cavalheiros de que ao deixar o mandato, FH cederia a vez para aquele que o apadrinhou como seu sucessor – e deixou o governo com alto índice de aprovação - o ex-presidente Itamar Franco. Até aquele ano, não havia no horizonte (tampouco na Constituição Federal), o expediente da reeleição. Por isto, o natural seria que Itamar se preparasse para concorrer na convenção do seu partido (PMDB), realizada em março de 1998, a indicação como candidato à presidência. 

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Ultrapassando esses princípios e principalmente o fazendo em proveito próprio - o que sem dúvida caracterizou um golpe -, Fernando Henrique instituiu a reeleição encaminhando ao Congresso uma Emenda Constitucional, aprovada em 6 de junho de 1997. E, pior, em conluio com uma ala do PMDB, trabalhou para que optassem por apoiar o seu nome como candidato, e não lançasse candidatura própria, (a de Itamar), na convenção.

E foi o que foi feito. FH rachou o PMDB, que seguiu assim até a eleição. O senador Ronaldo Cunha Lima (PB), que defendeu a candidatura própria, disse: "Houve uma descortesia. Humilharam o Itamar Franco. Vai ser difícil reconstruir a unidade do partido". No jornal Folha de São Paulo, da época, é possível entender o que se passou: “O maior derrotado na convenção foi o ex-presidente Itamar Franco, que desejava ser o candidato do PMDB. O Palácio do Planalto temia que a candidatura de Itamar levasse a disputa para o segundo turno. Os governistas jogaram pesado na convenção, com ataques pessoais a Itamar. O ex-presidente foi humilhado”. 

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Reeleito, FHC tratou de ir tirando do Palácio, aos poucos, todos os nomes que Itamar indicou para participar do seu governo. É assim, a sua natureza. Portanto, ao aproximar-se dele, é bom ter esses fatos em mente.

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