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Emir Sader

Colunista do 247, Emir Sader é um dos principais sociólogos e cientistas políticos brasileiros

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A crise do governo argentino

"Não é claro que Alberto Fernández será o candidato consensual do peronismo, assim como não fica claro que o governo atual terá continuidade", diz Emir Sader

Alberto Fernández e Cristina Kirchner (Foto: Agustín Marcarian/Reuters)
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Por Emir Sader

Há um princípio da política argentina que diz que, se o peronismo está unido, ganha. Se está dividido, perde.

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A vitória de Alberto Fernández como presidente se deveu, em grande medida, pela capacidade de articulação. Que lhe permitiu recuperar a unidade do peronismo, enfraquecida nos últimos anos do governo de Cristina Kirchner é considerada justamente uma das razões da derrota do seu candidato para Mauricio Macri.

Alberto Fernández iniciou seu governo com grande apoio, mas teve que enfrentar, logo no início, o começo da pandemia. Seu governo foi o que decretou o lockdown mais longo de todos, mesmo com a resistência da oposição.

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Houve uma surpreendente derrota nas eleições parlamentares, em que o governo perdeu até mesmo na província de Buenos Aires, região que concentra grande parte da classe operária peronista. Como a renovação do Congresso não era integral, o governo perdeu a maioria absoluta, mas manteve a maioria relativa.

As razões da derrota foram duas: a primeira, a subestimação por parte do governo das graves condições de vida da massa da população, para que o governo não tivesse posto em prática algum tipo de plano emergencial. A outra, foi a inflexibilidade do Ministério de Educação sobre o retorno dos estudantes às escolas. Toda a equipe do Ministério foi substituída.

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Não bastasse isso, o governo teve que renegociar a dívida da Argentina com o FMI. A dívida tinha sido renegociada pelos governos de Nestos e Cristina Kirchner, mas o governo de Macri contraiu novas dívidas, que tiveram que ser renegociadas por Alberto Fernández. 

Um tipo de negociação que provoca reações muito tensas por parte da esquerda. Um tema difícil, mas cuja não renovação implicaria que o FMI decretasse o calote da Argentina, com todas as consequências.

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O governo renegociou com o FMI, nas condições menos piores para a Argentina. Mas o desgaste foi maior, porque voltou a dividir o peronismo. Máximo Kirchner, filho do Nestor e da Cristina, renunciou a seu cargo de líder do governo na Câmara de Deputados, por divergir com a assinatura do acordo com o FMI.  Ficou no ar a ideia de que a Cristina, vice-presidenta da república, tampouco estaria de acordo.

Pouco tempo depois saíram nos meios de comunicação dois documentos, um assinado por albertistas, outro por cristinistas. Pronto: instaurada de novo a divisão do peronismo, sinal de nuvens no horizonte. Horizonte em novas eleições parlamentares e, principalmente, nas eleições presidenciais de 2023. Já não fica claro que Alberto Fernández será o candidato consensual do peronismo, assim como não fica claro que o governo atual terá continuidade, porque a oposição, embora dividida, se entusiasma com as crises internas do governo.

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Assim, o retorno de um governo anti-neoliberal na Argentina, depois do interregno curto de um mandato do governo neoliberal de Mauricio Macri, pode não ter continuidade. Pode ser que a provável eleição do Lula tenha efeitos na Argentina e permitam um novo impulso no governo de Alberto Fernández. Que teria um ano de convivência com uma economia brasileira voltando a crescer, com efeitos positivos sobre a Argentina. E com a vitória do Lula pode permitir que o governo antineoliberal na Argentina possa recuperar força. Contanto que o peronismo volte a se unir.

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