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Emir Sader

Colunista do 247, Emir Sader é um dos principais sociólogos e cientistas políticos brasileiros

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A democracia brasileira no seu labirinto

"Das eleições de 2022 depende o futuro do Brasil. Ou essa ruptura e a afirmação de um autoritarismo blindado militarmente ou o resgate da democracia, com a derrota e a derrubada do regime surgido no golpe de 2016", escreve o sociólogo Emir Sader

(Foto: ABr | Marcos Corrêa/PR)
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Por Emir Sader 

O Brasil vive uma profunda crise de representação política, aquela em que a massa da população não se sente representada nos seus partidos, no sistema político e no próprio Estado. É uma crise de hegemonia política e ideológica.

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Uma situação introduzida pela nova ruptura da democracia em 2016. O Brasil havia vivido quase 20 anos de democracia política, desde 1945 até o golpe de 1964.

Teve uma ditadura por 21 anos – de 1964 a 1985. Uma transição de 1985 a 1990 e um novo período democrático de 1990 a 2016 – 26 anos.

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No total, em 76 anos, o país viveu 46 anos de democracia política, 21 de ditadura, aos que agora se somam outros 5 de autoritarismo, em um total de 26 anos de ausência de democracia.

O que caracteriza o período atual é a crise de representatividade, tanto do Estado, como do sistema político no seu conjunto e dos partidos políticos. O sistema de partidos, ressurgido na transição democrática, entra em profunda crise.

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O MDB, o DEM e o PSDB, os partidos tradicionais da direita e do centro, se esgotaram. Perderam representatividade, força política e projetos para o país. 

O PT e’ o único partido representativo nacionalmente. Passou por um período difícil quando foi vítima do golpe de 2016 e da prisão do Lula. Mas se recuperou plenamente com a recuperação dos direitos do Lula e voltou a um processo de fortalecimento, ocupando o centro das forças de oposição no país.

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O sistema político se desmoralizou com o golpe que impediu Dilma de governar seu segundo mandato, para o qual tinha sido reeleita. O governo Temer já foi um governo ilegítimo, fruto de um golpe e não do voto popular. Se reverteram as políticas que tinham sido aprovadas em quatro eleições democráticas. O sistema político e o governo perderam legitimidade e representação.

As eleições de 2016 foram a institucionalização da perda de legitimidade do sistema politico, com a exclusão ilegal do Lula – favorito para ganhar no primeiro turno. E com a campanha promovida por fake news e por outras formas ilegais de manipulação, que levou o Bolsonaro a uma nova presidência ilegítima. O sistema político perdeu qualquer forma de legitimidade, deixando de representar democraticamente aos brasileiros. 

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Ele veio para destruir a velha política, para acabar com a corrupção, para liquidar o PT, para reduzir o Estado à sua mínima proporção, para depurar a economia, para unir a direita, para projetar uma nova liderança no Brasil.

Hoje tudo isso se evaporou. Ele pratica a mais torpe política de troca-troca com os partidos fisiológicos do Congresso. Ainda assim, não basta. Quanto mais cede, mais fraco fica, mais tem que ceder, mais depende desses partidos, que cobram preço cada vez mais alto.

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Ao tentar usar o Centrão a seu favor, Bolsonaro se torna prisioneiro do Centrão. Um conjunto de partidos que joga o toma-lá-dá-cá, impede o impeachment no Congresso. Mas que, conforme passa o tempo, precisa pensar na sobrevivência de cada parlamentar, que passa a olhar as eleições de 2022 e calcula a carga de fazer campanha com o peso do Bolsonaro nas costas. Passa a discutir até o impeachment, mesmo que seja para aumentar o preço para Bolsonaro.

O Centrão tende a se afastar e a deixar o governo completamente vulnerável ao impeachment e, sobretudo, condenado à derrota eleitoral em 2022. Terminará de vez a ilusão da reeleição para o Bolsonaro.

Se foi o candidato escolhido para derrotar o PT, o fracasso do governo de Bolsonaro se dá ao mesmo tempo o fortalecimento do PT e do novo favoritismo do Lula para ser eleito presidente do Brasil.  

A possibilidade de que a economia entrasse em um período de recuperação se esgotou. O aumento da inflação e as incertezas políticas projetam, ao contrário, uma estagflação para 2022.

Esgotado o projeto do governo, Bolsonaro eleva o tom das suas ameaças, como fez no 7 de setembro, com péssimas repercussões para ele. Cada vez menos parece possível a reeleição e a ele resta a via da ruptura institucional.

Das eleições de 2022 depende o futuro do Brasil. Ou essa ruptura e a afirmação de um autoritarismo blindado militarmente ou o resgate da democracia, com a derrota e a derrubada do regime surgido no golpe de 2016.

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