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Ronaldo Lima Lins

Escritor e professor emérito da Faculdade de Letras da UFRJ

203 artigos

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A doença da ofensa

(Foto: Reprodução Twitter)
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De repente, temos surtos de Covid. O desvio incomum vai e volta como bumerangue. Quando parece controlado, assalta novamente, apesar das vacinas, dos cuidados de isolamento, das máscaras e dos acessos de mau-humor. Somos um país com raros contenciosos e não estávamos habituados a isso. Ninguém gosta de patologias sociais. E não é a única que nos acomete. No meio das nossas confusões, desenvolvemos uma nova peculiaridade: a doença da ofensa. Tem a ver, claro, com quem ocupa a cadeira de primeiro mandatário. Ele não suporta desavenças de concepções ideológicas sem ofender adversários, como assistimos nos debates televisivos entre candidatos. Pois, por uma corrente que avança pelos fios elétricos de comportamentos, eis que nos deixamos contaminar, pouco a pouco, por esse prazer novo, o de atingir contemporâneos, ferindo-os pelos valores morais como se, assim, pudéssemos derrubá-los. 

No Catar, no decorrer da Copa do Mundo, foi o que ocorreu como o nosso querido Gilberto Gil. Um homem de sua estatura, compositor de extraordinário talento como é, em qualquer outro lugar seria alvo de homenagens, cerimônias de respeito no Panteão dos notáveis do passado, do presente e do futuro. Em vez disso, cercou-o um grupo de violentos que o escolheram como vítima. Coroaram a cena com um “filho da puta!” despropositado e estúpido, fora de hora e de lugar. Com a elegância que sempre o notabilizou, Gil se limitou a silenciar, não reagiu às provocações. A repercussão dos fatos, colhendo a comunidade de surpresa, bateu nos quatro pontos do planeta. Não se tratou de um incidente irrisório, a jogar na primeira oportunidade para baixo do tapete. Foi algo de maior importância, significativo de nosso momento vivido, a pensar e, se possível, corrigir com determinação. 

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Os agressores de Gil não se acham sozinhos. Acompanha-os o próprio Jair Bolsonaro no seu destempero de perdedor, qualificando Lula de desonesto, quando sabe bem que o mesmo não passou de vítima de um juiz parcial que trabalhava com projetos políticos de direita. Outros seguidores imitam o mestre. Já vimos a deputada Carla Zambelli, atrás de um desafeto, de arma na mão, ameaçando-o e o ofendendo. Ela é uma imitadora de talento, namorando, quem sabe, com a ideia de substituir o chefe na liderança de suas facções. Mas há outros, os que aprenderam a anular contemporâneos dentro das normas da doença, uma vez que ela pegou feio e se deixam contaminar, como quem contrai lepra ou tuberculose. Tudo chega tão longe por força do rancor e do desgosto por uma derrota mal digerida, ainda atravessada no estômago. 

Gil estava certo. A única forma de enfrentar com o antídoto da paz esta guerra consiste em se valer dos princípios da civilidade. Educação, respeito pelo outro, cuidado e solidariedade com os humildes, se não vence a bactéria, torna menos dura e cruel a perversão em curso. Realmente, nas últimas eleições não se tratava de derrubar uma proposta alternativa. Tratava-se de corrigir e vencer um projeto. De infelicidade, tomáramos taças transbordantes. Agora desejamos vacinas, tirar a fome das ruas e colher sensibilidade; se possível, restaurar a civilidade perdida em nome de um Brasil tolerante e fraterno.

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