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Moisés Mendes

Moisés Mendes é jornalista, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim). Foi editor especial e colunista de Zero hora, de Porto Alegre.

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A droga da euforia bolsonarista

"Bolsonaro quer ver todo mundo, sob qualquer suspeita de estar com o coronavírus, tomando o remédio milagroso. É só no que ele fala, para distrair a atenção dos que só pensam no Mandetta", escreve o colunista Moisés Mendes. "A propaganda do remédio dos milagres já mantém as tropas bolsonaristas em alerta", diz. "Falar da droga é estimulante para a tropa"

A droga da euforia bolsonarista (Foto: Reuters | Reprodução)

O Pervitin foi a droga da euforia dos nazistas. Era feita de metanfetamina e mantinha os soldados em alerta, principalmente os pilotos de aviões.

A cloroquina, até agora usada com bases científicas para doenças específicas, pode ter seu uso desvirtuado e ficar na História como a droga da euforia dos bolsonaristas.

Mas a cloroquina, como a metanfetamina, é o genérico do princípio ativo. O bolsonarismo precisa encontrar um nome fantasia para o seu remédio milagroso.

Não vale dizer que, como a droga dos nazistas se chamava Pervitin, a droga do bolsonarismo pode se chamar Perversão.

Bolsonaro quer ver todo mundo, sob qualquer suspeita de estar com o coronavírus, tomando o remédio milagroso. É só no que ele fala, para distrair a atenção dos que só pensam no Mandetta.

A notícia de hoje é sobre a produção de 2,2 milhões de comprimidos de cloroquina pelo laboratório do Exército, para uso no tratamento de coronavírus.

O laboratório vai aumentar a produção para 1 milhão de comprimidos por semana. É uma ordem expressa de Bolsonaro, o presidente que manda fabricar um remédio sem comprovação de que funciona para o que ele deseja combater, se é que deseja mesmo.

Mas há uma contradição, ou apenas mais uma. Se a pandemia vai passar logo, como disse Bolsonaro no domingo a pastores evangélicos, para que tanto remédio?

Sabe-se que o próprio Bolsonaro receita cloroquina para seus auxiliares, como Hitler fazia com algumas das dezenas de drogas que tomava.

O presidente do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), coronel Homero Cerqueira, toma a hidroxicloroquina, prima rica da cloroquina, por recomendação do chefe.

Até o famoso médico Roberto Kalil é usado por Bolsonaro como propagandista, nem tão involuntário, da mesma hidroxicloroquina, que foi consumida por ele no tratamento da Covid-19.

Só a propaganda do remédio dos milagres já mantém as tropas bolsonaristas em alerta. Estão todos bem acordados, porque falar da droga é estimulante para a tropa.

Alguns podem dizer que o Pervitin era usado para a guerra e que a cloroquina é usada para a paz e que Hitler e Bolsonaro são diferentes. A estes em dúvida sobre uns e outros é preciso sugerir que tomem chá de cogumelo.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.