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Marcia Tiburi

Professora de Filosofia, escritora, artista visual

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A economia política do estupro

"Não há mais igualdade perante a lei, pois a desigualdade econômica está aí favorecendo os muito ricos", diz Marcia Tiburi

Daniel Alves no tribunal durante o primeiro dia de julgamento por acusação de estupro em Barcelona, Espanha 05/02/2024 (Foto: Alberto Estevez/Pool via Reuters)
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Desde que o jogador estuprador Daniel Alves teve uma fiança de 5 milhões de reais quase paga por Neymar, outro jogador, anteriormente também acusado de estupro, várias pessoas se deram conta de um fator lógico que incide na cultura do estupro, a saber, homens ricos podem estuprar, pois eles podem pagar uma fiança e, assim, ser libertos de uma pena. Neymar acabou não pagando os tais milhões desde que as críticas se intensificaram nas redes sociais, mas já havia pago 150 mil Euros como indenização para a vítima de Daniel Alves. 

Assim é a lei da Espanha, país colonialista e machista, que favoreceu Daniel Alves. A questão lógica segue: se homens podem pagar, trocando a pena pelo dinheiro, é porque a pena é fungível com o dinheiro não representando nada mais do que ele. E se a pena não vale mais do que o dinheiro é porque o objeto do crime vale menos ainda. De fato, se trata de um bom dinheiro pelo qual se vê a justiça reduzida ao mercado como tudo no neoliberalismo. 

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Se o estuprador rebaixa a humilha pela violência, e seu ato é um crime que deve ser punido porque ofende o direito de outrem e sua dignidade como pessoa humana, e se tudo isso pode ser trocado por dinheiro, na verdade, por um dinheiro que somente ricos pode pagar, significa que não existe mais direito e estamos lançados na barbárie na qual apenas os grandes concentradores de renda podem se dar bem. 

Não há mais igualdade perante a lei, pois a desigualdade econômica está aí favorecendo os muito ricos para quem a lei é flexível ou mais bondosa. A cultura do estupro se confirma como parte essencial do capitalismo em seu instante neoliberal. 

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Teóricos do valor perceberam que o valor é o homem. O pagamento do estuprador deixa claro que as mulheres são um não-valor. O dinheiro fetichizado, o valor que tudo permite, confirma-se como arma que aniquila mulheres, vistas e tratadas, na cultura do estupro como coisas absolutamente sem valor. O homem vale, o dinheiro que ele tem vale a sua liberdade. Já as mulheres não são sequer mercadorias. Falamos em cultura do estupro, mas é a economia política do estupro, onde as mulheres são descartáveis, o que está na base do patriarcado capitalista. 

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