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Celso Raeder

Jornalista e publicitário, trabalhou no Última Hora e Jornal do Brasil, é sócio-diretor da WCriativa Marketing e Comunicação

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A elite fabricou a esquerda no Brasil

Se o PT não compreender o recado das urnas neste ano, corre o risco de ver o ex-governador do Ceará, Ciro Gomes, que tem muito mais laços de fraternidade com as oligarquias do que com o povo, ocupar um espaço na sucessão presidencial que não se esforçou em nada para construir

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Tenho profundo respeito e admiração pelo professor Fernando Haddad, da mesma forma como reverencio o senador Jaques Wagner. Contudo, acho que ambos estão equivocados quando se posicionam de lados opostos sobre o futuro do PT e da importância política do ex-presidente Lula. Enquanto Haddad diz que “o PT é a sua militância”, Wagner propõe a “renovação dos quadros petistas”, dando como case de sucesso os ‘almofadinhas’ tucanos que cercam o prefeito de São Paulo, Bruno Covas. 

Não, meus caros! O PT não tem mais o direito de ser um partido de militantes. Acreditar nisso é reduzir a responsabilidade de uma legenda que comandou o país por 16 anos, justamente por ter sabido construir uma sólida base social para além dos seus filiados. Por outro lado, desde quando renovação é sinônimo de evolução? Ainda mais se os paradigmas da proposta do senador baiano forem o espelho do ‘modo tucano de governar’. 

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O que Haddad, Wagner, Lula, Boulos, Manuela não perceberam, é que todos nós caímos numa armadilha montada pela elite brasileira, que é essa dicotomia tupiniquim conhecida como esquerda e direita. Esse reducionismo é indispensável para que sujeitos como Jair Bolsonaro, Malafaia, Mourão, Olavo de Carvalho, entre outros, nos coloquem num cercadinho ideológico raso para limitar nossos movimentos. Por isso que, em ano eleitoral, perdemos tempo nos defendendo de mamadeiras de piroca, kit gay entre tantas outras babaquices que colocam na conta da esquerda.

Qual a necessidade de carregar todos os estigmas embutidos no conceito “esquerda”, acumulados de 1917 até a queda da União Soviética, se não somos saudosistas do Muro de Berlim, da Guerra Fria e de um comunismo que só existe hoje na retórica dos que usam o termo para assombrar a população? Será que ninguém está entendendo que os setores reacionários, donos das riquezas do país, são os maiores beneficiários com esse dualismo ideológico que se perdeu no tempo?

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Muita coisa muda com a substituição do paradigma “ser de esquerda”, pelo “ser do povo”. Pra que carregar bandeiras velhas e esfarrapadas, arrastando correntes que nunca foram políticas de governo do PT? Lula nunca manifestou simpatia por coisas do tipo “ditadura do proletariado”, “expropriação de riquezas” ou “expurgo de dissidentes políticos”, por exemplo. Sendo assim, é óbvio que esse jogo só serve para dar munição ao bando de blogueiros bolsonaristas. 

Sejamos, portanto, “uma força política do povo”.  Alguns poderão dizer: “Ah, mas o PT já é um partido do povo”. O problema é que esse valioso patrimônio da legenda está soterrado e precisa ser resgatado. Vozes solitárias aqui e acolá não geram unidade de pensamento. Agora mesmo estou vendo fiscais do IBAMA lutando sozinhos contra grileiros, desmatadores, garimpeiros invasores de terras indígenas, todos confiantes na impunidade subliminar do governo do Jair, sem que haja qualquer ato de solidariedade a estes profissionais. 

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Chico Buarque e Gilberto Gil só são convidados para gravar propaganda eleitoral? Gente! Cadê as correntes de solidariedade, abaixo-assinados, lives, qualquer outro meio virtual em função da pandemia de covid-19 em defesa da preservação da Amazônia e do Pantanal, do respeito aos povos indígenas, da implantação de políticas afirmativas e de inclusão das minorias, sobretudo de raça e gênero, a restauração dos direitos dos trabalhadores, a construção de um projeto educacional que mude a realidade de milhões de jovens brasileiros, o fortalecimento do SUS como principal meio de acesso à saúde de qualidade, o resgate das nossas riquezas naturais, vendidas em operações obscuras e lesivas aos interesses do país. 

Essa é a agenda que os partidos do campo progressista precisam apresentar ao povo, e que são preocupações materiais que nada têm a ver com ideologia de esquerda. Cada um desses itens trata de sobrevivência e de futuro, se contrapondo àqueles que querem transformar a floresta em pasto, que os rios sejam poluídos com mercúrio de garimpo, que jacaré e onça se afasta com fogo, que índio é preguiçoso e ladrão de terras, que o país não tem dívida nenhuma a ser paga aos pretos e pobres, que saúde é para quem pode pagar, e que o trabalho precarizado, sem direitos e perspectivas de aposentaria é a única saída para quem não quer morrer de fome. 

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Na política, esquerda e direita são dois lados de uma mesmo moeda. E por serem um corpo único – apesar de opostos -, a sociedade brasileira guarda o sentimento de estar tão somente diante de grupos disputando a alternância de poder. É esse o paradigma que estou propondo acabar. Dois anos de governo Bolsonaro foram suficientes para demarcar o campo de luta das forças progressistas, e pelos resultados das urnas nas eleições municipais, nem o PT e seus assemelhados, e muito menos as hostes Bolsonaristas, largam em vantagem para 2022. 

Se o PT não compreender o recado das urnas neste ano, corre o risco de ver o ex-governador do Ceará, Ciro Gomes, que tem muito mais laços de fraternidade com as oligarquias do que com o povo, ocupar um espaço na sucessão presidencial que não se esforçou em nada para construir. Por que vocês acham que Gomes rejeita o rótulo de ser de esquerda, de direita, de centro, muito pelo contrário? Por que ele entendeu exatamente o que venho tentando dizer desde a primeira linha que escrevi aqui. 

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