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Michel Zaidan

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A filosofia como interpretação

O trabalho dos historiadores da filosofia é mesmo reinterpretar e reinterpretar

(Foto: Divulgação)
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É  do  professor Norbet Bohz a definição da filosofia como interpretação, ao  se referir ao método "cabalístico"   de leitura  do mundo de Walter Benjamin. Mas ele caberia como uma luva a filosofia de Frederico Nietzsche. Intitulado o pai da filosofia  da suspeita (ao lado de mestres  como Freud e Marx), Nietzsche é chamado com justiça de retórico e nominalista,  em razão de  ter privilegiado a linguagem e a vontade de potência como como a base de seu pensamento filosófico. Estava lendo por estes dias uma das versões da  tese de doutorado de João Evangelista Tudde Melo  sobre ética   e cosmologia- à luz  dos pensadores pré-socráticos (Heráclito e os epicuristas), e me ocorreu essa idéia de que  na história da filosofia o que há é interpretação e reinterpretação. Dentro daquela perspectiva nietzschiana de que não existe nada  além da interpretação, guiada pela vontade de potência.

Um  trabalho tão interessante, tão bem informado como o de João Evangelista nos deixa um pouco frustrado quanto aos resultados inconclusivos sobre diversas questões  essenciais na filosofia de Nietzsche: o  eterno retorno do mesmo, teleologia,  a linearidade  da história, causalidade, o vir-a-ser do grande dia etc. O mostruário das questões é altamente sugestivo e convida o leitor a mergulhar   nas  controvérsias filosóficas de milênios (antes de Cristo). Louve-se a citação de uma boa bibliografia secundária de comentadores, historiadores da filosofia, exegetas etc. Mas o resultado deixa o leitor insatisfeito.

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Desde que Deleuze (e sua filosofia da diferença) reinterpretou  o pensamento de Nietzsche, afirmando  que  a tese do "eterno retorno não é do mesmo, mas do  diferente e novo. Os filósofos nietzschianos  vêm repetindo a tese,  contrariando toda a tradição filosófica consagrada:  Benjamin que  cita  Nietzsche e Blanqui,  reafirmando o eterno círculo do sempre igual. Luciano Oliveira, no seu livro sobre direitos humanos e a tortura. Deve haver uma razão, para além da vontade de reinterpretar o pensamento nietzschiano, em dizer que  o eterno retorno do mesmo  não é do mesmo, mas do não igual.

Nietzsche já foi apontado como o filósofo do niilismo, da iconoclastia,  do destruidor de idolos, crítico da civilização judaico-cristã, da morte de Deus etc. Hoje, pelo menos, aceita-se a tese de um niilismo positivo, criador - transvaloralizador  de valores (Jair Ferreira dos Santos, Scarlet Marton). O próprio Habermas se dispõe a falar de um criptonormativismo na  filosofia deste autor. Ou seja, um lugar  (normativo) do qual ele faz a sua crítica destruidora dos valores da civilização moderna. Mas será que isso autorizaria a reler ou reinterpretar todas as teses nietzschianas. Neste ou naquele sentido, como vem sendo feito, sobretudo por filósofos pós-modernos e pós-estruturalistas?

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Quero  frisar aqui que reconheço os méritos e o valor do trabalho hermenêutico de João Tude de Melo. Aprendi muito   com a leitura de seu livro. E que considero legítima  a sua tentativa de reinterpretação. Parece, como disse Alfred Whitehead, que toda filosofia posterior a Platão não passa de notas a margem ao seu pensamento. Dessa forma, o trabalho dos historiadores da filosofia é mesmo reinterpretar e reinterpretar.

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