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Dante Lucchesi

Professor Titular de Língua Portuguesa da Universidade Federal Fluminense (UFF)

13 artigos

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A grande farsa

Só quem é absolutamente néscio ou mal-intencionado pode ainda sustentar que Moro e Dallagnol representam a luta contra a corrupção

Sergio Moro e Deltan Dallagnol (Foto: Reprodução/Twitter)
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Nada diz mais da miséria intelectual, ideológica e moral da mídia capitalista no Brasil do que sua adesão mal dissimulada à candidatura do ex-juiz parcial Sérgio Moro. Para manter os fabulosos lucros do grande capital (cevados por reformas antipopulares e privatizações criminosas), os barões da mídia e seus sabujos elegem como seu herói, para o pleito de 2022, um sujeito medíocre, ignorante e sem qualquer caráter. O seu discurso monocórdico de combate à corrupção, que já era farsesco em 2016, desafia os limites do ridículo e da desfaçatez, em 2021. E, o que é pior, descamba no fascismo das propostas de tribunais de exceção e do “excludente de ilicitude”, eufemismo para conceder às polícias licença para matar pretos e pobres nas periferias. E reafirmando seu caráter entreguista e antipopular, já deu sinal verde para a privatização da Petrobras. Não é à toa que Moro é o queridinho da elite e da classe média racistas e escravocratas.

A verdade é que o Marreco de Maringá nunca foi um paladino da luta contra a corrupção e sim um capitão-do-mato da casa grande e um agente a serviço do imperialismo norte-americano, que estuprou a constituição e o código processual, para derrubar um governo legitimamente eleito, em 2016, e tirar o presidente Lula da disputa presidencial, em 2018, quando este liderava as pesquisas. A histórico de leniência com a corrupção de Moro é extenso: o final melancólico do caso do Banestado (tenebroso caso de corrupção de cerca de 500 bilhões, mas que não envolvia nenhum petista), as duas escandalosas reduções de pena do doleiro Alberto Youssef (um dos maiores operadores dos esquemas de corrupção no Brasil), a nebulosa indústria das delações premiadas da Lava Jato (que Tacla Duran quer denunciar, mas a “justiça” brasileira não deixa), a acintosa absolvição da mulher de Eduardo Cunha (para impedir que este jogasse tudo no ventilador), bem como o impedimento que Cunha expusesse os esquemas de corrupção do governo de Temer, e sua fala cínica, revelada na Vaza Jato, com seu sicário, Dallagnol, na qual ele se coloca contra investigar Fernando Henrique Cardoso, para “não melindrar um aliado”. O afeto por Aécio Neves, que Moro expressou despudoradamente, bem como sua subserviência a Michel Temer, seriam mais do que suficiente para demonstrar que ele não passa de um rematado sacripanta. Mas o compromisso com a verdade e a seriedade dos oligopólios midiáticos no Brasil não valem uma nota de três reais. E os mastins da mídia golpista continuam tentando sustentar a farsa de que a Lava Jato foi, não a maior farsa jurídica da história do Brasil (como o New York Times estampou em suas páginas), mas “a maior operação de combate à corrupção da história da humanidade” – seria cômico, se não fosse trágico.

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Com absoluto despudor e violando o mais elementar princípio do jornalismo, Folha, Estadão, Globo, Veja et caterva tentam emplacar a candidatura do Marreco de Maringá, apelando para o velho e carcomido discurso udenista da batida e corroída pauta anticorrupção. Tal discurso vazio e diversionista tenta encobrir o sol com a peneira. Porque corrupção foi desarticular o programa nuclear brasileiro para atender aos interesses do imperialismo norte-americano, como Moro fez ao prender o Almirante Othon, após passar cinco meses nos EUA, sendo instruído pela CIA e o FBI (agências terroristas dos EUA, que Moro sempre frequentou, inclusive quando era ministro  de Bolsonaro, em visitas secretas, fora da agenda). Corrupção foi levar ao poder a quadrilha de Temer e blindar esse governo. Ao derrubar o governo do PT, a Lava Jato serviu sobretudo aos EUA, pois uma das primeiras medidas do governo Temer, com um projeto de José Serra do PSDB, foi quebrar o monopólio do Pré-Sal, estabelecido pelos governos do PT. Corrupção foi engavetar ou sabotar todos os processos de corrupção do PSDB, em quatro anos de Lava Jato. Corrupção foi reduzir em 70% a pena do executivo da OAS Leo Pinheiro, para que este fizesse uma delação fajuta que fundamentou a absurda condenação do triplex (pinheiro havia negado qualquer envolvimento de Lula até então). Corrupção foi ser conivente com os esquemas de rachadinha da família Bolsonaro, quando era seu ministro da justiça, o que ele agora tenta negar, mentindo descaradamente no miserável opúsculo que publicou. Corrupção é instrumentalizar o judiciário para fins político-partidários, prender sem provas o candidato favorito e se tornar ministro do candidato que se beneficiou da prisão.

Já se sentenciou que se pode enganar poucos o tempo todo e se enganar todos por pouco tempo, mas não se pode enganar todos o tempo todo. A voz de marreco esganiçado, a absoluta falta de carisma, a sua ignorância e estupidez já proverbiais seriam motivos mais do que suficientes para fazer com que a candidatura de Moro não emplacasse. Mas o principal motivo para a grande rejeição a Moro identificada nas pesquisas eleitorais é que só quem é absolutamente néscio ou mal-intencionado pode ainda sustentar que Moro e Dallagnol representam a luta contra corrupção, ou pior, que tenham alguma contribuição a dar ao Brasil.

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