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Osvaldo Bertolino

Jornalista e escritor

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A Guerrilha do Araguaia e a intolerância de Thales Guaracy num conto diabólico

Ninguém com um mínimo de tolerância pode avalizar tamanha desonestidade, produzida com a indisfarçável intenção de agredir o que não tolera

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A tolerância é a melhor das religiões, teria dito Victor Hugo, o mestre da obra monumental Os Miseráveis. Pressupõe devoção, aquela vigilância que faz a proclamação ser consequente. Sem essa premissa, o termo se transforma em algo vulgar, oportunista e sentencioso. Proselitismo, enfim, que serve unicamente de marketing para quem não faz o que defende, também conhecido como hipocrisia.

A reflexão vem a calhar para o livro recém-lançado com o título A era da intolerância, do jornalista Thales Guaracy. Enquanto o marketing da obra se propaga na mídia e nas redes sociais, ele deu uma demonstração de intolerância daquelas de corar frade de pedra – tomando emprestada a frase do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes sobre as tramoias do braço da Operação Lava Jato no Rio de Janeiro.

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Thales Guaracy, segundo informa a enciclopédia livre Wikipédia, foi repórter em jornais como Gazeta Mercantil e O Estado de S. Paulo, além da revista Exame e, sobretudo, Veja, onde foi repórter especial e editor de assuntos nacionais. Para um jornalista com essa experiência, um ato de intolerância jornalística não pode ser creditado ao acaso, um mero descuido na apuração do fato antes de meter os pés pelas mãos.

Jornalismo que não preza o caráter

O caso se deu num dos resgates de Hugo Studart, publicados em seu Facebook, sobre o estelionato jornalístico e histórico no livro Borboletas e lobisomens e na polêmica que o sucedeu. A republicação foi a do primeiro texto-resposta ao meu trabalho de desmascaramento da farsa, inexplicavelmente aprovada como tese de doutorado na Universidade Nacional de Brasília (UnB), que se desdobrou numa série de textos que publiquei principalmente no meu site O outro lado da notícia e que compõe a primeira parte do meu livro recém-lançado Guerrilha do Araguaia – verdades, fatos e histórias.

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O texto de Hugo Studart é um festival de tolices, agressões, mentiras e estelionatos jornalísticos e históricos. “O Partido Comunista do Brasil, PC do B, publicou neste sábado uma resenha crítica sobre meu livro ‘Borboletas e Lobisomens’, na qual classifica este historiador ou a obra com adjetivos como: grosseiro, rarefeito, torpe, vulgar, infâmia, desídia, estultície, vitupêndio, sandice, devaneio, falácia, calúnia, empulhação, desleixo, inverdade, tergiversação, versão falaciosa, narração folhetinesca, reprodução quixotesca, maldoso e inconsequente”, falsificou.

Além de inventar adjetivos, Hugo Studart encarrilhou, de forma desconexa, palavras de um texto de 17 páginas em World, segundo o próprio autor da farsa, para falseá-las e tripudiar sobre uma invencionice torpe, esvaziando seus sentidos e seus contextos. Praticou aquilo que Pedro Pomar dizia ser atribuir sandices aos outros para depois rebatê-las com ar triunfal.  

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Ninguém com um mínimo de tolerância pode avalizar tamanha desonestidade, produzida com a indisfarçável intenção de agredir o que não tolera – nesse caso os flagrantes do meu texto sobre suas vigarices. Mas foi o que fez Thales Guaracy ao comentar a republicação torpe de Hugo Studart dessa forma: “Pessoal pelo menos está consultando o dicionário.” Como jornalista ele deveria saber que não são palavras que um jornalista precisa se valer de um dicionário para contextualizar ideias e argumentos. O “pessoal” pressupõe plural, que seria, na versão desonesta de Hugo Studart, o PCdoB.

Pode-se dizer que Thales Guaracy não sabia que a menção ao PCdoB é uma patranha indigna, típica do jornalismo que não preza o caráter, a tolerância e o respeito aos fatos. Mas a forma agressiva com que ele abordou o assunto mostra que tolerância não é o seu forte. O comentário rebaixado, considerando essa possibilidade – que demonstra limites éticos para um jornalista com tanta experiência –, atingiu o PCdoB, uma intolerância digna de um analfabeto e ignorante sobre uma organização tão conhecida.    

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Um mínimo de decência desmonta essa indignidade, uma agressão tanto ao PCdoB quando ao autor do texto. Escrevi com todas as letras que a autoria era exclusivamente minha, o que não impediu Hugo Studart e seu séquito de falsários de promover uma infame campanha de agressão a um e a outro, conforme mostra o livro Guerrilha do Araguaia – verdades, fatos e histórias.

Rasa cultura que legitima a ignorância

Thales Guaracy entrou nessa toada, revelando ser adepto de farsas, uma vez que a republicação de Hugo Studart tem a fonte (não o link, mais uma ação de jornalismo covarde) que republicou meu artigo, o Portal Vermelho. A intolerância parece não ser somente essa. Em seu Facebook, Thales Guaracy publicou que, “como esperado, mal saiu, meu livro já desperta reações iradas de quem está tão envolvido na guerra das narrativas ideológicas que está pronto a espirrar em cima de tudo que ainda nem leu ou sequer sabe o que é”.

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Tomo o rompante como uma bravata, porque na sequência não está dito quais seriam as “reações”. O leitor que, como eu, viu a publicação fica sem entender o que aconteceu, prova de jornalismo paupérrimo, mesmo sendo um texto de Facebook. Mais adiante, ele ensina que jornalismo, no estrito senso, deve “mostrar fatos e deixar ao leitor as interpretações”. Exatamente o que não fez Hugo Studart e ele próprio, nesse caso. “É mais fácil rotular o autor de nomes conhecidos”, completou, uma sentença que cabe perfeitamente para ambos.

E arremata, mais uma vez bravateando: “A quem perguntar se sou de direita ou esquerda, de antemão dou a resposta: sou jornalista, sempre fui, sempre serei, e estou lado do progresso, e não de interesses de algum grupo ou qualquer outra coisa que nos tire do rumo da liberdade, da igualdade e da democracia, a meu ver ainda o único caminho do progresso e do bem estar. É só isso o que me move, e não importa o sucesso ou o fracasso, ou agradar uns ou outros. Quem ler, verá.”

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Esse tipo de jornalismo é daquele feito à base da baixa erudição, a rasa cultura que legitima a ignorância, coberta de boa dose do que se chama de marketing da divergência. É também o oportunismo revelador dos que são dependentes da imaginação rarefeita para preencher graves crises de assunto. Sem talento para serem ficcionistas, pegam fatos da história e produzem ficções de baixíssima qualidade.

Temas capazes de interpretações inteligentes, como a Guerrilha do Araguaia, nas mãos desse tipo de jornalista não podem render boas obras. Cada lápide, cada pedra, cada árvore, cada memória no caminho daquele acontecimento histórico contém muito para se falar. O que já foi produzido é realmente prodigioso e não serão essas ficções depauperadas que irão prevalecer.

Paraíso dos maus espíritos

Os comportamentos de Hugo Studart e de Thales Guaracy lembram um velho tratado de um diabolista narrado pelo contista Humberto de Campos. É a história de um inglês, antigo capitão de navio, que contraiu alguma doença que se manifestava na forma de febres intermitentes. Na busca de tratamento, hospedou-se na casa de um médico conhecido e amigo.

Certo dia, como o hóspede estava melhorando, o médico levantou-se pela madrugada e partiu para visitar um cliente residente nas vizinhanças de Londres, recomendando enfaticamente à governanta que vigiasse cuidadosamente o doente. Assim que o patrão de afastou, a mulher correu, solícita, a olhar o capitão com tanto cuidado que, à saída, se esqueceu de fechar devidamente a porta do quarto.

Naquele tempo, no século VXII, discutia-se vivamente na Inglaterra, especialmente em Londres, a ação nefasta dos maus espíritos. O Diabo, com a sua corte de súditos obedientes, amedrontava a cidade e o país, cometendo toda sorte de tropelias. Era uma caçada furiosa de almas e de corpos desprevenidos. Londres vivia alarmada com as aparições, com as ciladas, com os crimes, com espantosas surpresas que lhe davam a certeza de que a Inglaterra caíra, de fato, nas mãos do irreconciliável inimigo de Deus.

Havia, em meio a esse clima de terror, os vendedores de fuligem para a indústria da graxa que entravam nas chaminés às escondidas para roubar o detrito. Numa dessas, o capitão acordou e viu passar na porta entreaberta um vulto escuro cujos olhos fulguravam na meia escuridão. “É o Diabo”, pensou. Correu à porta para ver e como não encontrou ninguém voltou para a cama e pôs-se a tremer de terror.

Nesse instante, o médico regressou e foi ao quarto do doente. “O Diabo está aqui”, disse o capitão, batendo furiosamente os dentes. “Os demônios tomaram conta da casa. Eu vi. Passou aí no corredor um deles.” Supondo-o sob o delírio da febre, o doutor toma-lhe o pulso, de olho na porta. Nesse momento, na penumbra do corredor, com um saco nas costas, passa o vulto, em cujo rosto de carvão os olhos faiscavam como brasas.

O capitão se afundou debaixo da cama, sem que o médico percebesse, o que deu a ideia de que havia sido carregado pelo Diabo. O doente estava naquele saco, pensou o doutor, que saiu à rua gritando que o capitão estava em poder do vulto. Atordoado com a gritaria, o limpador de chaminé, tentando fugir, deixou o saco pelo caminho e desapareceu pelo telhado.

Na confusão, o capitão também tentou fugir e tropeçou no saco de fuligem. Ao vê-lo, a multidão não quis saber de nada. “O capitão fugiu do saco”, berraram quinhentas bocas. E dispararam em debandada pelas ruas de Londres. Informado do fato, o governo inglês mandou instaurar um inquérito, depois reconstituído por um diligente defensor do Diabo, um esforço que desvendou a farsa de quem se aproveitou do episódio para vender a ficção de que Londres era o paraíso dos maus espíritos.    

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