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Gustavo Conde

Gustavo Conde é linguista.

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Weintraub, um ministro sem norma culta, sem coerência, sem coesão e sem proposta

"A destruição do Enem, a incompetência na aplicação do exame, os erros crassos de ortografia nas redes sociais, a anti-estética da lacração, a vulgaridade, o diversionismo e a mediocridade estampadas na testa fazem de Abraham Weintraub a grande provação para essa elite anti-petista que gosta de falsificar diplomas de Harvard", diz o colunista Gustavo Conde, sobre a performance técnica do ministro da Educação

Brasília- DF. 11-12- 2019- ministro da Educação Abraham Weintraub durante depoimento na comissão de educação da câmara. Foto Lula Marques (Foto: Weintraub)
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Muita gente se pergunta como Abraham Weintraub se formou na Usp e como ele se tornou professor de ciências contábeis da Unifesp.

Para o primeiro mistério, ainda não há resposta clara - embora exista o "prêmio Abraham Weintraub" para o aluno da Usp que obtiver a maior quantidade de reprovações em um mesmo curso (o 'ministro' atingiu 9 reprovações em seu curso de economia).

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Para o segundo enigma, respostas começam a aparecer.

A revista Época faz uma reportagem em que descreve a contratação incomum de Weintraub. Ele obteve notas baixíssimas e foi aprovado porque era candidato único em uma cadeira com baixa procura e salário: a de professor de ciências contábeis para graduação.

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Segundo a reportagem, a ausência de produção acadêmica do candidato já havia chamado a atenção da banca examinadora.

Mas a performance de Weintraub nas aulas-teste foi, de fato, o mais impressionante. Alguns trechos da avaliação foram publicados pela revista:

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“Tema sem sustentação científica idônea. Não houve linearidade no discurso”

“Não tem sustentação. Não há linearidade no discurso. Falta de coesão”

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“A exposição do candidato não tem sustentação e é muito vaga. A exposição não é linear e o candidato usa conceitos sem explicá-los. Mostra conhecimento e abrangência, mas não apresenta um texto coeso e claro”

“Confuso, bombástico, sem sustentação”

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“Confuso, tema e conteúdo divergentes. Confuso, bombástico, sem sustentação. Grandes saltos sem linearidade”

“Expôs vários conceitos coerentemente, mas esparsos e desarticulados”

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Não há muito o que comentar. A opinião pública se acostumou em alguma medida com a falta de caráter de gente tecnicamente qualificada em altos cargos dos governos tucanos, por exemplo.

Mas a baixa qualificação técnica em altos escalões do governo começou a ser realidade mesmo com Michel Temer, atingido seu estado da arte com Bolsonaro.

Quem não se lembra de Mendonça Filho, ministro da educação usurpador de Temer, com seu "haverão mudanças no Enem"?

Ali, anunciava-se o que seria feito com a área da Educação no Brasil. Era mister, para detratores do PT e da democracia, que a área mais sensível e mais celebrada pelos governos democráticos fosse radicalmente destruída, seja com cortes de verbas, seja com a extinção de programas, seja com a nomeação dos piores quadros possíveis.

Weintraub encarna o professor medíocre, que pode passar a vida inteira perambulando pelos corredores de uma universidade sem ser notado e tolerado apenas por comiseração de seus pares.

Aluno de graduação adora um professor medíocre. Faz parte do pacote - senão, qual a graça de viver?

Mas se no meio do caminho de Bial, tinha uma Petra, no meio do caminho de Weintraub tinha um Bolsonaro, para desgraça geral de um país inteiro.

O professor medíocre foi alçado a ministro da Educação, a pasta mais complexa e robusta do país, com orçamento quadruplicado depois da passagem de Fernando Haddad.

Aliás, bem lembrado. Fernando Haddad fez graduação em direito (em um dos cursos mais concorridos do país, o do Largo São Francisco), mestrado em Economia (na Usp) e doutorado em Filosofia (na mesma Usp).

Seu doutorado ocorreu sob orientação do filosofo Paulo Arantes e sua tese "De Marx a Habermas: o Materialismo Histórico e seu paradigma adequado", exige um leitor bem acima da média e com lastro intelectual suficiente para lidar com o conjunto de pressupostos teóricos ali arrolados.

Diante de tal contraste só nos resta perguntar: mas, afinal, onde foi que erramos?

Talvez, esse mergulho do MEC no fosso da mediocridade, depois quase uma década de fino trato e gestão de excelência, seja objeto de novas teses acadêmicas futuras.

A educação no país mais complexo e desafiador do planeta (porque tem a pior elite e a maior desigualdade) foi lentamente democratizada com conquistas sólidas e responsabilidade técnica, para depois ser jogada no lodaçal dos que mal dominam a norma culta da língua portuguesa - e, como vimos, mal dominam a própria disciplina para a qual deveriam estar habilitados.

As discussões em torno dos 40 anos do PT podem dar uma pista para se explicar tamanho suicídio educacional.

O que mais incomoda na história do partido é a suposta "arrogância" de petistas diante das discussões dos grandes temas nacionais.

Vejam vocês: depois de experimentar o partido de fato mais arrogante da história - o PSDB, que taxava seus críticos de ignorantes, caipiras e vagabundos e que jamais fez uma autocrítica sobre seus erros monumentais - o establishment conservador projeta no PT a pecha de 'arrogante'.

Não bastasse, esse mesmo establishment, diante do mais desqualificado governo já produzido pela espécie humana, fruto da mais pura arrogância misturada à incompetência, dedica seu tempo ocioso a culpabilizar o PT pela polarização política, pelo descalabro econômico e pela pobreza crescente no país.

É o encurralamento do derrotados. Dar-se conta do fracasso do anti-petismo no poder deve ser realmente um sentimento terrível a ser recalcado com todas as forças até que surja alguma salvaguarda retórica no mercado das imundícies político-laboratoriais, como o patético Luciano Huck, bom moço patrocinado pelo suprassumo do atraso, FHC.

Eles não toleram até hoje o fato de o PT ser maior que seus filiados, inclusive Lula. Forçam a barra em dizer que Lula é um empecilho à refundação do partido, que eles querem ver refundado a qualquer custo - dado o pânico de ver um partido visceralmente ligado às demandas reais da sociedade e não a exclusivismos do mercado financeiro.

Querem modificar o PT, já que não conseguem debater à luz do dia com o PT. Pedem desarvoradamente a autocritica do PT porque veem suas críticas afundarem cada vez mais no fracasso retumbante do mais repulsivo governo da história brasileira que eles colocaram lá (mas cuja culpa genérica também é colocada na conta do PT que, para eles, é responsável pela existência de Bolsonaro).

Faz sentido. Se o PT é responsável por todas as mazelas do país, será fatalmente responsável por Bolsonaro.

É uma questão de lógica.

Fato concreto é que a elite brasileira detestou perder para o PT, detestou ser obrigada a ganhar no tapetão e detestou ver o resultado prático de suas articulações golpistas desembocar em Bolsonaro e Weintraub, inegavelmente as figuras mais abomináveis que a falta de educação copulada ao mau caratismo vulgar foi capaz de parir.

A maldição da elite brasileira é passar a vida detestando.

E lembremos o modus operandi interlocutório dessa elite: quando o adversário político não tem argumentos, ele ataca a 'forma' do discurso de seu outro.

Chamar o PT de "arrogante", depois da intensidade de ataques que esse partido recebeu e recebe da imprensa e dos setores conservadores da sociedade brasileira, é quase uma confissão de incompetência.

É como dizer: "não brinco mais".

Eu diria a esses resmungões da direita: debatam! Parem de reclamar e venham para o debate!

Tenho de admitir, no entanto que eles jamais virão para o debate. É 'ruim' debater com o PT a céu aberto.

O contraste mais eloquente, portanto, que responde a todas as perguntas e aflições dos segmentos menos politizados do debate público brasileiro, notadamente a imprensa venal e a classe média, é ver Abraham Weintraub no lugar que um dia foi de Fernando Haddad.

A destruição do Enem, a incompetência na aplicação do exame, os erros crassos de ortografia nas redes sociais, a anti-estética da lacração, a vulgaridade, o diversionismo e a mediocridade estampadas na testa fazem de Abraham Weintraub a grande provação para essa elite anti-petista que gosta de falsificar diplomas de Harvard.

Suportar tamanha vergonha pode parecer fácil para quem passou a vida odiando um partido político, mas acreditem: o silêncio autoinduzido terá suas consequências.

Quando o Brasil voltar a ter um governo democrático e respeitabilidade interna e externa, os omissos farão a cara de paisagem de sempre, como se nunca tivessem tomado partido na herança maldita que se reinstalou no país.

Para eles - e quando chegar a hora -, daremos o prêmio Abraham Weintraub, sob a égide da meritocracia e com os dizeres típicos das efemérides acadêmicas: "Àqueles que lutaram incessantemente para compartilhar a própria mediocridade com seus semelhantes, oferecemos este prêmio, esculpido em cinzas e banhado a sangue."

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