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Giselle Mathias

Advogada em Brasília, integra a ABJD/DF e a RENAP – Rede Nacional de Advogadas e Advogados Populares e #partidA/DF

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A pesquisadora 2

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Por Giselle Mathias

A frequência dos encontros agradava a Pesquisadora, a cumplicidade deles e franqueza naquela relação lhe proporcionava alegria, era o irmão que não tivera, era filha única, e apoiá-lo era algo que lhe preenchia, seu ser feminino fora construído para servir, cuidar e consolar.

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Eles saiam muito, e ela não se importava com as paqueras dele, até o incentivava a encontrar alguém e superar o fim do casamento que lhe fazia sofrer, entendia que eram parceiros e por essa característica desejava a sua reconstrução, o preenchimento daquele vazio que tanto lhe angustiava.

Porém, em uma noite o Amigo começou a lhe dizer o quanto a admirava, estava feliz em estar ao lado dela, se sentia à vontade e compreendido. Ela lhe disse que enxergava o mesmo, se sentia muito bem com aquela relação de amizade e cumplicidade que tinham. Mas, de repente ele lhe abraça e rouba um beijo de seus lábios.

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Assustada, o afastou com a mão, e disse que não entendeu aquele gesto, pois eram amigos, eram como irmãos, não havia sentido se olharem de outra forma. Brincando, falou que seria quase um incesto tentarem uma relação amorosa.

No entanto, o Amigo disse que a desejava, e sua fala não aparentava mais ser uma brincadeira, falou que sempre a olhara, desde que a conhecera na adolescência. Naquele momento a Pesquisadora deu vazão ao sentimento que estava escondido e recolhido dentro de si, o desejo de encontrar um companheiro, e passou a acreditar que poderia ser o Amigo, que desenvolveriam uma boa relação, já que o conhecia bem, possuíam muita sintonia e cumplicidade. Eles eram amigos e partilhavam a vida, poderia ser algo que lhe trouxesse o que sempre buscara.

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Mas fomos surpreendidas com a fala da Advogada. Nesse instante, ela interrompeu a Pesquisadora e sentenciou:

Querida! O que ele fez pode ser considerado assédio, você não consentiu com o beijo, e, ainda, se aproveitou da sua amizade e confiança!

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Nos assustamos, nunca havia pensado assim, apesar de jamais me envolver com amigos. Já passei por inúmeros galanteios e tentativas de conquistas. Pensando sobre o que a Advogada disse, me parece que somos ensinadas a tolerar e até acreditar que esses gestos são demonstrações de afeto, que o fato de não consentirmos é tolerável, e, assim, nos tornamos mais vulneráveis à violência daqueles que são construídos nos moldes culturais do machismo.  

Após o choque da sentença, a Pesquisadora continuou com sua história, e nos disse que após alguns dias do beijo roubado, surgiu para ela a crença na possibilidade da entrega de seu corpo e alma ao Amigo. Mas veio o afastamento, as conversas se reduziram às redes sociais, a tela do celular passara a ser o contato; não havia encontros. Porém, apesar desse afastamento, sempre justificado pela falta de tempo, ela sentiu-se cada vez mais envolvida.

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Aquele beijo, as falas e demonstração de um carinho aparentavam um querer, e quando ocorreu o encontro, depois de várias semanas, ele chega como se nada tivesse acontecido, a trata como a velha amiga, e fala sobre as mulheres com as quais estivera no tempo em que não a encontrara, joga sobre ela as frustrações e as dores das saudades dos filhos e dos desentendimentos com a ex-esposa.

Ela escuta atentamente, e acredita ter entendido errado aquele beijo, que havia criado para si uma ilusão, talvez estivesse carente e sua ânsia por uma relação a tivesse levado a se apaixonar pelo Amigo. Afinal, o que dizem por aí, é que as mulheres são carentes e estão desesperadas por um relacionamento, lutam entre si em busca do “troféu”, frases feitas, construções culturais impostas, e mesmo que a realidade se mostre diferente, ainda a reproduzem sem perceber, e a decepção aparece mais rápido do que se imagina, o vazio se instala, porque o troféu, esse, não passa de uma pequena caneca de latão, que utiliza as ilusões da instrumentalidade humana para sentir-se apenas, em um átimo de segundo, o Divino que jamais será, pois é apenas um homem.

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Naquele encontro ela decidira esquecê-lo, entendeu que apenas se iludira, mas ele começara a tratá-la como se fosse sua propriedade, o território conquistado, não podia mais dizer a ele sobre os homens que lhe interessavam, ou sobre os que retornaram do passado para novos encontros. As atitudes dele não revelavam o seu real interesse, ela não conseguia desvelá-lo; até os amigos em comum diziam que ele demonstrava desejo, pareciam até um casal.

Sim! Pareciam um casal.

Aqueles que já não se beijam, não andam de mãos dadas, mas estão sempre juntos, provocando um ao outro através de brincadeiras que são na verdade uma clara tentativa de diminuir e humilhar para dominar, mostrar-se em uma falsa superioridade, e fazer todos crerem que aquele território já estava dominando, e ninguém mais poderia se aproximar.

Claro, que para ele manter seu status de troféu não bastava apenas iludir os juízes varões, precisava fazê-la acreditar na possibilidade de um possível relacionamento. Era necessário continuar construindo a ideia que despertara nela quando lhe beijara, não poderia deixar aquele território abandonado, mesmo que ele não tivesse o interesse de permanecer e construir lá sua morada.

Ele se regozijava com o afeto da Pesquisadora, porque lhe preenchia o vazio, inflava o próprio ego, e o fazia crer que era a própria estatua de Davi, ou um troféu tão almejado.

Ela não percebera que havia sido encarcerada, o afeto que tinha pelo amigo se misturava com a ilusão de uma paixão, não sabia mais como se sentia ao lado dele, mas vira que só recebia migalhas, e agora não era de um homem qualquer, para o qual ela já estava preparada para recusar, mas do amigo, que se aproveitara da relação sem armaduras para aprisiona-la na ilusão de uma reciprocidade inexistente, pois seu objetivo sempre foi a conquista da terra, mais uma para exibir aos seus pares da masculinidade.

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