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Nívea Carpes

Doutora em Ciência Política e mestre em Antropologia Social

27 artigos

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A receita da ascensão do autoritarismo e das ditaduras, um recozido para os desavisados

Existe uma grande quantidade de histórias de ascensão do autoritarismo pelo mundo que repetem as mesmas receitas.

(Rio de Janeiro) A Tropa da Brigada de Infantaria Paraquedista desfila em continência ao Presidente da República. (Foto: militares)
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Existe uma grande quantidade de histórias de ascensão do autoritarismo pelo mundo que repetem as mesmas receitas. São estratégias que vão destruindo instituições, consumindo com a imagem de adversários políticos e inflando desejos na população, através do descrédito.

Alberto Fujimori era um reitor de universidade em 1990 que desejava concorrer a uma cadeirado Senado peruano. Ao perceber que nenhum partido apostaria em sua candidatura, decide criar seu próprio partido. Naquele período, a economia peruana entrava em colapso, enorme inflação e os guerrilheiros do Sendero Luminoso aproximavam-se da capital do país.

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Os cidadãos demonstravam-se exaustos da incompetência dos partidos em termos deconstruir uma solução para seus dilemas.

Disputando à presidência, mas visando tornar-se conhecido para ocupar uma cadeira noSenado, Fujimori vem com o slogan “Um presidente que gosta de você”. Para surpresa de si mesmo, Fujimori cresceu nas pesquisas e terminou em segundo lugar o primeiro turno das eleições. Seu oponente era Mario Vargas Llosa, um conhecido romancista, ganhador do Prêmio Nobel de Literatura, posteriormente.

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O stablishment apostava em Vargas Llosa, que o povo o considerava o candidato mais próximodas elites. Um cenário onde Fujimori era percebido como a verdadeira opção ao desconserto na gestão do país.

Alberto Fujimori é eleito.

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O novo presidente tinha poucos apoiadores dentro da política tradicional e, também, poucashabilidades políticas em termos de negociação com o congresso. Nesse caminho, Fujimori desqualifica os deputados com discursos fortes, assim como, passa a atacar juízes que não colaboravam com suas posições.

O presidente abusa de decretos para por suas ideias em prática, queixando-se da constituiçãomuito rígida e passando a questionar se o país realmente era uma democracia, uma vez que somente a elite fazia uso do poder.

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Os críticos começam a denunciá-lo como autoritário e, posterior a conflitos com o congresso ediretamente com as elites, Fujimori, em 05 de abril de 1992, dissolve o Congresso e a Constituição. Em dois anos, de outsider a tirano.

No caso do Peru, a ruptura democrática não foi pautada por um plano prévio, mas é oresultado de uma sequência de acontecimentos, no embate entre um líder demagogo, com aversão às regras e o stablishment ameaçado.

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Dentre o que há de comum com outras experiências estão os termos ásperos e provocativosque auxiliam na demarcação de inimigos e constroem alvos para onde se dirige a artilharia. Artilharia que serve para destruição das instituições e dos ritos democráticos.

Uma experiência também encontrada na Venezuela, utilizada por Hugo Chávez, que descreviaseus oponentes como “porcos rançosos” e “oligarcas esquálidos”. Já presidente, chamava seus críticos de inimigos e traidores.

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No caso italiano, o primeiro-ministro Silvio Berlusconi, chamava os juízes que tomavamdecisões que lhe desfavoreciam de “comunistas”.

Recep Tayyip Erdogan, da Turquia, acusa jornalistas de espalharem “terrorismo”.

A estratégia da utilização de adjetivos pejorativos contra personalidades que fazem resistênciaàs intenções de líderes autoritários é uma forma de espalhar mentiras que constroem caminhos para justificar ações contra esses oponentes.

Um dos efeitos da ascensão do autoritarismo é a polarização, estimulada como forma dedividir para enfraquecer forças sociais. A desconfiança disseminada pela sociedade favorece demagogos, que constroem argumentos descolados da realidade para colocar em ação suas intenções.

O estado de conflito é um campo fértil para desconstrução de inimigos. A própria hostilidadedesse tipo de liderança pode desencadear uma abertura para todo tipo de falta de limites em diversos campos.

Na contrapartida, as instituições podem utilizar medidas extremas como impeachment,manifestações de massa e golpe, como arma de combate nesses cenários. Em alguns casos o Congresso passa a obstruir e provocar o governo de tal forma que resulte no enfraquecimento do governante.

Muitos desses recursos tornam figuras autoritárias ainda mais hostis em suas práticas ediscursos.

Demagogos autoritários não se propõem ao jogo das negociações democráticas, acreditam termaiores facilidades ordenando exércitos do que promovendo diálogos, compromissos e concessões. Obviamente, no jogo democrático há muitos resultados possíveis, acompanhados de repetidas frustrações. Os políticos que aderem à democracia aceitam a forma de se fazer política, respeitando múltiplos interesses.

Candidatos a ditadores não suportam as frustrações democráticas. Tudo que regula as relaçõessociais e institucionais lhes parece engessar suas ações. A paciência das salas de reuniões definitivamente não é uma característica dos autoritários. Para governarem sozinhos, precisam destruir tudo que os restringe.

Frequentemente, a investida contra a democracia é um caminho lento. Muitas vezes, oprocesso é imperceptível, eleições continuam sendo realizadas, a oposição continua com suas cadeiras no Congresso e jornais ainda circulam. Se tomadas em separado, as ações que solapam a democracia podem parecer insignificantes. O verniz da legalidade é cuidadosamente preservado. O combate à corrupção é um argumento irrefutável que é frequentemente utilizado, como também o aprimoramento do processo eleitoral, ampliação da qualidade da democracia e a segurança nacional.

Para consolidar o poder autoritário é preciso sequestrar a justiça, retirar adversários com forçade oposição do campo de disputa e construir regras que beneficiem o autoritarismo contra seus oponentes. Por isso, as instituições judiciárias e policiais são tanto um desafio quanto uma oportunidade.

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