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Danilo Molina

Jornalista, foi assessor do Ministério da Educação e do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) durante o governo Dilma Rousseff e servidor do Ministério durante o governo Lula

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A sociedade do ódio

Nossa sociedade não pode aceitar passivamente esse tipo de postura e de atitude nos meios de comunicação, na internet, nas escolas, nos espaços religiosos ou em qualquer esfera pública que seja. A defesa dos direitos humanos transpassa qualquer posicionamento político, religioso ou ideológico

Porto Alegre - No dia do combate a Intoler�ncia Religiosa, acontece em Porto alegre, a Marcha pela Vida e Liberdade Religiosa (Marcelo Camargo/Ag�ncia Brasil) (Foto: Danilo Molina)
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Dados do Ministério dos Diretos Humanos, divulgados neste domingo (12), comprovam a assustadora escalada da cultura da intolerância religiosa e do discurso do ódio no Brasil. Segundo o órgão, entre janeiro de 2015 e o primeiro semestre deste ano, o país registrou uma denúncia de discriminação religiosa a cada 15 horas.

Além de agressões verbais, há registros de invasões e destruição de templos e tentativas de homicídios, tanto de sacerdotes, quanto de adeptos. No total, foram 1.494 denúncias no período. Um número altíssimo, mesmo em um cenário de forte subnotificação, reconhecido pelo próprio Ministério.

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Desde que comecei a denunciar o aumento dessa cultura do ódio no Brasil, especialmente a perseguição sofrida pelas religiões de matriz africana, tenho recebido uma série de questionamentos sobre a real necessidade e a relevância de tratar dessa pauta. As vozes da inércia sempre procuram minimizar a questão com a suposta ponderação de que são "apenas casos isolados".

Além disso, procuram ampliar o ódio e a intolerância a partir da falsa dicotomia entre religiões de matriz africana e religiões evangélicas. Não raro, sou surpreendido, para além dos ataques pessoais, com colocações do tipo: "imagina se os evangélicos quisessem se pronunciar tanto quanto os umbandistas?" ou "se macumbeiros fossem corretos como evangélicos, não teriam nada para reclamar".

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Aos números. Em 2017, a maioria das vítimas de intolerância religiosa foram adeptos de religiões de origem africana. Essa triste lista é encabeçada pelos umbandistas, com 26 casos, seguidos pelos candomblecistas, com 22 casos e depois demais religiões de matriz africana com 18 casos. Os católicos relataram 17 casos e os evangélicos 14.

Como somos as maiores vítimas dessa cultura de ódio, informação comprovada pelos próprios números do Ministério dos Direitos Humanos, é natural uma maior mobilização das nossas lideranças em torno do tema. Também não possuímos grandes veículos de comunicação oficial para defender a nossa liberdade de culto, como é o caso de muitas outras religiões. E, acima de tudo, grande parte dos seguidores das nossas religiões já carrega o histórico da opressão e da resistência no sangue desde os tempos de senzala.

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Outra questão é que, no tocante à intolerância, não há e nunca defendi uma oposição ou disputa entre adeptos das mais diversas religiões. Muito pelo contrário. Sempre trabalhei pela criação de uma cultura coletiva de tolerância e de convivência com a diversidade e com a diferença, ou seja, uma cultura de paz. O ataque a um terreiro é tão grave quanto o ataque a uma igreja, a uma mesquita, a um templo evangélico ou a qualquer outro espaço religioso.

Mais do que isso. Sempre me posicionei em defesa da decisão civilizatória de que a agressão e a intolerância, contra qualquer grupo que seja, devem ser encaradas como um problema de toda a sociedade.

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A divulgação desses terríveis números ganham contornos ainda mais dramáticos na semana em que formam escancarados casos de ódio e preconceito na imprensa brasileira. A maior rede de comunicação do país afastou um de seus principais apresentadores, após o próprio ser flagrado em vídeo, que circulou na redes sociais, com atitudes racistas.

Em coluna na Revista IstoÉ, o jornalista Mário Vítor Rodrigues publicou texto intitulado "Lula deve morrer". Mais um flagrante ato de incitação à violência e de incentivo ao ódio e à intolerância política em nosso país.

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Nossa sociedade não pode aceitar passivamente esse tipo de postura e de atitude nos meios de comunicação, na internet, nas escolas, nos espaços religiosos ou em qualquer esfera pública que seja. A defesa dos direitos humanos transpassa qualquer posicionamento político, religioso ou ideológico.

Só seremos capazes de avançar como sociedade e democracia a partir do total e pleno exercício da cidadania, o que exige, obrigatoriamente, o respeito integral dos direitos de todos os cidadãos, independentemente de raça, gênero, condição social, religião, crença e orientação sexual. Intolerância nāo.

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