A vacina ideológica

O ministro da Saúde disse que compraria a vacina produzida pelo consórcio do Instituto Butantan com o laboratório chinês Sinovac.

O Presidente da República desautorizou o seu ministro da Saúde, e disse que o protocolo estava suspenso, que não compraria a CoronaVac que chamou de “vacina chinesa de João Dória”, e que só compraria vacina credenciada pela Anvisa.

Entretanto, o presidente poderia ser acusado de prática ilegal de medicina ao receitar o uso de cloroquina, por meios oficiais de comunicação, chegando inclusive a recomendar a dosagem.

Além disso, até julho o exército brasileiro havia produzido 3 milhões de comprimidos de cloroquina, remédio tido pela OMS como ineficaz para o combate do COVID-19, o que está sob investigação do Ministério Público de Contas e pelo TCU.

Não bastasse isso, o presidente assinou medida provisória liberando 1,9 bilhão de reais para compra e distribuição de 100 milhões de doses da vacina desenvolvida pela Universidade de Oxford em parceria com o laboratório Astrazeneca, pesquisa, no Brasil, liderada pela Fiocruz.

Tanto a pesquisa liderada, no Brasil, pelo Instituto Butantan quanto a liderada pela Fiocruz estão na mesma fase de desenvolvimento.

A alegação da necessidade de aprovação pela Anvisa não faz sentido, uma vez que o presidente liberou dinheiro para compra e distribuição da vacina desenvolvida pela Fiocruz, que se encontra no mesmo estágio da vacina liderada pelo Instituto Butantan.

Sobrou a questão ideológica!

E agora?

Agora, a gente torce para que a vacina da Fiocruz também dê certo, não pelo fato de que quanto mais vacina melhor, mas, porque se só der certo a vacina chinesa, nós não vamos ter acesso a ela porque é uma vacina que contraria a ideologia do presidente.

Portanto, no Brasil, não basta a vacina ser tecnicamente aprovada, ela tem de ser, também, aprovada ideologicamente!

Seria engraçado se não fosse uma questão de vida ou morte!

Até quando seremos regidos pelo absurdo?