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Alex Solnik

Alex Solnik é jornalista. Já atuou em publicações como Jornal da Tarde, Istoé, Senhor, Careta, Interview e Manchete. É autor de treze livros, dentre os quais "Porque não deu certo", "O Cofre do Adhemar", "A guerra do apagão" e "O domador de sonhos"

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Abraço de afogado

"Cunha desobedeceu ao Supremo e arrastou Temer junto", diz o colunista do 247 Alex Solnik sobre o encontro do interino Michel Temer com seu maior aliado num domingo à noite, no Palácio do Jaburu; ele conta que, no encontro secreto, Temer cedeu à demanda de Cunha sobre a sucessão na presidência Câmara, condição imposta por ele para renunciar à presidência e assim abrir as portas para uma nova eleição na Casa; "O estrago já foi feito. O decoro foi quebrado. Cunha não tinha nada a perder com a visita clandestina. Somente Temer. E perdeu. Cunha deu em Temer o famoso abraço de afogado"

O vice-presidente Michel Temer e o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, na solenidade de posse do novo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Luiz Edson Fachin (Valter Campanato/Agência Brasil) (Foto: Alex Solnik)
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Por que Temer não recebeu Cunha dentro do expediente normal, no Palácio do Planalto e não incluiu a visita em sua agenda oficial?

Por saber que não ficaria bem atender à visita de um presidente da Câmara afastado. Um delinquente, assim qualificado pelo Procurador Geral da República. Um réu, assim carimbado por unanimidade pelo STF.

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Ora, se não fica bem receber um réu à luz do dia, à vista de todos, no palácio oficial da presidência da República é pior ainda recebê-lo à noite, num domingo, na residência oficial do vice-presidente da República.

À noite, todos os gatos são pardos.

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No entanto, Temer concordou em recebê-lo.

Cometeu, desse modo, alguns delitos que não precisaria cometer.

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Desautorizou o Procurador-Geral, que já o definiu como delinquente e que já admitiu, em entrevista à imprensa, dormir com uma pistola na mesa de cabeceira. Sem explicar o motivo, mas cada um deduz como quiser.

Desautorizou os 11 ministros do Supremo Tribunal Federal que já o declararam réu em dois inquéritos e o afastaram do mandato e da presidência da Câmara dos Deputados.

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Deu um tapa na opinião pública, que, à esquerda e à direita não suporta mais conviver com o inimigo público número 1 do país.

De duas, uma: ou Temer acolheu em sua casa um ex-presidente da Câmara ou um amigo.

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Se foi um ex-presidente da Câmara, se expôs ao risco, temerário e desnecessário de ofender o decoro do seu cargo e desobedecer à determinação do STF que não permite que ele se valha dessa posição enquanto aguarda julgamento definitivo pelas acusações a que responde.

Cunha desobedeceu ao Supremo e arrastou Temer junto.

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Se o recebeu como amigo, tanto pior. Revelou amizade, intimidade e até cumplicidade com um dos políticos mais cobertos de lama da República.

O que Temer ganha ao revelar intimidade com alguém que está a um passo de uma condenação severa e prolongada?

Se o recebeu como presidente da Câmara tratou com ele do assunto que mais o preocupa: a sua iminente cassação no conselho de ética e seus desdobramentos.

Perguntas que Temer deveria ter se feito antes de atender à campainha:

O presidente do STF teria concordado em receber Cunha em sua residência oficial, num domingo à noite?

O Procurador-Geral teria recebido Cunha em sua residência oficial, num domingo à noite?

O presidente do Senado teria recebido Cunha em sua residência oficial num domingo à noite?

Um cidadão decente concordaria em abrir as portas de sua casa para um réu num domingo à noite?

Então, como é que a maior autoridade da República concordou?

Mas Temer não se limitou a ouvi-lo.

Cedeu à sua demanda, pois, no dia seguinte, autorizou articulação do chefe da Casa Civil para convencer seu maior aliado, o PSDB, a apoiar um candidato do Cunha à sua sucessão, condição imposta por ele para renunciar à presidência e assim abrir as portas para uma nova eleição na Câmara dos Deputados.

Até agora o PSDB não se dobrou. E não o fará, a menos que pretenda associar sua imagem à de Cunha e assim perder ainda mais apoio do eleitorado na disputa presidencial em 2018.

O estrago já foi feito. O decoro foi quebrado.

Cunha não tinha nada a perder com a visita clandestina. Somente Temer. E perdeu.

Cunha deu em Temer o famoso abraço de afogado.

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