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Miguel Paiva

Miguel Paiva é chargista e jornalista, criador de vários personagens e hoje faz parte do coletivo Jornalistas Pela Democracia

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Acabou a pandemia! Viva a pandemia!

"O mercado é insensível ao ser humano. O mercado, no meio do enorme drama que vivemos, celebra índices enquanto vidas são perdidas", escreve o cartunista Miguel Paiva, do Jornalistas pela Democracia

(Foto: Miguel Paiva)
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Por Miguel Paiva, para o Jornalistas pela Democracia 

A minha vida mudou muito com a pandemia. Não sei a sua e muito menos a dessas pessoas todas que negam o Coronavírus e agem como se nada tivesse acontecido.  Minha vida mudou muito. Não consigo mais sair à rua como fazia antes, caminhando, ou olhando para o céu sem destino, tentando mexer meu corpo sem me importar com quem eu cruzava no caminho. Hoje não caminho mais pela rua. No máximo saio de bicicleta, protegido, evitando aglomerações e mesmo assim me preocupo. Freio quando vejo que vou ficar próximo de alguém e no sinal me mantenho afastado até chegar a minha vez de atravessar. Mas assim mesmo saio muito pouco. 

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Passei 5 meses na serra de Petrópolis e lá me sentia protegido, naturalmente em isolamento. Depois que voltei tenho que me acostumar todos os dias não só com a situação, que continua praticamente a mesma, como acentuar esses cuidados para não cair na crença de que tudo acabou. Tirando as pessoas que vejo de máscaras pelas ruas parece realmente que tudo acabou. A cidade está mais vazia, mas as pessoas se comportam com naturalidade diante da ameaça, invisível para muitos. 

No Instagram vejo pessoas que desmentem os números altíssimos e dramáticos de mortes. Acusam a imprensa de estimular as mortes informando os números. Transgridem as normas porque acham que isso tudo é uma bobagem. E não são só jovens. Pessoas mais velhas como o tal desembargador de Santos que não só se recusava a usar máscara como ainda debochava de quem o obrigava. Até entendo que as pessoas estejam loucas para voltar ao normal, para retomar a vida e continuar seu caminho sem essa ameaça. 

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Mas muitas dessas pessoas não veem a ameaça. Querem sair porque se recusam a aceitar, primeiro que a terra é redonda e segundo que a ciência é mais inteligente do que o Presidente da República e sabe o que diz. Os fanáticos negam a gravidade, negam a ciência e indo para as ruas não só colocam as suas vidas em risco como a das pessoas próximas ou com quem cruzam. Entendo a aflição mas não entendo achar que esse risco justifica o descumprir o isolamento,. Transgredir as regras não evita a contaminação. Fingir que oa Covid-19 não existe, como vejo nas ruas do Rio, não cria uma barreira contra a contaminação.  

As pessoas estão na areia das praias contra as regras, estão sentadas nos bares sem levar em conta que aquele desejo de ser livre pode ser na realidade uma condenação. As pessoas dispensam a máscara e se você reclama disso te olham como se você fosse um babaca, um ser do outro mundo que merece o total desprezo por parte deles. Essa turma do terraplanismo, do não vírus, é quase toda de direita, e imagino que a direita cultive essa descrença na doença do mesmo jeito que dispensa as verdades históricas, a dialética, os limites, as regras e a justiça social. Ser contra as regras é acreditar que poucos terão condições de escapar, somente aqueles que têm dinheiro para sobreviver. Seria uma espécie de "seleção natural" regida pela meritocracia Os pobres, os pretos, os gays que morram, segundo eles. Menos gente ajuda este projeto e desde que politizaram a pandemia os mais de 100 mil mortos não causam nenhuma emoção em quem vê o mundo como um número que muda de acordo com o mercado.

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O mercado é insensível ao ser humano. O mercado, no meio do enorme drama que vivemos, celebra índices enquanto vidas são perdidas. 

Vale isso? Pra que viver assim?  Nào é assim que vamos ser felizes. Minha vida mudou muito com a pandemia e eu vou continuar respeitando esses limites mesmo que essa minha atitude me tire do mercado, me isole ainda mais ou me coloque como estatística de um levantamento que não me interessa. Não quero fazer parte de um país em que o ser humano, vivo ou morto seja apenas um número. Quero ter importância, seja pelo que eu faço ou pelo que deixo de fazer, como agora, para poder simplesmente sobreviver.

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