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José Reinaldo Carvalho

Jornalista, editor internacional do Brasil 247 e da página Resistência: http://www.resistencia.cc

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Ações militaristas externas agravam tensões na Península Coreana

A crise na Península Coreana eclode como se já não bastassem as tensões em outras regiões sensíveis, escreve o editor internacional José Reinaldo Carvalho

(Foto: KCNA)
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Por José Reinaldo Carvalho, 247 - Dentre os focos de tensão e conflitos em curso no mundo, agravou-se nas últimas semanas a crise política e militar na Península Coreana, território compartilhado pela RPDC (República Popular Democrática da Coreia, também conhecida como Coreia do Norte), e a República da Coreia (Coreia do Sul). É uma crise que assombra a humanidade porque as partes envolvidas são nuclearizadas.

As tensões aumentaram na medida em que os Estados Unidos e a Coreia do Sul desenvolveram exercícios militares que ameaçam a segurança territorial e a soberania nacional da RPDC. O assédio a esse país por parte dos EUA e da Coreia do Sul, com o aplauso do Japão, foi respondido com a intensificação de testes de mísseis. A Coreia do Norte disparou oito mísseis nas duas últimas semanas. Os EUA, a Coreia do Sul e o Japão dobraram a sua aposta na militarização da península e tornaram ainda mais ameaçadoras as suas ações, também com lançamentos de mísseis e mais exercícios militares conjuntos. A superpotência norte-americana enviou um porta-aviões às águas próximas à península, um movimento que as forças militares dos países circundantes veem como algo absolutamente incomum. Não bastasse isto, circulam informações de que os Estados Unidos pretendem implantar em caráter permanente no Japão um dos seus porta-aviões. 

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Na área diplomática, está em curso uma concertação de esforços de EUA, Coreia do Sul e Japão para pressionar o Conselho de Segurança das Nações Unidas a impor novas sanções à RPDC e, na hipótese de que fracassem, anunciam que vão adotar sanções unilaterais contra "o país das manhãs serenas", como é conhecida a milenar civilização coreana. 

A situação é alarmante. Tanto as movimentações militares, que podem resultar em agressão, que seria respondida com algum artefato nuclear norte-coreano, quanto as sanções econômicas adicionais, que visam a estrangular a população, gerariam mais uma situação de escalada, que vai polarizar as atenções das diplomacias das principais potências internacionais, como se já não bastassem as tensões em torno da guerra na Ucrânia, em Taiwan, na região do Indo-Pacífico e no Oriente Médio. 

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As tensões atuais são quase tão graves quanto as que foram geradas durante a crise de 2017, quando a RPDC, também premida por ameaças estadunidenses e sul-coreanas, lançou 23 mísseis ao longo do ano, incluindo dois sobre o Japão, além de realizar um teste nuclear. Os testes mostraram armas com poder suficiente para colocar a maior parte do mundo ao alcance, incluindo o primeiro míssil balístico intercontinental (ICBM) do país.

Houve um breve interregno e em 2019 o então presidente dos EUA, Donald Trump, realizou reuniões com o líder máximo da RPDC, Kim Jong-Un. Naquela altura, a RPDC prometeu congelar os lançamentos de mísseis e destruir instalações no local de testes nucleares, enquanto os EUA acenaram com a suspensão dos exercícios militares em larga escala com a Coreia do Sul. 

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Em 2019 testemunhei pessoalmente o ambiente em Pyongyang, por ocasião de uma visita de trabalho e estudos à frente de uma delegação do Cebrapaz - Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos e Luta pela Paz. Mantivemos contato com um povo altaneiro, dirigentes partidários, estatais e de organizações sociais firmes e convictos, gente temperada na luta e disposta a novos combates para construir o socialismo em meio a incontáveis adversidades.

A delegação do Cebrapaz visitou a histórica localidade de Panmunjong, no Paralelo 38, onde foram assinados os acordos de armistício que suspenderam a Guerra da Coreia (1950-1953) e cristalizaram a divisão do país entre a RPDC (Norte) e a República da Coreia (Sul).

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Divisão, aliás, não desejada pelos norte-coreanos, cujo antigo líder Kim Il Sung, falecido em 1994, propôs em diferentes ocasiões a reunificação da pátria, sendo esta ainda hoje uma bandeira de luta estratégica do povo coreano.

Foi em Panmunong que em 2018 os líderes máximos dos dois países que compartilham o território da Península Coreana - Kim Jong Un (RPDC) e Moon Jae In (Coreia do Sul) - cruzaram a fronteira e abriram um novo capítulo nas relações intercoreanas, fazendo renascer as esperanças de finalmente estabelecer a paz na região, pondo fim à guerra iniciada em 1950 pelo imperialismo estadunidense.

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Foi também em Panmunjong que, três dias antes da nossa chegada, Donald Trump tornou-se o primeiro presidente estadunidense a cruzar a fronteira norte-coreana, onde foi gentilmente recebido pelo sempre sorridente e diplomático Kim Jong Un, o jovem líder do país socialista.

Assim, quando chegamos a Pyongyang as expectativas que pairavam na Península Coreana eram de pavimentar o longo, sinuoso e escarpado caminho para a paz.

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Contrariamente ao que se difunde no Ocidente, a RPDC aposta no fim do conflito e das tensões. Foi o que moveu Kim Jong Un a propor na mensagem por ocasião do Ano Novo em 2018 uma série de passos concretos, que simbolicamente começavam pelo esporte, para a retomada de um diálogo com a Coreia do Sul, há tempos congelado.

As negociações com os EUA infelizmente estagnaram e retrocederam porque a principal expectativa dos norte-coreanos não foi concretizada: o levantamento das sanções econômicas e o fim dos exercícios militares com a Coreia do Sul, que, pelo contrário, foram logo retomados. 

A RPDC assumiu responsabilidades para solucionar a sempre tensa questão nuclear. Não houve, contudo, a contrapartida estadunidense quanto à suspensão das sanções com que o imperialismo pretende estrangular a economia do país e criar um ambiente instável, propício a forçar uma mudança de regime. Estas sanções configuram um bloqueio de grandes proporções, impedindo ao país o acesso ao comércio internacional e a meios financeiros.

O governo da Coreia Popular argumenta que seus testes de mísseis e nucleares fazem parte das medidas de autodefesa para proteger a independência do país e a sobrevivência do povo ante o assédio das forças hostis lideradas pelos Estados Unidos.

Por óbvio, o país não renunciará sem garantias plenas à sua política de defesa nacional. O soerguimento de um arsenal nuclear e a posse de um sistema de mísseis balísticos é considerada uma "medida defensiva orientada a salvaguardar a soberania do país e o direito da nação a sobreviver e proteger a paz da Península Coreana e a segurança da região”.

A República Popular Democrática da Coreia hoje concentra suas energias na construção de uma força econômica, consciente de que a exacerbação de crises diplomáticas, militares ou mesmo a nuclear na Península não favorece esse objetivo.

A rigor, analisados friamente os fatos, a Coreia Popular não tem qualquer interesse de provocar quem quer que seja. Os Estados Unidos, o Japão e a Coreia do Sul, estes sim, deveriam desanuviar seu comportamento, prisioneiro de uma psicose de guerra e de posições preconcebidas sobre a RPDC.

Nos conflitos internacionais não há soluções simples para problemas complexos. Este truísmo explica por que a RPDC criou a teoria Songun - primazia militar e poderio nuclear - e reage com tamanho ímpeto e potência quando se sente ameaçada. 

Decerto que para o imperialismo estadunidense e seus aliados também é um desafio exigente e complexo encontrar a medida exata para tratar um país decidido a não se dobrar a seu ditame. Mas um bom começo poderia ser o levantamento das sanções e a suspensão das ações militaristas e ameaças nucleares. 

Por sua vez, a China tem todo o interesse em evitar mais uma guerra na Península Coreana. Na última que lá ocorreu (1950 a 1953), milhares de chineses deram suas vidas para ajudar a libertar o país da invasão das tropas estadunidenses na luta de libertação comandada por Kim Il Sung, avô de Kim Jong Un. A Rússia, tampouco concordaria com um ataque à RPDC, país com o qual tem uma pequena fronteira. São razões adicionais que deveriam determinar uma política de prudência por parte dos Estados Unidos no manejo da questão coreana. 

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