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Miguel Paiva

Miguel Paiva é chargista e jornalista, criador de vários personagens e hoje faz parte do coletivo Jornalistas Pela Democracia

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Afogando em números

"Não consigo ver uma atitude do governo que esteja beneficiando as classes trabalhadoras e boa parte dela votou no homem. A justificativa que tirou o PT do poder não cola mais e cada dia vai ficando mais distante e menos crível", escreve o chargista Miguel Paiva, do Jornalistas pela Democracia

(Foto: Miguel Paiva)
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Por Miguel Paiva, para o Jornalistas pela Democracia

Se você sair pesquisando por ai vai ver que o chamado "mercado" está satisfeito com o Guedes. O Guedes veio do mercado, foi Chicago Boy,  apoiou o Pinochet e trabalhou nos bancos que operam esse mesmo mercado. É um homem de números, neoliberal clássico, nem um pouco preocupado com essas frescuras de cultura, direitos humanos, questões de gênero e ecologia. Ecologia até pode interessar se as regras em defesa do meio ambiente estiverem atrapalhando os negócios das empresas. O resto vai pra fila do desemprego que agora, segundo a vontade do Bolsonaro, também vai ser taxado. Ou seja, não consigo ver uma atitude do governo que esteja beneficiando as classes trabalhadoras e boa parte dela votou no homem. A justificativa que tirou o PT do poder não cola mais e cada dia vai ficando mais distante e menos crível.

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Conheço muitas pessoas do mercado, antigos amigos que operam esse setor desde a época em que ainda conviviam de forma pacífica com os governos progressistas que, aliás, tiveram uma ótima relação com os banqueiros. O golpe que se articulou mais tarde vinha de fora, vinha da grande indústria, da grande imprensa e do mercado que começava a ver seus lucros ameaçados pela possibilidade de uma mais justa redistribuição de renda. O mundo não podia tomar esse caminho perigoso que a Social Democracia, em alguns países da Europa, já experimentava há décadas.  

Lá, o lucro das grandes empresas, mais do que os do capital, convivem perfeitamente com o desenvolvimento social. O dinheiro é investido em desenvolvimento, em crescimento e não em especulação. Aqui no Brasil o que interessa mesmo são os ganhos de capital, os números abstratos que ilustram a riqueza dos poderosos. Fazer a população trabalhar para que esses ganhos nunca parem de crescer é a grande meta. Iludir o povo que, dando mais dinheiro para os ricos os pobres vão ter mais chance, só não é conversa para boi dormir porque os bois estão todos indo para o matadouro.  

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Mas como um país não é só uma banca de negócios na Bolsa de Valores, complica um pouco. Dá mais trabalho, como diria Luana Piovani. Um país tem sua cultura, suas etnias, suas tribos literais ou não, seus desejos, suas manifestações artísticas, sua linguagem. Um país, aliás, se diferencia do outro por conta disso. Nos números eles só se confundem e se misturam. Mas, como o projeto neoliberal é internacional isso não interessa nem um pouco. Números falam a mesma língua. Cultura, arte, costumes e linguagem falam normalmente coisas que o mercado não gosta muito de ouvir.  

Ora, bolas! Isso não interessa em nada para essa turma. Cultura boa é aquela que não contesta, só catequisa ou diverte. Nada contra, desde que exista também espaço para a criação mais inquieta, mais instigante, mais contestadora até da própria linguagem. Essa inquietação é que traz uma maneira particular de pensar e de se desenvolver, de se criar gerações com algo na cabeça além do boné ou do cabelo.

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O mercado vive muito bem sem isso. O mercado faz cara feia para os filhos do Bolsonaro mas enquanto o Guedes estiver lá, e ele é o verdadeiro homem forte do governo, está tudo bem. Afinal o que interessa mais a eles do que números? Nada. O dinheiro no bolso de quem já tem é o símbolo do sucesso. Quanto mais ricos, mais lucros, mais capital empregado mais felizes eles estarão, e os mais bem intencionados acharão que assim o país vai ter mais possibilidades e o povo poderá se desenvolver.  

Mas povo é um detalhe. Quanto mais ele ficar quieto melhor. Os que merecerem, conseguirem ultrapassar o funil cruel da seleção, terão alguma chance. Os que conseguirem pagar escola, saúde, casa e alimentação poderão sonhar com alguma coisa mais generosa desde continuem trabalhando em ordem. Mesmo o governo não tendo oferecido ainda nada, realmente nada a essa gente - uma massa cada vez maior que no Chile não aguentou, na Argentina, escolheu outro caminho e na Bolívia vê seus sonhos irem embora.  

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Eles ainda falam em nome de um eleitorado composto, em boa parte, de apoiadores fantasmas, raivosos indignados e sem rumo, antipetistas a esmo e extrema direita armada e violenta. Além de termos cuidado, de estarmos atentos e fortes, precisamos acreditar na História. Ela pode dar voltas, ser enganada, iludida e até comprada, mas um dia ela volta e diz ao que veio.

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