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Mauro Passos

Engenheiro, ex-deputado federal pelo PT/SC, e presidente do Instituto Ideal

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Alargar as praias é uma solução, ou um problema a mais...

Cada vez mais as cenas desagradáveis e assustadoras do mar avançando nos preocupam

Praia da Daniela, um domingo de sol, verão de 2024 (Foto: Reprodução)
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A foto acima, da praia da Daniela, em Santa Catarina, ajuda a compreender muitas coisas. À esquerda se vê um degrau onde estão os guarda sóis e as pessoas sentadas. Exatamente no degrau foi onde a maré chegou. Quando o mar recuou deixou uma faixa de areia de 30 metros, pronta para as pessoas andarem livremente. A mão do homem só interferiu nesse cenário na hora de fincar o guarda sol. Portanto, qualquer movimentação no sentido de alargar a Daniela vai ser prontamente rechaçada. Ainda bem, se evita que o dinheiro público seja levado embora pela movimentação do mar.

Em linha reta a poucos quilômetros dali a tradicional praia de Canasvieiras, a primeira a ser alargada, passa por um processo natural de arreste de areia. A praia vizinha dela,  Canajurê  engordou sem pedir. A revista Natureza e Meio Ambiente/Brasil, da DW, publicou um artigo do jornalista Maurício Frighetto, de 15/11/2023, e posteriormente atualizado em 09/02/2024, sobre "Os prós e contras de alargar as praias de Santa Catarina. Segundo a matéria nos próximos anos os investimentos previstos com o alargamento das praias ultrapassa 200 milhões de reais. (*) 

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O caso mais debatido no momento é o de Jurerê Internacional, que começou o processo de bombear areia para a praia, justamente no Carnaval. A dessintonia da obra com a realidade turística da cidade, logo chamou a atenção. Até agora ninguém entendeu. Como tem muito interesse por trás do que está acontecendo lá, o que se consegue são informações fragmentadas. Numa entrevista à TV local o responsável da Prefeitura pela obra sinalizou que o tempo de vida útil do aterro de Jurerê é de 10 anos. Um tempo muito curto para uma obra tão cara. (**)

Outro caso que causou grande polêmica na Ilha, foi resgatado pelo jornalista Maurício Friguetto. Em 2010, na Praia da Armação, no sul da Ilha, cerca de 15 residências foram demolidas pela força da ressaca. O prefeito da época, Dario Berger, pressionado pela comunidade, encheu a praia de pedras. O mar já levou a areia vária vezes e as pedras continuam, os banhistas que se danem. (***) 

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Já em Camboriú, pela dimensão do alargamento, Frighetto detalha melhor o ocorrido. A obra foi finalizada em dezembro de 2021, com custo de R$ 90 milhões. A faixa de areia cresceu cerca de 50 metros. Em junho de 2023, durante uma ressaca - o mar tomou novamente parte da areia em um trecho da praia. Como a especulação imobiliária transformou Camboriú no metro quadrado mais caro do Brasil ninguém gosta de associar os espigões na beira da praia, alguns com 70 andares, com a sombra que se fazia presente no meio de tarde tirando um dos motivos que fazem as pessoas curtirem a praia - o sol.

Já pensando no planeta os estudos reforçam a tendência no mundo e no Brasil que o espaço de praias, dunas e areias vem encolhendo. Portanto, as iniciativas locais citadas no artigo se apresentam fora dessa realidade. Cada vez mais as cenas desagradáveis e assustadoras do mar avançando nos preocupam. Não se controla a fúria do mar com sacos de contenção e paliçadas, lembra Frighetto. Só vejo a verdade como possibilidade de proteção. O gestor público deve alimentar o bom debate para que medidas paliativas e visivelmente voltadas para a lógica do desenvolvimento desordenado e sem limites se estabeleçam, criando o caos urbano como projeto de futuro para Floripa. (****)  

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(*) No seu artigo Maurício Frighetto reforça os problemas de calado que estão prejudicando o embarque e desembarque das lanchas, nas marinas de Canajurê, e que a Prefeitura de Florianópolis até o momento não respondeu se planeja alguma ação no local.

(**) O que se vê em Jurerê é uma obra de envergadura, sem planejamento. A notícia que o tempo de vida útil é 10 anos, foi uma surpresa. O que vai ser feito depois, só pode ser uma obra bem maior. O crescimento populacional em áreas com forte especulação imobiliária, é exponencial.  A praia de Jurerê foi sempre a mesma, em extensão e faixa de areia. O que acontece agora é que todo o mundo foi pra lá.

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(***) As casas que foram levadas pela ressaca de 2010, estavam onde não deviam estar. A Prefeitura não fiscaliza e depois ainda paga pelo estrago que o mar fez. No caso em questão, as pedras jogadas na Armação pelo poder público, visivelmente prejudicaram a comunidade. Ninguém fala nada 

(****) Florianópolis, é uma cidade com muitas belezas naturais que precisam ser preservadas. Quem a defende, logo é desqualificado. Romper a bolha é um desafio diário. Para quem gosta de escrever, o blog de Olho no Futuro com milhares de comentários é um diário aberto que chega nas redes sociais e sites especializados nos temas energia renovável, urbanismo, mudanças climáticas e meio ambiente.  

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PS - Escrevo por instinto. Não domino o assunto. Nasci em Rio Grande e me criei na Praia do Cassino, a mais extensa e larga do país. Nunca vai precisar ser engordada. Quando estudante de engenharia, no final dos anos 60, participei do primeiro estudo científico do país, conduzido pela UFMG, que utilizou radioisótopos para acompanhar o movimento dos sedimentos do material dragado no Porto de Rio Grande De certa forma esse passado distante me dá uma proteção, pelo menos inibe  os que não sabem nada  - mas gostam de desqualificar os que pensam diferente.  

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