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Pepe Escobar

Pepe Escobar é jornalista e correspondente de várias publicações internacionais

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Aqui vai a principal conclusão desses frenéticos dias em Moscou: normalófilos do mundo, uni-vos!

'Lavrov permanece altamente motivado em razão da própria existência Sul Global/Maioria Global', diz Pepe Escobar

Rússia realiza Fórum sobre a multipolaridade (Foto: TV Brics)
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Os últimos dias vêm sendo freneticamente multipolares na capital do mundo multipolar. Tive a honra de dizer pessoalmente ao Chanceler russo Sergey Lavrov que virtualmente todo o Sul Global parecia estar representado em um auditório do conjunto de inovações Lomonosov, em uma tarde moscovita – uma espécie de Nações Unidas informal e, em diversos aspectos, muito mais eficaz no que se trata de respeito à Carta da ONU. Os olhos dele brilharam. Lavrov, mais que a maioria, entende o verdadeiro poder da Maioria Global. 

Moscou recebeu uma conferência multipolar acoplada ao segundo encontro do Movimento Russófilo Internacional (MIR, que em russo significa "mundo"). Tomadas em conjunto, as discussões e os contatos estabelecidos ofereceram sinais auspiciosos quanto à construção de uma ordem internacional verdadeiramente representativa – afastada do pessimismo sombrio imposto pela agenda de uma única cultura unipolar e das Guerras Eternas. 

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A sessão plenária de abertura do primeiro dia foi dominada pelo brilho estelar da porta-voz do Ministério das Relações Exteriores Maria Zakharova – cuja principal mensagem foi meridianamente clara: "Não pode haver liberdade sem libre arbítrio", frase que poderia facilmente se tornar o lema coletivo do novo Sul Global.  "Estados-civilização" deram o tom das discussões – que elaboraram meticulosamente os projetos do desenvolvimento econômico, tecnológico e cultural do mundo pós hegemonia ocidental. 

O Professor de Relações Internacionais Zhang Weiwei do Instituto da China da Universidade de Fudan, em Xangai, resumiu os quatro pontos cruciais no que tange à iniciativa de Pequim de fortalecer seu papel de "novo polo independente".  Entenda-se isso como um marco conciso do ponto onde agora nos encontramos:

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Sob a ordem unipolar, tudo, desde dólares até chips de computadores, pode ser convertido em arma. Guerras e revoluções coloridas são a norma. A China se tornou a maior economia do mundo por Paridade de Poder de Compra, a maior economia comercial e industrial e encontra-se hoje na vanguarda da Quarta Revolução Industrial.

A China propõe um modelo de "Unir e Prosperar" em vez do "Dividir e Dominar" ocidental. 

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O Ocidente tentou isolar a Rússia, mas a Maioria Global simpatiza com a Rússia. O Ocidente Coletivo, portanto, foi isolado pelo Resto Global. 

Lutar a guerra "teopolítica"  - "O Resto Global", por sinal, é o nome errado: a Maioria Global é o nome do jogo. Igualmente errado é o termo o "bilhão dourado" para designar aqueles que lucram com o momento unipolar, a maioria deles do Ocidente Coletivo e das elites compradoras das satrapias: estes, na melhor das hipóteses, totalizam cerca de 200 milhões.

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Na segunda-feira à tarde, em Moscou, ocorreram três sessões paralelas:  uma sobre a China e o mundo multipolar, na qual a estrela foi o Professor  Weiwei; outra sobre a pós-hegemonia ocidental, sob o título "Seria possível salvar a civilização europeia?" – assistida por diversos  dissidentes europeus, acadêmicos, membros de think-tanks e militantes e, a terceira – o carro-chefe - tratando dos atores da linha de frente da multipolaridade. 

Tive a honra de moderar  a espetacular sessão de quase três horas sobre o Sul Global – que poderia ter durado o dia inteiro, por sinal – que trouxe diversas e surpreendentes apresentações de palestrantes ilustres da África, América Latina e Ásia, da Palestina à Venezuela, entre eles o neto de  Nelson Mandela,  Mandla.

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Estava ali o Sul Global multipolar em pleno voo – e minha tarefa era dar a palavra ao máximo de pessoas possível. Caso os organizadores lançassem uma seleção de Grandes Sucessos dessas apresentações, ela facilmente bombaria no mundo inteiro.

Mandla Mandela ressaltou que agora é hora de nos afastarmos do sistema unipolar dominado pelo Hegêmona, "que continua a apoiar Israel". 

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Essa fala complementou a do carismático militante do Benin Kemi Seba – que brilhantemente personifica a liderança africana do futuro. Na sessão plenária, Seba introduziu um conceito de importância-chave, que deveria ser desenvolvido em todos os países do mundo: estamos vivendo uma guerra "teopolítica".  

Esse termo resume de forma clara a Guerra Híbrida movida pelo Ocidente simultaneamente contra o Islã, os Xiitas, os Cristãos Ortodoxos e, na verdade, contra qualquer religião que não o Culto do Woke Politicamente Correto. 

No dia seguinte, o segundo congresso do Movimento Russófilo Internacional trouxe três sessões de debate: a mais importante delas foi – o que mais poderia ser? – "A Guerra Híbrida e Informacional". 

Tive a honra de dividir o palco com Maria Zakharova – e após minha apresentação ao estilo free-jazz, focando meus mais de quarenta anos de prática de jornalismo por todo o planeta, quando assisti em primeira mão a mais total degradação desse setor, mantivemos um diálogo, que espero tenha sido útil, sobre mídia e soft power. 

Minha sugestão não apenas ao Ministério das Relações Exteriores russo, mas também a todos  de todo o Sul Global, foi clara e direta: esqueçam da mídia convencional controlada pela oligarquia, ela já está morta. Eles não têm mais nada de importante a dizer. O presente e o futuro estão nas mídias sociais, a mídia "alternativa" - que já deixou de ser alternativa, muito ao contrário, e na mídia cidadã, nas quais os mais elevados padrões de jornalismo devem ser aplicados.    

No final da tarde, antes de todo mundo cair na gandaia, alguns de nós fomos convidados para um jantar de trabalho aberto, franco e esclarecedor com o Chanceler Lavrov em um dos magníficos salões cobertos de afrescos do Hotel Metropol, um dos mais luxuosos hotéis da Europa desde 1905.

Uma lenda com um afiadíssimo senso de humor - Lavrov estava relaxado, sentindo-se entre amigos, e depois de um espetacular tour de force diplomático cobrindo diversas pontos críticos das últimas décadas até chegar à atual situação de catástrofe, ele abriu para perguntas, tomando notas e respondendo detalhadamente a cada uma delas.

O que é surpreendente ao nos vermos face a face com o mais lendário diplomata do mundo de tempos recentes, em um ambiente relaxado, é sua genuína tristeza frente à ira, a intolerância e a total ausência de pensamento crítico demonstrada principalmente pelos europeus. Em toda nossa conversa, isso assumiu importância maior que o fato de as relações Estados Unidos-Rússia nunca terem sido tão ruins. 

Lavrov, no entanto, permanece altamente motivado em razão da própria existência Sul Global/Maioria Global  e do fato de a Rússia ocupar a presidência dos BRICS no presente ano. Ele elogiou enfaticamente o primeiro-ministro indiano Jaishankar e as relações amplas com a China. Ele também sugeriu que o Movimento Russófilo venha a assumir um papel global, sugerindo, em tom jocoso, que todos nós deveríamos participar de um movimento de "normalófilos". 

Bem, Lavrov, a Lenda, também é conhecido por seu afiadíssimo senso de humor. E o humor funciona ao máximo quando trata de coisas muito sérias. Então, aqui vai a principal conclusão desses frenéticos dias em Moscou: normolófilos de todo o mundo, uni-vos! 

Tradução de Patricia Zimbres

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