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Ronaldo Lima Lins

Escritor e professor emérito da Faculdade de Letras da UFRJ

205 artigos

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As volúpias do sadismo e os tiros de fuzil

Os palestinos resistem (e nunca se imaginou que o fizessem, em condições tão adversas). Provaram o valor de sua dignidade

Crianças palestinas aguardam para receber comida de uma cozinha de caridade em meio à escassez de suprimentos, em Rafah, sul da Faixa de Gaza 05/03/2024 REUTERS/Mohammed Salem (Foto: Mohammed Salem)
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Guerras, nas paixões humanas, mostram traços insuspeitados, diferentes dos períodos de paz, a não ser através de surtos de crueldades também presentes aqui e ali. Nos períodos de exceção, surgem máscaras horrorosas de impensáveis comportamentos pelos quais nos revelamos, assustando-nos com a nossa própria face monstruosa. E há as manifestações de sadismo, estudadas por Freud, quando a possibilidade de subjugar o outro prevalece sobre todas as demais. E não basta isso para traçarmos um quadro tenebroso do que somos. Na situação de pesos e contrapesos, o bom e o mal se confrontam. O difícil é escapar de semelhante maldição antes de naufragarmos em conjunto no lodaçal das condutas, no qual poucos sobrevivem com um mínimo de decência. Cumpre criar meios de comando para não ferir a Convenção de Genebra e não concluir nossa biografia estampando o que há de pior quando estivemos assim tão envolvidos. 

Israel não parece ter desenvolvido tais modelos de estratégia. Cenários dos conflitos na Faixa de Gaza estampam, exibidas pela mídia, o que há de terrível em termos de ações de suas tropas. É como se os soldados houvessem acabado de sair de momentos de orgia, livres para o que desse e viesse, pouco se lixando para a opinião pública e não se limitando a matar, embora, sem dúvida, também o fizessem.  Em momentos expostos para uma audiência mundial, empunharam fuzis e viraram campeões do morticínio, sem dó nem piedade. Ao lado do que puseram nas telas, a indignação do Chanceler de Tel Aviv a respeito das declarações de Lula comparando os fatos a Hitler deu a impressão de irrelevante, pretexto apenas para os políticos da extrema direita exercerem seu poder de espernear.

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Venhamos e convenhamos. Orgias (políticas, sexuais, capitalistas, etc.) se fazem bem à alma na hora da ação, entre quatro paredes, carregam depois, infinitamente, a hipótese de anormalidade que acompanha o sádico, vá para onde for. É uma das razões pelas quais Freud não julgava os nela viciados, mas considerava que necessitavam de tratamento. 

 É preciso cuidado para estudar o que se passa atualmente na região da Palestina. A propaganda de Israel pode bater na mesma tecla e afirmar a justeza do que realizam seus soldados. Isso nunca será suficiente, no entanto, para alterar os retratos da guerra, mudar a fisionomia dos que se submeteram à volúpia do sadismo e não voltarão para casa, limpos de corpo e alma. Nos Estados Unidos, cada guerra, a começar pelo Vietnã, depois pelo Iraque e por fim pelo Afeganistão não produziu heróis. Levaram de volta legiões de veteranos prontos para matar e incapazes de serem salvos. 

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E não resolve jogar a culpa em cima do Hamas, dizer que são extremistas e que não gostam de mulheres. Os palestinos resistem (e nunca se imaginou que o fizessem, em condições tão adversas). Provaram o valor de sua dignidade. Será difícil acabar com eles, apesar do projeto étnico de extingui-los da face da Terra. Não nos iludamos. São gente disposta a insistir. Para enfrentá-los, nem os fascistas, muito menos os democratas, o conseguirão. Podem recorrer às volúpias do sadismo. São tenazes. Não lograrão dobrá-los. 

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