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Luiz Fernando Padulla

Professor, biólogo, doutor em Etologia, mestre em Ciências, autor do blog 'Biólogo Socialista'

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Assustado, mas não surpreso

Hoje escrevo isso para tentar desabafar e acalmar, pois na escola que leciono, uma ameaça aconteceu e nos assustou. O medo nos assombra, mas não nos surpreende.

Carro da Polícia Científica deixa creche que sofreu atentado em Blumenau, Santa Catarina (Foto: REUTERS/Denner Ovidio)
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Os recentes crimes cometidos em escolas chocam o país. Creches e escolas particulares ganham manchetes nos noticiários. Mas dessa vez, não foram na periferia - quase sempre negligenciada e apagada. Os alvos são escolas de elite, com suas mensalidades estratosféricas, climatizadas com ar condicionado, jardins internos e aparelhada com tudo de melhor que o dinheiro pode comprar, incluindo câmeras para segurança e - nossa vigilância. 

Infelizmente, uma previsão que fizemos há anos, desde o golpe de 2016. 

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Não podemos esquecer que tudo começou com a famigerada proposta da “escola sem partido”, que não apenas afrontou nossa liberdade de cátedra, prevista na Constituição, como foi um passe livre para a caçada aos professores e professoras. Fomos alvos – não que não sejamos mais – de discursos reacionários, infundados e inflados por um pseudo líder que promoveu a desordem e o caos no país.

E sim, prezados pais e mães (nem tão prezados assim!), tudo é política!

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Alertamos que seus discursos e “brincadeiras” fazendo arminha e defendendo o ódio e a política de morte, surtiria efeito na sociedade. Mas, como sempre, fomos rotulados, desacreditados e perseguidos. E hoje a sociedade colhe aquilo que foi plantado.

E, para desespero da classe elitizada, os frutos podres ultrapassaram os muros e cercas eletrificadas de suas escolas, fazendo seus filhos abastados de dinheiro os alvos da vez.

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Poderia dizer que é nossa vingança, mas não somos assim. Por mais que tenhamos sido perseguidos e sofrido durante esses anos de desgoverno, não é de nossa índole desejar o mesmo sofrimento e muito menos morte – muito menos de crianças e jovens que não tem a culpa e o sangue nas mãos que seus pais e mães ajudaram a derramar.

Porém, tenho a certeza que o que estão passando nesses dias, é uma pequena amostra do que nós passamos nesses últimos 6 anos. O medo, a incerteza, a insegurança, a tensão. Sofrimento maior quando os educadores eram esquerdistas e, mesmo que isso não seja crime, éramos tratados como tal. “Criminosos” que acreditam em uma sociedade justa, emancipada, crítica.

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Hoje, são essas famílias, geralmente intituladas “de bem” que são vítimas desse medo. No caso deles, o medo que ajudaram a plantar e disseminar.

As mesmas escolas, pais e mães (ou meros genitores) que nos viam como inimigos, que cerceavam nossa liberdade, que nos perseguiam e vigiavam para intimidar, hoje são reféns dessa sociedade destruída...por eles mesmos.

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Uma falha social que ganhou força com a proibição da educação libertadora (palavras proibidas e associadas à “ameaça comunista” de Paulo Freire). A proibição irracional e reacionária contra a formação de cidadãos e cidadãs empáticos, tolerantes, críticos, que saibam analisar os reais problemas do país e que sejam, acima de tudo, verdadeiramente humanos. Mas não. Isso era – e continua, de certo modo – proibido. Com medo da demissão, e sem o salário espúrio que recebemos perante tamanha demanda de trabalho extra sala de aula e, consequentemente, o receio de não conseguirmos pagar nossas contas, conseguiram nos tornar professores medíocres, repetidores de conteúdo e seguidores de uma educação bancária. Tiraram nossa alma educadora. E os frutos podres se espalharam.

Quanto tempo demoraremos para corrigir esse erro? Não saberia dizer. E, sinceramente, não sei se nós, verdadeiros educadores, teremos saúde mental – ou se estaremos vivos! – para ver essa reorganização.

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Mas como otimista que tento permanecer sendo, espero que as noites que essa gente passará em claro, sem dormir ou com constantes pesadelos que terão pela preocupação com seus filhos e filhas, os faça refletir sobre o erro que cometeram perante a sociedade.

Não espero pedido de desculpas – hipócritas jamais se arrependem porque não admitem qualquer culpa – mas desejo que não vejam mais os educadores e educadoras como inimigos, mas como aliados que estão na linha de frente para combater essa barbárie que causaram.

Hoje escrevo isso para tentar desabafar e acalmar, pois na escola que leciono, uma ameaça aconteceu e nos assustou. O medo nos assombra, mas não nos surpreende. Hoje escrevo e espero que dias melhores e normais voltem a ser nossa realidade. Hoje escrevo porque amanhã, não sei se estarei aqui para escrever tudo isso que gostaria.

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