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Igor Corrêa Pereira

Igor Corrêa Pereira é técnico em assuntos educacionais e mestrando em educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Membro da direção estadual da CTB do Rio Grande do Sul.

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BBB: a pedagogia da eliminação do concorrente

A pedagogia do BBB é uma mensagem antítese ao antigo hino da Internacional Socialista que dizia paz entre nós, guerra aos senhores. A pedagogia do BBB diz justamente guerra entre nós, e com isso, desunidos, somos muitas vezes mais submissos e subservientes aos senhores, que felizes, engordam sugando nossa jugular.

Lucas Penteado (Foto: Reprodução)
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Muita gente em debates acalorados sobre o cancelamento ou não de Carol Konká, Lucas ou outros personagens do novo Big Brother Brasil 2021. Outros, mais rabugentos, se limitam a dizer que BBB é coisa de alienado, de gente sem criticidade e etc. Vou propor pensar essa questão de um outro jeito. Você já pensou no BBB como uma escola? 

Numa escola se procura aprender sobre um modo de existência, de conduta, de constituição do sujeito. Pois bem, o BBB tem lições a ensinar. O BBB ensina o valor da competição entre indivíduos. Ensina que a maioria perderá, e por isso "vale tudo" para vencer. E mais do que isso. Ela atribui essa competição de todos contra todos como a "vida real". Ou seja, ensina que este é o mundo real. Uma verdade que é impossível de se fugir e só nos resta tentar aprender para quem sabe sobreviver. 

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O BBB capacita para a vivência na sociedade neoliberal. Ajuda a tornar natural a perda de direitos trabalhistas e que cada pessoa se enxergue como empresária de si. Ensina a "ser forte", a "tomar decisões duras". Essas frases, que estão em cada atitude dos jogadores da casa mais vigiada do Brasil, ensinam as pessoas a viver na selva do mundo do trabalho.

É preciso ser forte para trabalhar além de qualquer jornada de trabalho minimamente decente. É preciso tomar a decisão dura de ferrar qualquer pessoa que esteja entre você e uma possível boa oportunidade de emprego. O jogo do BBB nos ensina como é o jogo na sociedade contemporânea, sem direitos, sem garantia. Na melhor das hipóteses, você ganhará a oportunidade de continuar trabalhando mais e mais. Na pior e mais provável hipótese, você será eliminado.

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A socióloga Silvia Viana usou o termo "engrenagem de fazer sofrer" para descrever o funcionamento de nossa sociedade. Como funciona essa máquina? Bem simples. Basicamente, o cappitalismo nos faz acreditar que falta trabalho e riqueza para todos. Isto posto, temos que fazer nosso máximo para nos manter produtivos no jogo. Isso implica sacrifícios não só de trabalho exaustivo mas também de nosso jeito de ser, de nosso tempo, relações sociais, etc. 

O BBB nos ensina a naturalizar essa máquina. Naturalizar que só haverá um vencedor, que passará por cima dos outros. O ritual de eliminação de um participante por semana, toda a tensão que envolve a escolha de quem vai para o paredão, e o envolvimento do telespectador na eliminação desse participante, que vota escolhendo quem deve ser eliminado, envolve milhões de pessoas num processo pedagógico que ensina o funcionamento da máquina de fazer sofrer neoliberal.

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O fato do BBB contemplar negros, homossexuais, dar visibilidade a causas feministas e até mesmo de partidos de esquerda (uma das edições teve inclusive uma militante petista), só reforça a pedagogia. A mensagem inclui todos na máquina de fazer sofrer. Não importa sua cor, crença, seu gênero, sua religião. Você precisa entrar no jogo. Você pode inclusive vencer. Se aceitar as regras e conseguir eliminar todos os adversários, você vence. 

O chamado neoliberalismo progressista, um termo cunhado por Nancy Fraser para descrever o bloco hegemônico de poder que se formou nos Estados Unidos em torno dos governos dos Democratas Clinton, Obama e agora Biden, parece valer para descrever a cooptação cultural promovida pelo BBB. 

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Esse programa é só uma filial brasileira de uma multinacional que já foi reproduzido em 75 países. Existem outros realities shows de outras modalidades, só para reforçar as mesas condutas.  Essa é a mensagem mundial do neoliberalismo. A competição é global. É por isso que o julgamento individual de um personagem do BBB, por mais que essa pessoa te pareça “representativa”, só reforça a narrativa dessa hegemonia global: toda a gente, em toda a diversidade, pode sofrer e fazer sofrer nessa máquina de sofrimento. 

A principal lição do BBB está sendo transmitida de maneira eficiente. Quando milhões de pessoas participam da eliminação de uma pessoa, quando milhares de pessoas debatem numa rede social se esta ou aquela pessoa deve ser cancelada, demonstram que são bons discípulos da pedagogia BBB. Uma pedagogia da eliminação, que enxerga como possíveis concorrentes a todos. 

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Até os militantes passam a se comportar assim, rosnando uns contra os outros. A pedagogia do BBB é uma mensagem antítese ao antigo hino da Internacional Socialista que dizia paz entre nós, guerra aos senhores. A pedagogia do BBB diz justamente guerra entre nós, e com isso, desunidos, somos muitas vezes mais submissos e subservientes aos senhores, que felizes, engordam sugando nossa jugular.

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