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Chico Cavalcante

Estrategista-chefe da Agência Vanguarda, primeira a trabalhar com enfoque diferenciado de marketing para sindicatos, movimentos sociais, partidos de esquerda e pequenas empresas

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Blackbloc é o ludismo do século XXI

Os balckblocs representam o ludismo em um momento histórico em que quebrar máquinas é apenas demonstração de demência social e nunca uma forma de indicar saídas reais às contradições do sistema ou às limitações dos governos

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Em 2013 emergiu no Brasil a franquia de uma vertente do movimento anarquista global que se autodenomina "blackbloc". Inspirado no movimento de ação direta alemão dos anos oitenta do século passado, embalado por uma cobertura favorável da imprensa oposicionista às suas ações, esse grupo gosta de ser tratado como "uma tática" (sic) quando é, na prática, um movimento, com ativistas de base (massa de manobra) e dirigentes, comando e comandados, como qualquer organização de bando desde os primórdios da humanidade.

Pensam-se revolucionários, mas mundialmente sua ação mais notória foi a destruição das fachadas de lojas e escritórios do McDonald's, da Starbucks, da Fidelity Investments e outras instalações de grandes empresas no centro de Seattle, em 1999, demonstrando mais revolta adolescente do que perigo real para o sistema capitalista. Enquanto grupos revolucionários reais, como as Brigadas Vermelhas italianas ou o Baader-Meinhoff alemão executavam torturadores e nazistas e atacavam instalações militares, os adolescentes blackbloc no máximo quebram vidraças e saqueiam lojas de eletrônicos.

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Suas ações mais previsíveis no Brasil são os ataques aos caixas eletrônicos de bancos públicos e privados, equipamento usado como estrutura de conveniência especialmente por trabalhadores que utilizam cartão-salário, aposentados com baixa mobilidade e usuários de programas sociais do estado. Garantidas pelos bancos com grandes corporações seguradoras, a inutilização de um caixa eletrônico produz mais prejuízos a um aposentado que tenta sacar o seu provento do que ao banqueiro que repõem a máquina com o dinheiro da seguradora na ordem de dois para um. Ou seja, quando os blackblocs quebram um caixa eletrônico elas aumentam o lucro da rede bancária e não o contrário.

Assim como o século XXI vê o surgimento de protestos que culminam com a quebra de máquinas, o século XVIII, palco da Revolução Industrial, viu surgir um movimento que, incapaz de conter o avanço do capitalismo industrial e saudoso da produção artesanal, escolheu como tática de luta destruir as máquinas não porque elas "representavam" o capitalismo emergente, mas porque elas "eram", em si, os exploradores que ameaçavam os postos de trabalho e, portanto, a sobrevivência material dos proletários e de sua prole. Esse momento de substituição, que a psicologia trata como transferência, é o que acontece quando um jovem ataca um caixa eletrônico achando que aquela máquina "é" o capitalismo e, portanto, a exploração que o sistema engendra.

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Assim como a Revolução Tecnológica que vivemos mudou a base produtiva e está mudando a organização social, a Revolução Industrial do século XVIII se entendeu em progressivas e intensas transformações sociais, políticas e econômicas que redesenhariam a geopolítica mundial a partir dali. Com a industrialização veio a urbanização acelerada, as mudanças no modo de produção e a intensificação da luta de classes, aumentando a tensão entre os donos dos meios de produções e os trabalhadores.

Aquela Revolução Industrial teve como característica intrínseca a substituição da produção artesanal pela mecânica, proporcionando ou aumento significativo na produção diária de mercadorias. A reconfiguração da indústria aumentou o lucro dos donos do capital – não apenas industrial, mas também bancário e agrário – elevando a mais valia absoluta – o aumento da produção de valor e de mercadoria sobre as horas trabalhadas mantendo a média de duração da jornada de trabalho.

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Naquele momento as aquisições tecnológicas não eram – como agora - nem minimamente socializadas e as condições de vida dos trabalhadores eram ainda mais precárias do que se pode ver no atual período histórico. Não havia nada nem parecido com o que denominamos hoje de políticas públicas ou direitos sociais e trabalhistas. Trabalhadores eram segregados, suas casas insalubres não tinham nem energia elétrica nem água potável e 100% de suas moradias apresentavam péssimas condições sanitárias em áreas urbanas do velho e do novo mundo.

Em São Paulo, em Londres ou em Nova Iorque, cada trabalhador chegava a trabalhar dezoito horas ao dia convivendo com péssimas condições de trabalho. A expectativa de vida dos operários era baixa, com alta incidência de doenças e de acidentes de trabalho. Um trabalhador industrial raramente chegava aos 60 anos de vida.

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Para evitar revoltas e manifestações, os capitalistas preferiam contratar mulheres e crianças. As condições de trabalho eram extremamente insalubres, as fábricas eram quentes e úmidas, com pouca ventilação. A alimentação servida para os operários nas fábricas era insuficiente e de péssima qualidade, pobre em nutrientes e frequentemente estragada.

Naquele contexto o ludismo surgiu para defender postos de trabalho. Nasceu da constatação de que, com o incremento das máquinas industriais nas fábricas, rapidamente a mão de obra operária seria substituída, gerando milhares de desempregados. Muitos trabalhadores reagiram a essa investida "das máquinas" com o movimento de quebra de máquinas e equipamentos industriais: no ano de 1811, muitos trabalhadores invadiram as fábricas à noite e quebraram as máquinas com golpes de martelos.

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Assim como para os blackbloc em transe hormonal os caixas eletrônicos, as franquias de lanchonetes e as concessionárias de automóveis representam "o sistema" ou "o capitalismo", para aqueles trabalhadores, as máquinas eram "o inimigo" porque pareciam ser as principais responsáveis pela situação de exploração e de desemprego em que se encontravam.

A expressão "ludismo" teve origem no nome do principal líder do movimento, que se chamava Ned Ludd. Rapidamente, o ludismo se espalhou da Inglaterra para outros países europeus.

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O ludismo se constituiu como o primeiro movimento operário de reivindicação de melhorias nas relações e condições de trabalho, o que era legítimo, mas inútil. Foi derrotado como tática e como movimento porque logo a organização sindical, baseada nas caixas de solidariedade, encontrou um caminho objetivamente qualitativo, organizando-se por melhorias de condições de trabalho, melhores salários, jornadas de trabalho menos intensas, proibição do trabalho infantil e construindo partidos operários de massas, que transformaram em propostas e ações efetivamente revolucionárias as demandas da classe trabalhadora.

Os balckblocs representam o ludismo em um momento histórico em que quebrar máquinas é apenas demonstração de demência social e nunca uma forma de indicar saídas reais às contradições do sistema ou às limitações dos governos.

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