Bolsonaro busca saída à la Roberto Jefferson
"Se as coisas piorarem, interlocutores de ministros do STF não descartam uma ação em tempo recorde para gerar um impeachment", informa Helena Chagas

Jair Bolsonaro está cansado de saber que não vai adiantar nada bater o pezinho e botar os caminhoneiros golpistas para bloquear estradas. Isso não vai anular o resultado das eleições, e nem apagar o fato de que Luiz Inácio Lula da Silva é o novo presidente do Brasil e tomará posse em 1 de janeiro. A cadeira de ditador perpétuo Bolsonaro não vai conseguir, até porque, nacional e internacionalmente, todo mundo que importa já reconheceu e legitimou a vitória de Lula - até seus aliados bolsonaristas.
O que quer então o capitão ao alimentar esse estado artificial de pré-golpe? Quer mostrar força, dizem alguns. Tentar passar a falsa ideia de que pode parar o país, hoje e durante o futuro governo. Com esse raciocínio tortuoso, pode estar achando que assusta o presidente eleito, o STF e outras forças, a ponto de levá-las a negociar com ele um armistício.
Armístício para quê? Para não ir parar na cadeia - um medo crônico que hoje está maior do que nunca - negociando o arquivamento dos inquéritos de que é alvo, ou promessas de indulto e assemelhadas.
Se é essa a intenção, porém, deu um tiro no pé. Se a chance de um acordão já seria remota mesmo no caso de uma transição de governo relativamente normal, agora torna-se impossível. Até porque quem preside os inquéritos nos quais Bolsonaro e seus filhos são alvo por atentados diversos à democracia é o mesmo ministro Alexandre de Moraes que garantiu o processo eleitoral.
É Xandão quem está hoje tomando as decisões que obrigam as polícias militares e os governadores a reagirem contra o caminhoneiros - atitude tomada depois de perceber que forças federais como a PRF davam sinais de cumplicidade com o movimento. Foi ele também que ameaçou de multa e prisão o presidente da corporação caso ele não tomasse providências contra os bloqueios.
Está descartada, portanto, a possibilidade de Xandão aliviar a situação de BolsoNero - tomo emprestado de meu amigo Rudolfo Lago o apelido - , e é muito provável que, ao contrário, vá complicá-la bastante. No mínimo, é mais um inquérito contra o presidente da República.
Se as coisas piorarem, interlocutores de ministros do STF não descartam nem mesmo a possibilidade de uma ação tramitar em tempo recorde e gerar, quem sabe, um processo de impeachment contra o presidente da República por golpismo.
Vai dar um trabalho danado, e não estava nos planos de ninguém, mas, com 60 dias de transição pela frente, aliados de Lula já avaliam que, se o sujeito que continua com a caneta na mão se tornar uma ameaça ao país, pode não haver outra solução a não ser apeá-lo logo do poder. Há quem diga que talvez seja esse o plano que hoje está na mente doentia de Bolsonaro: vitimizar-se e dramatizar ainda mais sua saída do Planalto. Quem sabe uma solução a la Roberto Jefferson a caminho da cadeia.
É bom lembrar: Bolsonaro escapou até hoje de um impeachment em função do acordo pelo qual entregou o governo ao Centrão. Mas agora o governo acabou, e o Centrão já reconheceu a vitória de Lula.
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