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Emir Sader

Colunista do 247, Emir Sader é um dos principais sociólogos e cientistas políticos brasileiros

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Bolsonaro no modo “se correr o bicho pega, se ficar o bicho come”

"Ao corroer sua própria governabilidade, Bolsonaro foi empurrado para essa situação de “se correr o bicho pega, se ficar o bicho come”. Ele não se conformou e voltou a retomar o tom anterior"

(Foto: REUTERS/Carlos Barria)
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A situação de Bolsonaro nunca foi cômoda. Político de velha cepa, prometia renovar a política. Ignorante de economia, delegada a um ultra-neoliberal como o Paulo Guedes, o destino de uma economia de um país com fome, miséria e desigualdades aguçadas pelo restabelecimento desse modelo no governo Temer.

Com mentalidade de miliciano, Bolsonaro degradou a imagem do presidente da república e do Brasil no mundo. Radicalizou seu discurso cada vez mais contra o Judiciário, contra a mídia e contra a oposição.

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Enquanto tinha apoio popular, esse discurso e a falta de políticas para os grandes problemas do país – estagnação econômica, desemprego, precariedade do trabalho, fome, miséria, desigualdades,  pandemia – não desgastaram sua imagem. Seu discurso terceirizava os problemas para governadores, para o Judiciário, para o Congresso e para a oposição.

Mas quando ficou claro que o governo é que é o centro dos problemas do país, ao não ter comprado as vacinas em 2020, ao ter uma política econômica que só atende os interesses dos grandes empresários, o desgaste da imagem do Bolsonaro se acentuou. 

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A recuperação dos direitos políticos do Lula recolocou para a sociedade de que há alternativa, de que o Brasil já foi melhor.

Quanto mais se enfraquecia politicamente, quanto mais ficava isolado, mais Bolsonaro radicaliza seu discurso. Os acontecimentos do 7 de setembro e os seus desdobramentos refletiram todas as contradições em que se move o Bolsonaro.

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Provavelmente, depois de tanto ameaçar com golpe, Bolsonaro tentou combinar distúrbios nas manifestações do 7 de setembro com decretação de estado de sítio, o que concentraria mais poder nas suas mãos. Essa seria a via do golpe.

Não deu certo. Apesar das manifestações violentas de segunda-feira em Brasília, na terça elas se deram de forma pacífica. E a tentativa de convocação do Conselho de Estado, que poderia decretar o estado de sítio, não teve repercussões e Bolsonaro teve que retroceder.

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Porém, muito pior do que isso, a radicalização das suas declarações tiveram repercussões generalizadamente negativas. Ele havia declarado que não obedeceria as decisões de Alexandre de Morais, chegou a dizer que só sairia do governo morto.

Declarações dos presidentes da Câmara, do Senado, STF e do STE, além de partidos políticos, se somaram à decisão de apresentar um impeachment contra Bolsonaro. O isolamento do presidente só aumentou.Até que saiu sua declaração de recuo. 

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Não lhe restava alternativa. Mas teve que pagar o preço de sair derrotado da semana, além de perder apoio no seu próprio campo, tanto dos caminhoneiros como de militantes, que demonstraram decepção com o recuo dele.

Ao corroer sua própria governabilidade, Bolsonaro foi empurrado para essa situação de “se correr o bicho pega, se ficar o bicho come”. Ele não se conformou e voltou a retomar o tom anterior, na live da própria quinta-feira. Mas, claramente, perdeu iniciativa e discurso, porque não foi capaz de colocar em prática as promessas para o dia 7 de setembro.

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Ele dizia que seria a última oportunidade de salvar o país, que não se podia perder a oportunidade. Nem promoveu a maior manifestação de todas (prometeu 2 milhões na Avenida Paulista, havia não mais de 150 mil), não houve os ataques contra o STF e à Embaixada da China e tampouco o contragolpe.

Essas contradições tornaram Bolsonaro mais inerte ainda. Nenhum movimento de que irá mudar sua agenda. A obsessão com o STF segue. O controle da inflação impede auxílios emergenciais e faz prever a continuidade da estagnação econômica para 2022, cortando a ilusão de recuperação para o ano eleitoral.

 

Ninguém acredita que Bolsonaro possa conquistar a reeleição, nem dar algum tipo de golpe. Nessa situação, os apoios parlamentares também tendem a decrescer. Porém, não a ponto de que o impeachment consiga os 2/3 necessários no Congresso.

É muito tempo daqui a outubro de 2022 e daqui a primeiro de janeiro de 2023. Dificil imaginar o que será do país e do governo Bolsonaro até lá.

Não tem sentido dizer que tudo é possível. O mais provável são eleições em outubro de 2022, com vitória do Lula, até mesmo no primeiro turno.

Mas, e até lá? Como sobreviverão os milhões de brasileiros vivendo na precariedade, na fome e na miséria? Como o país terá mais 16 meses com esse governo? Bolsonaro joga o Brasil e os brasileiros na pior catástrofe humanitária, de que só a restauração da democracia pode resgatá-los.

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