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Ribamar Fonseca

Jornalista e escritor

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Bolsonaro quer ver o circo pegar fogo para dar o golpe

"Bolsonaro, pelo visto, quer ver o circo pegar fogo para ter um pretexto para acionar as Forças Armadas e, desse modo, aproveitar a oportunidade para mascarar um golpe há muito arquitetado", escreve Ribamar Fonseca

Jair Bolsonaro (Foto: Adriano Machado/Reuters)
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Aparentemente tem  muita gente que ainda não está levando muito a sério as ameaças contra as instituições anunciadas pelos  organizadores das manifestações bolsonaristas marcadas para o próximo dia 7 de setembro. Incentivados pelo próprio Presidente da República, os bolsonaristas ameaçam invadir o Supremo Tribunal Federal, o Congresso Nacional e até a embaixada da China, uma insanidade que, agravada pela manifestação de apoio de altos oficiais da Policia Militar de São Paulo, pode desaguar numa guerra civil  de consequências imprevisíveis. Bolsonaro, pelo visto, quer ver o circo pegar fogo para ter um pretexto para acionar as Forças Armadas e, desse modo, aproveitar a oportunidade para mascarar um golpe há muito arquitetado. Parece que todas as suas loucuras, que tem mantido o país em permanente tensão, não decorrem apenas da sua insanidade ou despreparo para governar uma nação do tamanho do Brasil mas faria parte de um plano previamente traçado para conquistar o poder absoluto. 

Não deixa de ser surreal que o próprio Presidente da República provoque crises diárias e promova agitações, com incentivo à violência e o desrespeito à Constituição e às instituições. Quando  manda  caças da Força Aérea sobrevoarem o prédio do STF para estilhaçar suas vidraças, segundo denunciou o ex-ministro da Defesa Raul Jungman, e afirma que “não aceitará passivamente as decisões da Suprema Corte”, Bolsonaro está não apenas promovendo o caos  mas, também, estimulando o desrespeito  à Constituição Federal e à autoridade do próprio Chefe do Executivo, instalando   a anarquia no país. A situação chegou a tal ponto que ninguém mais respeita nenhuma autoridade de nenhum poder, que são xingadas e ameaçadas por suas decisões. O deputado coronel PM bolsonarista  Tadeu, por exemplo, disse que o governador  João Doria merecia uma surra no meio da rua  e o desafiou a comparecer à avenida Paulista no dia 7 de setembro, recomendando que ele leve um batalhão de seguranças. Doria, no entanto, em vez de impor a sua autoridade à PM do seu Estado, talvez por covardia, está mais preocupado em insultar Lula.

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Após declarações de vários coronéis da PM, favoráveis a Bolsonaro e ao fechamento do STF e do Congresso Nacional, tem-se a impressão de que está em curso um motim das policias militares em todo o país, colocando em cheque a autoridade dos governadores. A Associação Nacional dos Militares Estaduais do Brasil (Amebrasil), presidida pelo coronel Marco Antonio Oliveira, divulgou nota dizendo que as PMs acompanharão o Exército no caso de uma ruptura institucional. E o deputado coronel Tadeu informou que 50 ônibus foram alugados para levar militares de todo o Estado de São Paulo para as manifestações da Paulista, em apoio a Bolsonaro. Apesar de algumas declarações minimizando o movimento, a situação se mostra grave, com o risco inclusive de confrontos, já que é evidente que esse pessoal todo deverá comparecer armado às manifestações, o que, aliás, já foi inclusive detectado pela Policia. Diante desse quadro sombrio não basta a divulgação de notinhas: alguém precisa tomar uma atitude concreta para evitar um mal maior.  

Na verdade, o risco de confrontos é muito grande, até porque o próprio Bolsonaro, que liberou a compra de armas para todo mundo desde o inicio do seu governo, está incentivando o povo a comprar armas, sob a alegação de que “só armado o povo não será escravizado”. No seu habitual encontro matinal com seus apoiadores no cercadinho à porta do Palácio da Alvorada e em outros eventos ele tem repetido   que “tem idiota que diz que é preciso comprar feijão. Eu digo que é preciso comprar fuzil”. Segundo recente levantamento já existe mais de 2 milhões de armas em poder de particulares no Brasil, o que explica o aumento da criminalidade. E tudo indica que não apenas policiais militares à paisana mas, também, civis bolsonaristas radicais deverão comparecer às manifestações armados, animados pelo incentivo do próprio Presidente. Diante disso, não é muito difícil prever-se incidentes de consequências trágicas, pois os opositores do governo também estarão nas ruas participando de manifestações pelo “fora Bolsonaro”.   

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O mais surpreendente é que apesar do comportamento belicoso do capitão e das suas declarações absurdas, como comprar fuzil no lugar de comida, os bolsonaristas continuam cegos e surdos a tudo o que ele faz ou diz, como se comer fuzil com arroz fosse normal. Enquanto milhões de brasileiros desempregados passam fome, o custo de vida aumenta e a inflação está sem controle, Bolsonaro só pensa em armas, sem nenhuma medida capaz de solucionar os graves problemas que assolam o país. Na semana recém-finda ele recebeu um violão de presente autografado por vários cantores sertanejos, entre eles Amado Batista e Leonardo, mas em vez de pelo menos fazer pose tocando-o, segurou-o como se fosse um fuzil e posou para fotos como se estivesse fazendo disparos. Tudo na mão dele vira arma, até mesmo um instrumento musical. E, ao mesmo tempo, promove um culto no Palácio da Alvorada narrado por um pastor que, eufórico, diz que ele era um “homem de Deus” e seus opositores “homens do diabo”. Como é possível alguém falar em Deus e ao mesmo tempo incentivar a compra e uso de armas? 

O fato é que além da expectativa sobre o dia 7 de setembro, o país vive um verdadeiro caos, assistindo agora perplexo uma estranha mudança no comportamento do ministro Alexandre de Moraes e da própria Corte, que passou a tomar decisões aparentemente destinadas a agradar Bolsonaro. Depois de sistematicamente conceder habeas corpus para  garantir o silêncio de depoentes da CPI da Covid, prejudicando o trabalho da comissão, o Supremo Tribunal Federal barrou a quebra de sigilo do advogado Wassef, homem de confiança de Bolsonaro, e também afastou o delegado da Policia Federal que investigava a interferência do Presidente na corporação. Muita gente começou a se perguntar: o que aconteceu com Alexandre? Medo das ameaças do capitão? Na realidade, o Supremo parece que de repente mudou de rumo. E como a Corte Suprema era a grande esperança de colocação de um freio nas loucuras do Presidente, sobretudo quanto às suas ameaças de golpe, já que não se pode esperar nada do Congresso,  parece que agora o jeito é rezar e pedir a interferência de Deus, não o Deus de Bolsonaro, que abençoa armas e é evocado pelos evangélicos durante um culto no Palácio da Alvorada, mas ao verdadeiro Deus, o Deus de paz, de amor, de justiça, o Deus-Pai. 

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