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Aldo Fornazieri

Professor da Fundação Escola de Sociologia e Política e autor de "Liderança e Poder"

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Brasil no beco: Bolsonaro, centrão e oposição

"A não ser que surja um fato de alta gravidade comprometendo Bolsonaro, as oposições não devem propor o impeachment. Esta tradição golpista, da qual o PT foi vítima, precisa ser refutada pelos partidos progressistas. Se o desgoverno e a destruição do Brasil continuarem levando a um impasse traumático, as oposições têm como alternativa propor a renúncia de Bolsonaro", diz o colunista Aldo Fornazieri

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Os acontecimentos das últimas semanas, incluindo as manifestações do dia 15 em defesa da educação e contra o governo, e as do dia 26, em favor do governo, encaminham o Brasil para um crescente impasse político, para um beco sem saídas. Ao contrário das análises ufanistas de alguns setores de esquerda, é preciso perceber que as manifestações pró Bolsonaro foram significativas e não podem ser menosprezadas. Não foram tão estrondosas a ponto de o governo cantar grande vitória, mas não foram insignificantemente pífias, a ponto de representarem um fracasso. Escamotear a realidade é um jogo perigoso para as oposições. O ufanismo inconsequente já foi causa de muitas derrotas – uma delas, inclusive, a do impeachment que levou ao golpe. Muitos analistas vendem a ilusão, mesmo sem evidências, de que Bolsonaro está prestes a cair, a ser deposto, a renunciar.

As manifestações em apoio ao governo, contudo, não tiram Bolsonaro das cordas. A questão de fundo é que ele não consegue encontrar um caminho que possa garantir a governabilidade. Os problemas são vários. O governo não tem programa e Bolsonaro se recusou construir uma base partidária de apoio permanente no Congresso. A primeira tática adotada consistia na crença de que as bancadas temáticas lhe dariam maioria parlamentar. Esta tática ruiu, pois as bancadas temáticas só se unem na especificidade do tema. No mais, seguem a lógica dos interesses partidários.

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Derrotada a primeira tática, o governo intentou uma segunda, baseada crença de que seria possível construir maiorias pontuais. Isto é: em cada pauta encaminhada ao Congresso o governo construiria uma maioria momentânea, negociando sempre a partir dos interesses do governo. Isto também se mostrou inviável. Assim, o governo viu-se forçado a colocar em marcha a terceira tática: a da pressão pelas redes sociais e pelas ruas, com ataques concentrados sobre o centrão, visando desgastá-lo, emparedá-lo e força-lo a ceder. Esta tática de confronto é de alto risco e vem conduzindo o governo para o isolamento. Isolamento do presidente é a ingovernabilidade e ingovernabilidade é risco de curto circuito, de destampamento da panela de pressão social e política e, no limite, de queda do presidente. 

Até onde irá Bolsonaro com a tática da pressão e da confrontação sobre o Congresso, sobre o centrão? Não se sabe. Na medida em que a crise política se agrava, que o descontentamento popular cresce e que as manifestações de protesto ganham corpo, Bolsonaro poderá ver-se forçado a adotar uma retirada estratégica se conseguir perceber que tem muitos inimigos contra si – inimigos mais poderosos do que ele. Esta retirada estratégica consistiria em ceder ao centrão, promover uma reforma ministerial, trocar seus líderes no Congresso, acertar uma nova agenda com esta possível base. Para que isto se torne factível, Bolsonaro teria que parar de esticar a corda e começar um lento recuo, abrindo negociação. Evidentemente, isto provocaria desencanto na sua base radicalizada, mas poderia salvar o mandato.

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Se não optar pela retirada estratégica resta a Bolsonaro duas outras saídas. A primeira, consiste partir para um tudo ou nada, apostando na radicalização, contanto, inclusive, com a adesão de setores das forças armadas e das polícias militares. Esta possibilidade, embora longe no horizonte, não deve ser descartada. A outra seria a renúncia. Mas para isto, as manifestações dos movimentos sociais e das oposições precisariam ser robustas e o centrão precisaria passar para uma oposição aberta. Embora mais factível do que a primeira, esta possibilidade não é imediata.

Se Bolsonaro se encontra numa situação de risco, o centrão se encontra numa situação ambígua, pouco confortável. Boa parte do centrão ajudou Bolsonaro a se eleger. Com três anos e meio pela frente, o centrão quer espaços de poder e cargos. Por um lado, se sente desconfortavelmente emparedado por Bolsonaro e os bolsonaristas junto às bases eleitorais. Por outro, se compõe com a oposição visando pressionar o governo por espaços e poder. O centrão pode avaliar que Bolsonaro é um caso perdido e que, pela sua personalidade e pelo seu radicalismo, não irá se compor. Neste caso, resta ao centrão articular uma saída traumática buscando a queda de Bolsonaro e uma composição com Hamilton Mourão.

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O centrão pode, ainda, viabilizar um parlamentarismo branco, consolidando uma maioria em torno de Rodrigo Maia e buscando ditar a pauta do Congresso, ora negociando com o governo, ora se compondo com a oposição. Buscar-se-ia uma estabilidade tensa com o governo, com o objetivo de evitar um curto-circuito e uma solução traumática.

A oposição, por sua vez, não apresenta uma estratégia definida para enfrentar este agravamento da crise política e das tensões sociais. No Congresso, a iniciativa está com o centrão e a oposição parece ser sua caudatária. Esse mesmo centrão que amanhã pode se compor com o governo. O PT não conseguiu transformar o “Lula Livre” num movimento de massas e as oposições, no seu conjunto, também não criaram grandes mobilizações contra s reforma da Previdência. 

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Comparar as manifestações dos estudantes e professores do dia 15 com as manifestações bolsonaristas do dia 26 é pouco produtivo. As manifestações do dia 15 foram impulsionadas pelos cortes das verbas do ensino e da pesquisa e tiveram como mote principal a defesa da educação. Foram lideradas por um setor da sociedade institucionalmente organizado: professores e estudantes. Já, as manifestações do dia 26 tiveram uma natureza mais claramente política, de defesa do governo e de sua pauta e de ataque ao Congresso e ao STF. Assim, as duas manifestações são pouco comparáveis.

Os partidos de oposição, até agora, não conseguiram mostrar força de rua. Perderam as ruas em 2015 e até agora não as recuperaram. Precisam perceber que a extrema-direita que está aí não é tímida em ocupar as ruas. As manifestações do dia 15 não podem ser contabilizadas como atos dos partidos de oposição. Da mesma forma que esses partidos não conseguem mostrar uma consistência mobilizadora, não conseguem apresentar uma pauta unificada, que expresse uma estratégia de oposição visível e identificável aos olhos da sociedade. Uma pauta que conseguisse organizar as lutas, apontar um norte, uma direção e um sentido. Sem esta capacidade, o que resta aos partidos de oposição consiste em se colocarem a reboque dos movimentos sociais, estes sim capazes de ganhar as ruas. 

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A não ser que surja um fato de alta gravidade comprometendo Bolsonaro, as oposições não devem propor o impeachment. Esta tradição golpista, da qual o PT foi vítima, precisa ser refutada pelos partidos progressistas. Se o desgoverno e a destruição do Brasil continuarem levando a um impasse traumático, as oposições têm como alternativa propor a renúncia de Bolsonaro. Mas isto só seria factível no bojo de um grande movimento de massas, no qual o povo nas ruas seria o protagonista dessa consigna. Neste momento isto ainda não é visível em um horizonte próximo. Por isso, as oposições deveriam buscar ganhar consistência e robustez na sociedade com uma plataforma unificada de lutas e de proposições, mostrando que é alternativa de poder. As oposições deveriam agregar força social e política, seja para se opor à agenda do governo Bolsonaro ou ao arranjo de forças que eventualmente vier a substituí-lo. 

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