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Marcia Cherubin

Andreense, cronista, cantora e compositora da música popular brasileira

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Brincando de faz de conta, pra relaxar

Faz de conta que a gente não sabe que fazer das favelas um porão invisível é a ponte mais curta pra alimentar o sistema do poder do tráfico, nos gabinetes e escritórios do crime em Brasília, no Rio e em condomínios de luxo a beira da praia.

Polícia racista (Foto: Reprodução)
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Faz de conta que eu não sei que o controle do tráfico está na mão das milícias e não nas mãos dos pretos das periferias.

Faz de conta que a gente não sabe que fazer das favelas um porão invisível é a ponte mais curta pra alimentar o sistema do poder do tráfico, nos gabinetes e escritórios do crime em Brasília, no Rio e em condomínios de luxo a beira da praia.

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Faz de conta que os nove meninos morreram, porque não eram “cidadãos do bem”, nem bem criados - e como adolescentes pobres desapropriados de atenção - contaram mentirinhas pro papai e pra mamãe, dizendo que iam comer algodão doce e foram pro baile Funk – um caminho do mal.

Faz de conta que a culpa é dos pancadões – único lazer da periferia - sem estrutura, sem organização, porque não há interesse em se acabar ou organizar um “evento do mal e demoníaco” que alimenta as chagas do Estado e eleva o poder das milícias – grandes personalidades políticas do meio.

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Faz de conta que a gente não sabe que os nove meninos foram pisoteados e morreram pelos brilhos das medalhas grudadas no peito dos que abastecem e movem a engrenagem do tráfico e que estão longe de Paraisópolis, mas vivos dentro dos pancadões e em cada batida pulsante do Funk.

Faz de conta que a gente não sabe que os meninos foram pisoteados e mortos em nome de todas as homenagens e condecorações a ilustres celebridades do crime, com respaldo político, acompanhado de churrasco, afeto e pancadões de luxo.

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Que foram pisoteados e mortos porque a inclusão social dá lugar à inclusão de bandidos engravatados que brincam de quebra-cabeça com seus 117 fuzis no meio de suas salas.

Que foram pisoteados e mortos pelas forças paralelas que correm pela corrente sanguínea do Estado.

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Que foram pisoteados e mortos pela extensão das facções criminosas cujo comando não são dos pretinhos, nem dos que fingiram ir comer algodão doce ou dar uma transada em meio à multidão.

O sistema pisoteou os meninos.

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Os sorrisos de políticos em fotos com milicianos do narcotráfico pisotearam os meninos.

O silêncio escondido da morte de Marielle pisoteou os meninos.

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A promoção dos pancadões pelos tentáculos das milícias, necessária para elevar as hierarquias do crime pisotearam os meninos.

Nós ajudamos a pisotear quando não entendemos tudo isso e achamos que um pancadão e o Funk, isolados de um contexto, matam.

Nós ajudamos a pisotear os meninos quando acreditamos que o suco concentrado do crime está nas mãos dos 45.000 habilitantes de Paraisópolis e não nas classes médias altas que comandam e assistem de binóculos o estrangulamento diário da periferia em nome do poder.

Nós pisoteamos os meninos quando não entendemos quem está por trás de tudo isso, sob a manta da invisibilidade do Harry Potter, mas que já começa a ser descoberta pelas pontas, pelos meios e pelos cantos.

Funk-se, pra quem não entende tudo isso!

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