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Luna Zarattini

Cientista política de formação e feminista com convicção. É educadora popular e coordena a rede de cursinhos populares Elza Soares

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Bruno Covas, você subestima o coronavírus

O Prefeito Bruno Covas ainda deve muitas respostas à população paulistana. Seguiremos cobrando para que as vidas de todos os cidadãos sejam valorizadas. A vida das pessoas deve prevalecer sobre os interesses privados

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Em todo mundo, cidades com o mesmo tamanho de São Paulo lutam contra o surto que infecta milhares de pessoas. Nesta terça-feira, 17, no Estado de São Paulo já são mais de 300 exames que testaram positivo para o coronavírus e 1200 suspeitos. O número de infectados não para de crescer e com certeza é muito maior, devido à subnotificação sobretudo entre a população mais pobre. 

O prefeito Bruno Covas decretou o estado de emergência com medidas insuficientes e com atraso, coincidindo com a primeira morte na cidade em decorrência do vírus. Na manhã de terça-feira (17) um homem de 62 anos, que fazia parte do grupo de risco, faleceu. O caso gera um alerta para toda a cidade. 

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Mas é preciso enxergar mais a fundo. Uma minoria dos paulistanos consegue hoje exercer de fato a quarentena. Essa mesma minoria pode fazer “home office”, evita aglomerações, pede comida e remédios levados por trabalhadores de aplicativos de entrega, e coloca até a babá em quarentena dentro da própria casa para cuidar dos filhos.

Existe outro lado da cidade. 

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A maioria que ainda precisa sair de casa para trabalhar enfrentando o transporte público lotado. As trabalhadoras e trabalhadores informais, autônomos, terceirizados, motoristas de Uber, entregadores de Rappi e tantos outros empregados precarizados. As mães e os pais que não têm com quem deixar os filhos. As crianças que dependem da merenda escolar para se alimentar durante o dia. 

A maioriada população não está gastando seu tempo lendo sobre como driblar o tédio na quarentena. Precisa de respostas concretas do poder público para dúvidas ainda nebulosas. 

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No âmbito da educação, o fechamento de creches e escolas deixa mães e pais que precisam sair para trabalhar sem saber o que fazer. A primeira opção, a de deixar com os avós, não é recomendada. Isso porque as crianças, ainda que não manifestem sintomas, transmitem o vírus, enquanto a população acima de 60 anos é o principal grupo de risco.

Segundo entrevista dada pelo Secretário Municipal da Educação, Bruno Caetano, na última segunda-feira (16) ao programa Bom Dia São Paulo da TV Globo, há a preocupação de manter creches abertas para receber filhos de servidores da Saúde e da Segurança Pública. Mas o decreto de Covas não diz nada sobre isso. 

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Outra preocupação é o que fazer com a merenda escolar. Para muitas famílias, a escola é a única chance das crianças ou adolescentes receberem refeições de qualidade ao longo do dia. A Prefeitura de São Paulo mesmo já tendo decretado o cancelamento das aulas, não diz como garantirá a alimentação para os alunos. Não sabemos se as escolas continuarão servindo merenda na própria escola — opção que seria uma irresponsabilidade do ponto de vista da saúde pública —, se haverá entrega de cestas básicas para as famílias ou se a Prefeitura irá criar outro “voucher” para as famílias, como no desastroso caso dos uniformes escolares.

 Os estudantes estão sem os uniformes desde o início das aulas, por negligência da prefeitura, que terceirizou para as famílias uma responsabilidade que deveria ser do Estado. 

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A Secretaria da Educação também prometeu aulas à distância. Dizem estudar como ampliar o acesso a um aplicativo com vídeo aulas, mas, novamente, o decreto de Covas não dá respostas. Para além disso, o Secretário ignora que muitos não têm acesso a internet e estrutura que permita acompanhar as aulas. 

Enquanto isso, centenas de famílias ficam na berlinda e as crianças, desassistidas. O vírus chegou ao país em tempos de grave recessão econômica e aumento do subemprego, principalmente na cidade de São Paulo. O isolamento não é uma possibilidade hoje para grande parte dos trabalhadores desprotegidos e sem qualquer amparo. 

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Na Grande São Paulo, 30% da renda das famílias vem do trabalho informal. Não se fala em nenhuma forma de aporte econômico para os cidadãos paulistanos, especialmente aos desempregados e trabalhadores informais. Se tivéssemos, na cidade de São Paulo, um programa de Renda Básica de Cidadania, como historicamente defende Eduardo Suplicy, não precisaríamos discutir esse problema. Uma renda mínima, ainda que temporária, é fundamental como parte de um plano emergencial para a cidade de São Paulo frente ao avanço da doença. 

Outra questão, é o que fazer com a população em situação de rua. Segundo o Padre Júlio Lancellotti, em entrevista ao portal G1, das milhares de pessoas que atualmente moram na rua ou em albergues, mais de 7 mil estão no grupo de risco. Muitos têm mais de 60 anos ou são pessoas imunodeprimidas. 

Até agora, a única solução de contenção veio da Arquidiocese de São Paulo, que está oferecendo uma casa construída por Dom Paulo Evaristo Arns para acolher o povo em situação de rua com suspeitas de coronavírus. Os casos crescem exponencialmente a cada dia e podem passar, em breve, o número de leitos disponíveis no SUS, o Sistema Único de Saúde. 

Além disso, esses leitos são mal distribuídos territorialmente. Com maior concentração de vagas no centro e escassez na periferia. O poder público deve estar disposto a tomar quaisquer medidas para salvar vidas dos cidadãos. Devemos garantir a obrigatoriedade de oferecimento de tratamento gratuito na rede pública e privada. 

Na Espanha, por exemplo, por conta do surto do coronavírus, o governo estatizou os hospitais privados, agora obrigados a atender a população que não pode pagar pelo serviço particular de saúde. 

O Prefeito Bruno Covas ainda deve muitas respostas à população paulistana. Seguiremos cobrando para que as vidas de todos os cidadãos sejam valorizadas. A vida das pessoas deve prevalecer sobre os interesses privados. São em momentos como esses que fica evidente que saúde é direito e não mercadoria. 

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